Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Inveja?
Atire a primeira bolsa quem nunca sentiu uma invejinha básica de uma amiga,
de uma colega de escola ou de trabalho, de uma bonitona que estava circulando
em uma festa, enfim, de alguma mulher que tinha um "quê" a mais. Sim, nós
somos naturalmente competitivas. Gostamos de chamar mais atenção, ser mais
inteligentes, mais bonitas, mais bem-vestidas e mais espertas do que as
outras.
Começa lá na infância, quando queremos ter uma boneca mais legal do que
a da nossa amiguinha, passa pela adolescência, quando queremos nos
destacar no meio da turma, e continua pela idade adulta, quando disputamos
com outras mulheres os homens disponíveis, uma vaga de emprego, uma promoção
no trabalho e até um corpo perfeito. Ou seja, queremos ser as melhores
em tudo. Mas até que ponto isso pode ser saudável? Conversamos com mulheres
e psicólogas, que falaram para a gente do lado bom e do lado ruim dessa
curiosa faceta feminina.
"O que eu acho mais interessante dessa coisa da competitividade feminina
é que a mulher faz tudo de forma velada, enquanto os homens declaram guerra
abertamente", fala a advogada Juliana Dias. Ela conta que se afastou de
uma colega de trabalho, de quem era amiga, por conta disso. "Notei que,
além de ela ter uma certa inveja do relacionamento que eu tinha com meu
namorado, pois o relacionamento dela vivia aos trancos e barrancos, ela
estava começando a me imitar. Passou a se vestir igual a mim, a usar os
mesmos tipos de acessórios e até mudou a cor do cabelo, que ficou parecida
com a do meu. Resolvi me afastar dela quando meu relacionamento acabou
e eu a vi sorrir disfarçadamente quando dei a notícia a ela", conta Juliana.
A história, porém, não parou por aí. Ao ver que Juliana começava
a se aproximar mais de um determinado colega, a ex-amiga resolveu agir.
"Ela passou a tentar chamar a atenção dele também. Peguei-a várias vezes
olhando para mim enquanto falava com ele. O detalhe é que ela estava namorando.
O que ela queria era conseguir as mesmas coisas que eu", diz.
Rivalidade x competitividade
Segundo a psicóloga Olga Tessari, faz parte da natureza humana querer
ser o melhor, o mais bonito, aquela pessoa que se destaca no meio
da multidão. "A competitividade feminina está ligada à cultura. Ela sempre
existiu, pois das mulheres sempre é exigido o máximo: tem que ser boa como
dona-de-casa, mãe, esposa, profissional, em tudo. Então, nada mais ´natural´
do que elas competirem entre si a respeito de quem é a melhor, seja em
que quesito for", afirma. Para ela, a competição é saudável, porque faz
com que a mulher melhore a si mesma para se destacar entre as outras.
Já a rivalidade, quando surge, traz consigo o sofrimento, o ciúme,
a inveja, a irritação, a diminuição da autoestima – principalmente diante
de uma vitória da rival. Com isso, ocorre uma mudança de atitude. "A depressão
leva a mulher a ter comportamentos fora do comum e exacerbados, como gastos
exagerados ou compulsivos para poder estar à altura da outra ou mesmo superá-la;
fazer jogos, alianças, acordos e estratégias; ser dissimulada. Isso geralmente
acontece com mulheres que se sentem inseguras com relação ao seu corpo
ou quanto à sua capacidade intelectual", ressalta a Dra. Olga Tessari.
A psicóloga Silvana Martine tem uma visão parecida. Ela acredita
que competir em qualquer área é seguir regras, se preparar, desenvolver
competência, se superar. A rivalidade inviabiliza a competição, pois não
obedece regras, desvaloriza competências e joga sujo com o adversário.
Para certas personalidades, diz ela, ser competitivo é uma característica,
mas entre as mulheres se intensifica pela educação recebida desde a infância
e pela forma como isso é levado para a vida adulta. "O mundo em que vivemos
reflete o que existe em muitos lares. Quanto mais se valorizam as aquisições
materiais, mais se incentiva a competição desleal", opina.
Aparência
Você já ouviu falar naquele ditado que diz que as mulheres se vestem para
as outras mulheres? Ele tem um fundo de razão. A psicóloga Silvana
Martine afirma que a primeira ideia que passa na cabeça delas, quando capricham
no visual, é afastar a concorrência. A estudante Andréa Ribeiro concorda.
"Sempre fico grilada quando vejo alguém com uma roupa mais legal do que
a minha. Tem dias em que cruzo com algumas mulheres na rua, elas estão
tão lindas, que fico me sentindo um lixo, mesmo se estiver arrumada", confessa.
