Olga Tessari

Terapia de Casal - quando o amor vai para o divã

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

"Os conflitos costumam ocorrer porque se idealiza o parceiro, criando a expectativa de comportamentos e atitudes que o outro não tem" 
Olga Tessari

Conflitos na relação todo casal tem. 

Mas em alguns casos os conflitos são tão intensos que alguns optam por buscar ajuda profissional e tentar encontrar na terapia de casal alguma saída para os problemas do relacionamento. 

Segundo especialistas nesse tipo de terapia, em média, os casais costumam procurar a terapia de casal em último caso, após cerca de seis anos de brigas e discussões. Pode ser tarde demais. 

"A terapia de casal deveria ser a primeira opção para resolver os conflitos, evitando o desgaste desnecessário da relação", afirma a psicóloga clínica e psicoterapeuta Olga Tessari. 

Especialista em terapia de casal e familiar, Olga, que também é responsável pelo site http://www.ajudaemocional.com, fala em entrevista ao blog sobre como a terapia pode ajudar os casais e alerta: "ainda há uma forte resistência masculina de buscar ajuda para a relação, culpa do machismo". 

Quando um casal precisa de terapia? 
Olga Tessari:
Sempre que o casal estiver em conflito e não souber resolvê-lo de forma positiva e sem sofrimento - isso vale para pelo menos uma das partes do casal que está sofrendo. Infelizmente, a maioria dos casais busca a terapia como última alternativa, quando na verdade esta deveria ser a primeira opção para resolver seus conflitos, evitando o desgaste desnecessário da relação nas tentativas frustradas de resolução do problema. 

Surte diferentes efeitos na relação fazer a terapia sozinho e com o companheiro? 
Olga Tessari:
Depende... se o casal está em conflito, o problema de ambos deve ser resolvido conjuntamente. Agora, se um dos dois tem problemas e, por conta disso, a sua problemática pessoal interfere na vida do casal, então ele precisa fazer a terapia sozinho. É comum também a alternância entre atendimento individual e do casal: quando o casal em conjunto não consegue estabelecer um diálogo produtivo na terapia, quando eles usam o tempo para agressões mútuas que não levam a nada, apenas a um desgaste ainda maior, gerando mais mágoas e colaborando para o distanciamento do casal, é comum fazer o atendimento em separado. 

Muitas pessoas dizem que terapia de casal é "forçar a barra", tenta prolongar algo que já chegou ao fim. O que a senhora diria a essas pessoas? 
Olga Tessari:
Como eu disse antes, a busca da terapia costuma ser a última alternativa, depois de muito sofrimento, mágoas, agressões... se o casal tivesse buscado a terapia no momento em que percebesse a sua tentativa frustrada de resolver seus conflitos, certamente a terapia de casal teria melhores resultados. De qualquer forma, nem sempre a terapia de casal colabora para o fim da relação, ao contrário, colabora para que o casal possa resolver seus conflitos e seguir juntos com muito diálogo e respeito entre si. Em muitos casos, a relação melhora consideravelmente com a terapia. 

Quais são os principais conflitos que levam um casal à terapia? 
Olga Tessari:
Diferenças de opinião, gostos, valores, usos e costumes. É preciso entender que um casal é formado por duas pessoas diferentes, que vêm de famílias com hábitos e costumes diferentes: por isso é necessário que ambos estabeleçam acordos o tempo todo para poderem conviverem bem. Infelizmente, observo que, na maioria das vezes, apenas uma das partes costuma ceder, mesmo a contragosto, somente para evitar brigas, conflitos e confusões: com o tempo, certamente isso se tornará um problema, virá à tona através de cobranças e será um fator de conflito. Em geral, os conflitos acontecem porque um deles não consegue aceitar o outro como ele é, idealiza o seu parceiro, criando a expectativa de comportamentos e atitudes que o outro não tem. 

