Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Interesse excessivo pode sinalizar sentimento de posse ou obsessão
Vocês namoraram por algum tempo. Mas não deu certo. Cada um foi para
o seu lado e pronto, você não quer nem mais saber dele. Será?
Para muitas pessoas, não é assim que a banda toca. Mesmo após o fim do
relacionamento, continuam ligadas à vida de ex-parceiros. Seja por
amigos em comum ou pela internet (os scraps reveladores do Orkut ajudam
bastante), tem gente que não poupa esforços para saber a quantas anda a
vida do ex-namorado ou namorada - se está namorando sério, se está sofrendo
com o fim do relacionamento ou se caiu na farra.
A curiosidade faz parte da natureza humana. 'Se uma pessoa pertenceu à
sua vida, é normal querer saber como ela está, nem que seja apenas
para matar a curiosidade', afirma a psicóloga Olga Inês Tessari.
'Eu não tenho neura com nenhum ex. Mas, confesso: dou sempre uma
geral no Orkut. Acho graça, vejo quem entrou, quem saiu, quem está comprometido.
E não resisto às fotos', conta a gerente de marketing Viviane Toledo, 28.
A curiosidade - como o ciúme - é um sentimento que poucos admitem
ter. Porém, é preciso saber dosá-la, para que não se torne sinônimo de
perseguição, controle e invasão de privacidade, ao invés de atenção, cuidado
e amor.
A estudante de Comunicação Social, Kênia Magalhães da Silva, 21,
conhece essa medida certa. Os recados de uma certa amiga indiscreta na
página do Orkut de Vladimir foram a razão para que Kênia terminasse o relacionamento
com o rapaz. 'Eu me aborrecia muito com as coisas que aquela menina escrevia.
Apesar de eu confiar nele, quando dizia que ela era só uma amiga, eu via
que ela tinha segundas intenções e não gostava nada daquela história',
conta.
A separação não durou muito. Após duas semanas o casal reatou. 'Nesse
tempo em que estávamos separados eu sempre checava o Orkut dele para ver
o que andava fazendo. Às vezes, eu acessava sua página por intermédio do
Orkut de amigas minhas para que o meu nome não fosse registrado como um
dos cinco últimos visitantes dele. Mas como ele não é bobo via os nomes
das minhas amigas e sabia que na realidade era eu. Foi o suficiente para
nós percebemos que, apesar de separados, continuávamos no coração um do
outro', recorda.
Adepta da máxima 'quem ama, cuida', ela não considera a pesquisa como invasão
de privacidade. 'É diferente porque ele era uma pessoa que tinha uma ligação
muito forte comigo e não um desconhecido ao qual eu estivesse investigando.
Não concordo com pessoas que usam o Orkut ou qualquer outro método para
bisbilhotar a vida dos outros', diz Kênia, que continua com o hábito de
dar uma espiadinha na página do namorado. 'Só para garantir, afinal eu
amo muito ele e não quero perdê-lo', explica.
Curiosidade tem limite
Nem sempre é a simples curiosidade que provoca essa sede por informações.
O interesse excessivo em saber sobre a vida do ex-parceiro pode indicar
um desejo velado de reatar o relacionamento, um sentimento de posse, ou,
pior, caracterizar uma obsessão. 'Aí é hora de procurar ajuda psicológica
para que se aprenda a colocar um ponto final no relacionamento, que, na
verdade, já acabou', afirma a psicóloga Olga Inês Tessari.
Mas não é tão fácil reconhecer esse momento de pedir ajuda. A economista
Érica Lopes, 32, custou a perceber que gastava tempo demais vigiando o
ex-noivo. 'A ficha caiu quando soube que ele ia casar. Eu vivia observando,
rastreando, provocando encontros, monitorando Orkut. Enquanto isso, ele
vivia de verdade, até se apaixonar e marcar casamento. Quando soube, fiquei
mal. Notei que eu não ia para frente. Percebi que a forma que eu tinha
de continuar com ele era furada', avalia.
A curiosidade é natural, já a investigação, não. Se faz esforço para
conseguir certas informações, cuidado: pode ser um indício de que esteja
perdendo tempo demais com o passado.
Matéria publicada no Amazônia Jornal em 2005
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