Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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AVISO: Quem sofre com a depressão, deve procurar um médico ou psicólogo
urgente!
O nascimento de um filho é um momento mágico, que muda a vida de
qualquer mulher. Ao mesmo tempo em que é excitante e cheio de expectativas,
também pode ser um pouco estressante. Como ocorrem muitas mudanças físicas
e emocionais durante a gestação e depois do parto, é comum que as mulheres
se sintam tristes, amedrontadas, ansiosas e confusas. Esses sentimentos
costumam ir embora depois de algum tempo, mas em algumas pessoas eles acabam
permanecendo, resultando na depressão pós-parto.
A doença acomete entre 10% e 20% das mulheres, podendo começar na primeira
semana após o parto e perdurar por até dois anos. Por ter conseqüências
sérias, que podem afetar tanto a mãe quanto o bebê, precisa de tratamento
médico imediato, com auxílio de medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.
Tristeza ou depressão?
É comum a mulher passar por um quadro de depressão leve depois de ter
um filho. É a chamada tristeza pós-parto, que atinge 50% das mulheres
e não traz maiores conseqüências. Geralmente essa tristeza começa entre
o segundo e o quarto dia após o parto e dura entre quatro e cinco semanas.
Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, os sintomas da tristeza
pós-parto e da depressão pós-parto são semelhantes, porém a diferença está
na duração. "Na tristeza pós-parto a mãe fica chorosa, irritada, indisposta
ou levemente deprimida, mas isso não a impede de realizar tarefas, pois
dura apenas algumas semanas. Já na depressão pós-parto o quadro é bem mais
grave e incapacitante, pondo em perigo tanto o bem-estar da mãe como o
do bebê, sendo detectada entre a sexta e a oitava semana depois do parto",
explica.
Outra alteração emocional que pode aparecer após o parto é a desordem
do pânico, com sintomas de forte ansiedade, acessos de calor ou frio,
batimentos cardíacos acelerados, respiração rápida, tonturas, dores no
peito e tremedeiras. Neste caso, o médico também deve ser procurado imediatamente,
para que seja administrado um tratamento com base em medicamentos e psicoterapia.
Há, no entanto, casos extremamente graves de desordem emocional, que resultam
na psicose puerperal. Nela, a mulher perde o senso de realidade e
sofre com delírios, alucinações e medos infundados, como o roubo do bebê,
por exemplo. Com isso, ela acaba adotando rituais obsessivos e tendo pensamentos
totalmente desconexos. Na maioria dos casos, a mãe precisa ficar internada
no hospital para tratamento, já que precisa de acompanhamento intensivo. Felizmente
são poucas as chances desse tipo de psicose acontecer, pois só atinge
0,2% das mulheres.
Sentir-se mãe
Uma explicação interessante sobre o tema da depressão pós-parto é dada
pelo obstetra Sergio Amaral. Ele afirma que os fenômenos biológicos
são muito mais rápidos que os psicológicos (afetivo-emocionais). "Para
estar grávida, basta haver o encontro de um espermatozóide com um óvulo.
Entretanto, para a mulher ´sentir-se grávida´, algum tempo é exigido. Assim
também é o pós-parto. A chegada do bebê ao meio externo se faz com o término
do parto. `Sentir-se mãe´demora um pouco mais. É dessa defasagem que se
originam as dificuldades de adaptação à nova realidade". É por isso que,
segundo o obstetra, algumas mães apresentam uma espécie de prostração,
ficando indiferentes ao bebê, podendo até chegar a rejeitá-lo. Algumas
não conseguem nem mesmo amamentar a criança.
Causas
Existem estudos que apontam que mudanças hormonais podem influenciar o
aparecimento dos sintomas da depressão pós-parto. Durante a gestação,
a quantidade dos hormônios estrogênio e progesterona aumenta bastante,
mas cai rapidamente nas 24 horas após o parto. Acredita-se que essa mudança
possa ser responsável pela desordem emocional da mãe.
Outros fatores de peso são o estresse, causado pela mudança do estado
de gravidez para tornar-se mãe, um parto traumático, uma história familiar
de depressão ou mesmo devido a problemas vividos com sofrimento no passado.
"A mulher com sintomas emocionais pré-menstruais antes da gravidez também
é mais propensa a desenvolver a depressão pós-parto, assim como pessoas
com vulnerabilidade acentuada, que desenvolvem a depressão mesmo diante
de um elemento estressante aparentemente inócuo", ressalta Olga Tessari.
Fatores pré-disponentes
As condições existenciais e vivenciais nas quais se dá a gravidez podem
influenciar a ocorrência da depressão pós-parto. A incidência é maior
em adolescentes e em pacientes que têm dificuldades na gestação, que acabam
por desestabilizar suas condições emocionais, como gravidez indesejada,
gravidez contrária à vontade dos pais ou familiares, situação civil irregular
ou casamento em decorrência da gravidez.
Mas não é só isso.
Há uma série de outros problemas que podem levar à doença, como:
sintomas depressivos durante ou antes da gestação; histórico de transtornos
afetivos; tensão pré-menstrual freqüente; problemas de infertilidade anteriores
à gravidez; primeira gravidez; produção independente; perda de pessoas
queridas ou de um filho anterior; presença de anomalias no bebê; desarmonia
conjugal; insatisfação com o emprego; dificuldades financeiras; aborto
anterior à gravidez e até desapontamento com o sexo do bebê.