A terapia é restrita ao consultório ou são programadas ações para todos os dias? 
Olga Tessari:
 Na psicologia há várias correntes de atuação e as atividades vão depender da linha de trabalho do psicólogo. Digamos que há vários caminhos para se chegar ao mesmo objetivo. Em geral, pede-se ao casal que deixe para resolver seus conflitos no momento da terapia, respeitando-se fora dela e evitando de comentar o que se passa na terapia. 

Discutir a relação é um modo terapêutico de solucionar os problemas? 
Olga Tessari:
Discutir a relação juntamente com um profissional psicólogo é a forma mais adequada de solucionar os problemas! Em geral, quando o casal discute a sua relação em casa, apenas uma das partes é que quer fazer prevalecer ou impor a sua opinião, não dando condições para a outra parte debater o tema ou falar o que pensa a respeito. É comum as mulheres, ao invés de discutirem a relação, somente reclamarem das atitudes de seus companheiros, ditando normas e comportamentos que elas esperam deles, não dando abertura para que eles emitam a sua opinião e/ou a sua forma de encarar o problema que elas apresentam: esse é o motivo básico que leva os homens a fugir desse momento em que elas os procuram para "discutir" a relação. 

Há indivíduos que debatem sua vida amorosa com os amigos e não com o companheiro, agindo de acordo com os conselhos dos amigos. Pode ser perigoso ouvir esses conselhos? 
Olga Tessari:
Cada pessoa tem a sua visão de mundo, seus valores, suas crenças, sua visão de certo ou de errado. Quando um amigo aconselha, na verdade ele está dizendo exatamente o que ele faria se estivesse diante da situação ou do problema o que pode não ser a melhor solução para quem pede o conselho: vale aqui o velho ditado que diz que o que é bom para mim não necessariamente é bom para você e vice-versa. Há amigos que costumam exigir que a solução apresentada por eles seja acatada e costumam questionar se sua solução não é seguida, além de, muitas vezes, afastarem-se do aconselhado se ele não seguir as soluções indicadas. 

Quem não se sente satisfeito com a relação e quer fazer terapia, mas o parceiro não quer deve insistir? 
Olga Tessari:
O que eu observo é uma grande resistência masculina a buscar ajuda, ainda baseada na premissa de que macho que é macho resolve tudo sozinho sem precisar de ninguém. É comum a mulher buscar a terapia sozinha e, com o passar do tempo, o próprio homem vir também até para entender o porquê das mudanças de sua companheira. O parceiro pode e deve insistir para o casal fazer terapia em conjunto, mas, em caso de recusa, respeitar a decisão da outra parte se ela não quiser fazer a terapia, buscando a terapia individual. Não faça como muitas pessoas que se recusam a buscar a ajuda individual se a outra parte não deseja fazer o mesmo! 

Para encerrar, uma das conclusões da terapia de casal pode ser que aquele casal deve se separar ou o objetivo é sempre reconciliar? 
Olga Tessari:
O objetivo da terapia é buscar sempre o que é o melhor para o casal. E o resultado vai depender de cada casal: se eles buscam a reconciliação, trabalharemos nesse sentido, caso contrário, se eles buscam uma separação de forma amigável, seguiremos por esse caminho. Vale dizer que eu mesma já atendi muitos casais que, num primeiro momento acreditavam que a relação tinha chegado ao fim e, com a evolução da terapia, decidiram apostar novamente na relação e são felizes juntos até hoje! Infelizmente, devido ao fato do casal buscar a terapia somente depois de muitas mágoas e sofrimento, fica mesmo difícil a reconciliação: é por isso que existe o senso comum de que terapia de casal serve apenas para se separar, o que não é uma verdade. Buscar ajuda profissional logo que o problema se instala é o caminho para que o casal mantenha-se unido e feliz pela vida afora. 

Matéria publicada no Blog "Eu só queria um café" de Ruleandson do Carmo 

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