Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Mulher continua dependente emocionalmente do homem, diz psicóloga
A psicóloga Olga Tessari também fala sobre o tema mulheres solteiras,
abordando as fissuras no relacionamento homem-mulher, provocados pelas
transformações na sociedade, em virtude do avanço do "sexo frágil".
Confira os principais trechos da conversa feita por correio eletrônico.
Site Padre Marcelo Rossi– A que se deve o aumento de mulheres
solteiras?
Olga Tessari– Até há pouco tempo atrás, o casamento era, digamos
assim, uma exigência, uma imposição social: nenhuma mulher queria ficar
para "titia", ser chamada de solteirona, sentir-se "marginalizada" no seu
meio. Além da pressão social, um dos motivos fortes para o casamento era
a necessidade de sobrevivência da mulher: ela buscava alguém que a pudesse
sustentar e, em troca, cuidava da casa, do marido e dos filhos, era a "rainha
do lar", o trabalho para ela só podia ser um hobby, um passatempo, o salário
baixo não permitia o seu próprio sustento. Atualmente, é possível o sustento
próprio com o salário recebido, embora pesquisas mostrem que, em muitas
empresas, o salário da mulher ainda costuma ser mais baixo do que o do
homem na mesma função.
Site Padre Marcelo Rossi– Então, hoje essa pressão diminuiu?
Olga Tessari– Se até há pouco tempo atrás as mulheres sentiam-se
pressionadas a casar, hoje em dia elas tem a opção de permanecerem solteiras
se assim o desejarem, embora no seu íntimo ainda sonhem com o casamento
e com o "príncipe encantado" (no comércio, o segmento voltado para noivas
continua com um alto faturamento). A mulher solteira de hoje está, aos
poucos, aprendendo a valorizar-se como pessoa e, como tem condições de
prover o seu próprio sustento, pode optar por ficar solteira. O casamento
para ela, hoje em dia, tem que ser com uma pessoa que ela ame acima de
tudo, que a respeite como pessoa e que queira dividir responsabilidades
e obrigações, tornando-se seu cúmplice.
Site Padre Marcelo Rossi– Essa independência pode assustar os
homens e afastá-los das mulheres? Isso pode dificultar numa tentativa de
relacionamento?
Olga Tessari– Os homens estão assustados justamente por não saberem
como lidar com esta nova mulher, eles ainda mantém o ranço machista,
cujo modelo de mulher é a subserviente, certamente o modelo que sua mãe
lhes passou: infelizmente as mães continuam a educar os seus filhos homens
de forma diferenciada das filhas mulheres. É claro que eles se assustam
com esta mulher independente, segura de si, que não busca proteção, mas
cumplicidade, pois não sabem como agir diante desta nova mulher. Homens
tímidos têm mais dificuldade de se aproximar delas, assim como o machista
vê nela uma mulher "fácil", com a qual não deve ter compromisso (mais uma
vez o ranço machista de que a mulher para casar deve ser subserviente,
pura e casta).
Site Padre Marcelo Rossi– Muitas são chefes de família, sustentando
a casa e os filhos, substituindo o que antes era papel do homem. O
que representa isso e qual a consequência para os filhos dessa mudança?
Olga Tessari– As mulheres, hoje em dia, não se sujeitam mais
à "ditadura masculina" do marido, embora continuem educando seus filhos
homens da mesma forma. Quem mais sofre com a falta do pai é o menino, porque
ele necessita de um modelo masculino para seguir, embora todos os filhos
(meninos ou meninas) sintam a falta da figura masculina do pai. A quantidade
de obrigações da mulher, mantendo os dois papéis, a sobrecarrega em demasia,
não há muito tempo disponível para conviver com os filhos, trocar ideias,
saber do dia a dia deles. Além disso, por não poder estar mais ao lado
dos filhos, a mãe acaba por satisfazer as vontades deles, numa tentativa
de compensar a falta de tempo, para diminuir sua culpa, o que pode propiciar
a formação de jovens sem limites ou com limites pouco definidos, jovens
rebeldes.
Site Padre Marcelo Rossi– Ainda há muita resistência machista?
Como superar isso?
Olga Tessari– A resistência machista ainda existe por causa da
educação dada aos homens. E é esta educação que faz com que eles ainda
continuem "machistas", dependentes das mulheres nos cuidados da casa, de
suas roupas e até de sua alimentação. Este é um dos motivos porque os homens
não conseguem ainda ficar sozinhos: quando o casamento acaba, eles logo
procuram um novo casamento ou contratam uma espécie de governanta, uma
"faz tudo" para substituir a esposa.
Site Padre Marcelo Rossi– Para a doutora, qual barreira ainda
falta ser transposta para a mulher conquistar sua independência plena?
Olga Tessari– A mulher ainda continua dependente emocionalmente do
homem, ela ainda deseja sentir-se protegida por ele, deixa sua vida
de lado por um homem que ama. Ao se apaixonar, ela deve evitar o impulso
inicial de largar tudo por causa dele, para ficar somente com ele, vivendo
em função dele. O seu parceiro deve aceitá-la como ela é, ela deve manter
a sua vida pessoal, seus amigos, seu trabalho e aproximar seu parceiro
dos seus amigos, assim como fazer parte do grupo de amigos dele. Essa é
a fórmula para a manutenção de um casamento até que a morte os separe.
E, se por acaso o casamento não der certo, ela pode sair dele de cabeça
erguida, pois é capaz de cuidar de si mesma, sustentar-se, vai continuar
o convívio com seus amigos e trabalhando/crescendo em sua carreira. O fato
de deixar sua vida de lado e viver em função do homem amado é um dos fortes
motivos que levam as mulheres a permanecerem sozinhas depois de um relacionamento
falido. Elas aprendem, muitas vezes a duras penas, a importância de ter
sua vida própria e de que um relacionamento deve vir para somar, compartilhar,
não para anular-se!
Matéria publicada no site do Padre Marcelo por Rodrigo Herrero em 07/04/2006
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