Características principais
A depressão prejudica o funcionamento psicológico e social, interferindo
também no trabalho. Os sintomas podem variar muito e persistir por
semanas ou meses sem uma causa aparente que os provoque. Entre os sinais
mais comuns de depressão, estão as sensações de desânimo, desesperança
e desamparo, tristeza persistente, indisposição, pensamentos negativos
ou preocupações, baixa auto-estima, perda do prazer ou interesse em atividades
de rotina, irritabilidade, mudanças bruscas de humor, excesso ou falta
de sono, ausência do desejo sexual, medos, diminuição ou aumento do apetite,
problemas de concentração, de memória e de tomada de decisão.
"A mulher tem a sensação de estar falhando como mãe, sente-se incapaz de
cuidar do bebê e tem desinteresse por ele, podendo chegar ao extremo de
ter pensamentos suicidas e homicidas em relação ao bebê", comenta Olga
Tessari.
Em uma mulher jovem, os sinais de depressão podem incluir problemas
escolares e distúrbios de apetite. Ela pode ter uma visão distorcida de
sua própria imagem corporal, insatisfação com tudo à sua volta e sensações
de infelicidade consigo mesma e com a vida em geral. Já as mulheres mais
velhas podem não mostrar quaisquer transtornos comportamentais ou não admitir
que se sentem infelizes ou deprimidas. Por outro lado, elas podem desenvolver
diversas queixas físicas, tais como dor crônica, problemas digestivos ou
dores de cabeça.
Tratamento
Para tratar a doença, é preciso adotar medicação antidepressiva, que ajuda
a restabelecer o funcionamento do metabolismo cerebral, uma vez que
a depressão provoca um desequilíbrio na bioquímica do cérebro. Paralelamente,
deve-se fazer um tratamento psicológico, para trabalhar as questões emocionais
da depressão e suas conseqüências. O tratamento conjunto é fundamental
para melhorar a qualidade de vida da mãe, mas, sobretudo, para prevenir
distúrbios no desenvolvimento do bebê e preservar um bom nível de relacionamento
conjugal e familiar.
Olga Tessari salienta que mulheres que desenvolvem a depressão pós-parto
uma vez têm grande chance de desenvolvê-la novamente nos próximos partos,
ou mesmo durante a próxima gravidez, por isso é importante o tratamento
adequado.
Já o obstetra Sergio Amaral acredita que a depressão pós-parto pode
ser evitada, detectando problemas emocionais ainda na gravidez ou anteriormente
a ela. "Nesses casos, o acompanhamento por profissional especializado é
fator de grande sucesso. A participação em cursos de orientação para gestantes,
que privilegiem a informação, também ajuda a diminuir a ansiedade e a insegurança",
recomenda.
Conseqüências
Além de todo o sofrimento causado à própria mãe, a depressão pós-parto
a faz interagir menos com o filho e passar menos tempo em contato
com o bebê, o que pode tornar a criança propensa à irritação e à ansiedade.
"A doença pode prejudicar a qualidade da relação mãe-feto, já que a mãe
serena e afetuosa tenderá a ter um bebê calmo e tranqüilo. Por outro lado,
uma mãe insegura e ansiosa poderá acentuar sua inquietação e agitação",
ressalta Sergio Amaral. E não é só isso.
A depressão pós-parto também pode ter conseqüências desastrosas no futuro:
os filhos podem apresentar problemas de ajustamento social na adolescência,
com maior tendência à depressão, à apatia e ao abuso de substâncias psicoativas,
devido à ansiedade.
A doença também pode interferir no relacionamento do casal e provocar
o afastamento do marido, muitas vezes pela ignorância da doença em
si - supondo que se trata de bobagem ou "frescura" -, o que pode desencadear
mais sintomas depressivos na esposa.
O papel da família
Como depressão não tem nada de "frescura", pois é uma doença séria, deve
ser tratada de forma adequada.
Em geral, pacientes depressivos são bem resistentes, se recusam a admitir
que necessitam de ajuda profissional e, por isso, precisam de uma pessoa
forte que a pressione para realizar o tratamento.
Além do mais, é importante acompanhar a mulher depressiva em tratamento,
e esse papel deve ser desempenhado pelo marido ou pela família - verificando
se ela toma a medicação direitinho e se tem comparecido às sessões de psicoterapia.
"É necessário apoiar a mãe com muita compreensão, amor e afeto. Se
for necessário, a família não deve ter receio de procurar um especialista
para acompanhá-la", orienta o Dr. Sergio.
Segundo Olga Tessari, a pessoa depressiva sempre pensa que seu caso
não tem solução e, por conta deste pensamento equivocado, acaba boicotando
o trabalho dos profissionais, daí a importância do acompanhamento familiar.
"Enquanto a mãe está em tratamento, é bom a família não exigir algo que
ela não se sinta em condições de realizar. Respeitar os limites, entender
que a doença é incapacitante e que traz muito sofrimento é o caminho para
que ela possa sair mais rapidamente deste problema", recomenda a psicóloga.
Matéria publicada no site Bolsa de Mulher em 02/07/2006
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