Acabe com o seu medo! 

O projeto Dirija Sua Própria Vida Sem Medo surgiu, em março de 2003, a partir do trabalho de um grupo de alunos de pós-graduação em marketing da Universidade Paulista (Unip). 

O programa é gratuito e oferece sessões de terapia em grupo com o objetivo de ajudar pessoas que têm medo dirigir. 

Segundo o coordenador do projeto Sílvio Lima, participaram da primeira turma 746 pessoas e o índice de recuperação entre eles foi de 90%. A segunda turma do Dirija Sua Própria Vida Sem Medo teve início ontem na unidade Santana da Unip, na Zona Norte. Os 1.200 inscritos, que aguardavam na lista de espera desde o começo do ano, assistiram a palestra com psicólogos e especialistas no assunto. 

Ao longo do curso, que tem a duração de três meses, os participantes são divididos em grupos que se reúnem uma vez por semana em sessões de duas horas. 

A orientadora é a psicóloga Olga Inês Tessari, que durante o programa aborda com os alunos os sintomas da fobia, as causas e como combatê-la. 

Ponta do iceberg 

Para a psicóloga o medo de dirigir é apenas a ponta de um iceberg, que deixa claro a necessidade de procurar atendimento especializado. Após o programa eles passam a se respeitar, lidam melhor com seus erros e deixam de se torturar por conta disso, diz. Para perder o medo do volante o candidato aprende a apontar suas qualidades e defeitos, propiciando o autoconhecimento. Além da parte teórica, ele ainda tem aulas de direção. 

Entre os inscritos, a telefonista Maria Valdice Silva, de 49 anos, era uma das mais motivadas. Já tentei vencer este medo na auto-escola, mas os instrutores não estão preparados para isso, explica. 

Maria Valdice tirou carteira de habilitação há cinco anos, mas, mesmo com dois automóveis na garagem, ela não se sente pronta para enfrentar o trânsito. Sempre acho que acontecerá algum acidente, virei até motivo de chacota em casa, lembra a telefonista, que se inscreveu sem o conhecimento da família. Quero chegar em casa dirigindo e pegar todos de surpresa, brinca. 

Medo de dirigir leva paulistano a fazer terapia em grupo 
por LUCIANA ACKERMANN 

Perfeccionismo e preocupação com a opinião dos outros são fatores para o bloqueio. Buscar auxílio psicológico dá bons resultados em 87% dos casos 

Bastava pegar as chaves do carro, para que a dona-de-casa Edenize Luna de Faria, de 56 anos, passasse a suar frio, sentir moleza nas pernas, palpitações, tremedeira e falta de ar. Edenize viveu durante 22 anos com medo de dirigir. Ela fazia parte do grupo de pessoas que sentia pavor diante do volante. Hoje, integra parcela de paulistanos que venceu o medo fazendo terapia em grupo. 

Segundo Neuza Corassa, psicóloga e fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medo (CPEM), de Curitiba, e autora do livro Vença o Medo de Dirigir, que há dez anos dedica-se ao tema, 80% das pessoas que não conseguem dirigir e procuram tratamento são mulheres entre 30 e 45 anos. Buscar auxílio psicológico é a saída mais promissora nesse caso: 87% das pessoas que procuram o tratamento superam o trauma em quatro meses, diz. 

Neuza ainda revela o perfil de quem não consegue se sentar ao volante: são pessoas extremamente autocríticas, responsáveis, não aceitam errar e têm horror de pensar na possibilidade de machucar alguém. É processo cercado por muito sofrimento, a pessoa passa a se desabonar. Aí vem a baixa autoestima e a insegurança. 

Apesar de nunca ter provocado um acidente, a dona-de-casa Edenize disse que sentia um verdadeiro pavor ao pensar que poderia atropelar e machucar alguém. Acredito que o sentimento de culpa me bloqueou, mas estou conseguindo aos poucos vencer essa barreira, diz entusiasmada, depois que passou pela primeira edição do Programa Dirija Sua Própria Vida Sem Medo, realizado em março em parceria pela Universidade Paulista (Unip) e a Dutra Veículos. 

Após dois meses participando do programa gratuito, Edenize conseguiu vencer a barreira do medo. Ela contou que tirou a carteira de motorista aos 32 anos. Dirigiu durante dois anos sem nenhum problema, mas, após deixar o carro morrer na entrada da garagem de casa, passou a ter fobia. Deixei meu Fusca atravessado no meio da rua depois que ele morreu, peguei cisma. Sempre tive vontade de fazer terapia, mas sempre adiava. Depois de 22 anos sem guiar, voltou ao volante: Sempre dirijo com alguém ao lado, mas já me sinto uma vitoriosa, diz. 

Outra motorista que venceu o trauma é a produtora Mônica Cristina Victor, de 29 anos. Ela disse que apesar de ter habilitação, não se sentia segura para sair às ruas. Tinha tremedeira, insônia, taquicardia e transpiração. Para ela, a falta de incentivo e a preocupação com as críticas fizeram com que dirigir fosse um pesadelo. Hoje, consegue dirigir sozinha, mas ainda sente frio na barriga nas subidas. A primeira viagem que fiz foi para Aparecida. Fiquei emocionada. Hoje, não ligo para o que os outros pensam: aprendi no curso e minha autoestima aumentou. 

Serviço - Para obter ajuda, contate: 

1) Dra Olga Inês Tessari : (11) 2605-6790 – www.ajudaemocional.com 
2) Ambulatório de Ansiedade do HC. Tel: 3069-6988. Ou pelo site: www.amban.org.br 

ATENÇÃO!!!O trabalho em parceria com a concessionária encerrou-se no final de 2006. A Dra Olga Tessari continua realizando o mesmo trabalho, como sempre fez, em seu consultório particular e aguarda novos patrocinadores para levar adiante este projeto de sucesso. 

Matéria publicada no Diário de São Paulo por Denílson Oliveira em 10/08/2003

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