Juliana Dias é uma das que adoram caprichar no visual, mas não deixa de
conferir o das outras. "No metrô, eu vejo mulheres indo trabalhar produzidíssimas,
cheirosas, se achando o máximo. E eu noto que os homens prestam atenção,
mas as outras mulheres prestam mais atenção ainda", analisa.
De olho nas outras
Se você acha que os hormônios têm culpa nessa história de competição feminina,
aí vai um dado curioso. Uma pesquisa publicada em janeiro deste ano
na versão online da revista britânica Proceedings of The Royal Society
revelou que mulheres com alto nível de estrogênio consideram suas rivais
menos atraentes. Isso acontece durante o período fértil – entre 12 e 21
dias após a menstruação. Segundo a autora do artigo, Mary Fisher, professora
do Departamento de Psicologia da Universidade York, no Canadá, esse comportamento
se justifica pelo fato de o corpo criar, nesse período, condições favoráveis
ao acasalamento. Para chegar a essa conclusão, foi feito um estudo com
57 universitárias, que se viram diante de fotos de dezenas de outras mulheres
e do desafio de classificá-las em uma escala de "extremamente atraente"
até "extremamente não atraente". Aquelas que estavam no período fértil
deram notas bem menores às modelos em comparação às notas dadas pelas que
apresentavam baixos níveis de estrogênio. Vale a pena esperar o fim da
menstruação para matar a curiosidade e reparar se isso também acontece
com a gente.
Colegas ou rivais?
Se existe um lugar onde a competitividade e a rivalidade mais transparecem,
é o ambiente de trabalho. Convivendo diariamente com as mesmas pessoas,
é fácil se tornar alvo de alguém cheio de más intenções. Ao invés de se
unir, muitas mulheres preferem apelar para uma porção de artimanhas: fofoca,
sabotagem, traição, manipulação e até assédio moral. Para quem enfrenta
a fúria – muitas vezes gratuita – de uma rival, o trabalho pode se tornar
um pesadelo. "Logo que entrei na empresa, tive problemas com uma colega
que, em vez de me ajudar a me integrar ao ambiente, fazia tudo para atrapalhar
o meu serviço. Não passava informações importantes, não me mostrava como
funcionavam as coisas e não tinha a menor boa-vontade para tirar minhas
dúvidas. Tive de me virar sozinha para descobrir as coisas, e isso atrasava
imensamente meu trabalho. Para completar, descobri que ela andava dizendo
que eu era muito incompetente para o cargo e que não tinha dúvidas de que
eu seria logo demitida", conta a assistente de marketing Carolina Corrêa.
A solução encontrada por ela, depois de muito penar, foi pedir socorro
à chefia, que chamou a tal colega para uma conversa. "Foi o único jeito
de botar um fim naquilo", comenta.
Olga Tessari diz que isso acontece porque, muitas vezes, as mulheres não
conseguem separar a razão da emoção. "Na verdade, elas não pensam
em prejudicar alguém de forma consciente, mas se elas considerarem necessário´derrubar´a
outra pessoa, assim o farão, de corpo e alma. Elas fazem uso da emoção
para poderem ter a força necessária para isso. Em outras palavras, se elas
não se sentirem inteiras, totalmente envolvidas na execução do seu plano,
podem titubear e voltar atrás no seu intento", explica.
Porém, quando a rivalidade se torna um problema crônico, é melhor avaliar
a quantas andam a maturidade e a autoestima. Enxergar todas as mulheres
como rivais, segundo as psicólogas, é sinal de uma grande insegurança a
respeito das nossas capacidades, mas também pode revelar algum problema
de personalidade. Se a pessoa só consegue manter uma boa autoestima quando
se sente melhor do que as outras à sua volta, precisa procurar apoio psicológico.
Afinal, viver se comparando aos outros é um belo convite ao estresse e
à depressão.
Como lidar com a rivalidade
Melhor do que fazer inimigos, é aliar-se a eles. Em outras palavras, a
melhor saída é tentar se aproximar da "inimiga" e manter com ela um
bom contato. Esta é a dica da Dra. Olga Tessari. "Em geral, quando nos
tornamos amigos do inimigo, muitas vezes ele passa a ser amigo e pode repensar
e alterar determinados comportamentos e atitudes contra nós. Outra maneira
de entender o que leva a rival a agir da forma como age é perceber suas
táticas e agir no sentido de anulá-las. É algo como ficar esperta e fugir
antes do bote" , recomenda. Já a Dra. Silvana Martine diz que não se deve
entrar no jogo. "A melhor forma de neutralizar uma rivalidade é com educação
e segurança. Qualquer outra forma, com certeza, vai intensificá-la", salienta.
Ou seja: descer do salto, jamais.
Matéria publicada no site Bolsa de Mulher por Anna Mocellin em julho/2006
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