Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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O relacionamento entre pessoas de idades diferentes é cada vez mais comum.
Homens e mulheres aprendem a driblar uma educação sexual repressora
e a lidar com divergências que podem prejudicar a relação.
O psicanalista José Ângelo Gaiarsa defende a ideia de que duas pessoas
de gerações diferentes podem ser mais semelhantes entre si, por acaso,
por combinação individual, do que duas pessoas da mesma geração.
E quando o casal consegue superar as interferências da sociedade,
a troca de experiências entre ambos pode ser muito rica e diversificada.
Miro das Neves se auto intitula enjoado: "não é todo mundo que consegue
viver comigo", diz. "Gosto das coisas na hora certa e sempre quero
o melhor." Sandra Rodrigues, 27anos, é uma mulher de fibra "sou decidida,
sempre tomo a frente e faço o que precisa ser feito".
A diferença marcante nas personalidades não é a única nesse casal que
está junto há oito anos.
Miro é 28 anos mais velho que Sandra. "Apesar de ser mais nova
que eu ela é muito mais madura para questões práticas", afirma Miro. "Ele
tem uma seriedade, um estilo de vida que eu não encontrei nos homens da
minha idade", diz Sandra. Este é o terceiro casamento de Miro "Sempre vivi
com mulheres mais novas, não por escolha, o que eu procuro é alguém que
vai dar certo", diz. Sandra jogava futebol no mesmo clube do filho do Miro.
"Um dia fui buscar meu filho e vi Sandra treinando, percebi que ela corria
mais que as outras jogadoras e a chamei para fazer um elogio", diz Miro
"Ela estava me paquerando! Mas eu já estava acostumada a levar cantadas
de muitos pais que passavam por lá", brinca Sandra. "Um dia ele me deu
carona e depois de dois meses de amizade, eu o beijei", continua.
A paixão é uma fonte muito poderosa de emoção. Por causa dela, as pessoas vencem
limites e dificuldades para ir atrás do que querem. Miro estava no fim
do segundo casamento e Sandra tinha um namorado, mas nada impediu que a
relação fosse adiante: "Minha família não aceitava e as pessoas diziam
que eu estava com ele por interesse", afirma Sandra. A maturidade da esposa
foi essencial para Miro: "Estava desanimado por causa da separação. Achava
que não ia conseguir recomeçar, aí ela chegou e disse – vamos em frente,
eu fui".
Segundo a psicóloga Olga Tessari, os casais devem ter claro que, independentemente
da idade biológica ou psicológica dos pares, um relacionamento deve existir
para que as pessoas possam viver, construir e partilhar uma vida.
O bom relacionamento é uma arte onde é preciso aprender a conviver
com as diferenças. É uma experiência positiva quando as pessoas entendem
que uma complementa a outra. Miro se arrisca a afirmar que este pode ser
o modelo ideal de casamento: Eu tenho a segurança e ela a garra. Nossos
projetos dão certos porque eu administro a ansiedade dela e ela me dá o
gás prá continuar na luta".
O casal tem um filho de 2 anos e um patrimônio que assegura o conforto
e bem estar da família. Sandra sabe que não é tudo "Nós nos amamos
muito e vivemos bem, mas sei que a nossa diferença de idade tem um peso"
afirma. "Quando eu tiver com 37 anos ele vai estar com 65, antes de nos
casarmos, conversamos sobre isso para que não houvesse mágoas depois, independente
de qualquer coisa, eu prometi que vou ficar com ele até o último dia da
vida dele e ele comigo".
APRENDA COM AS DIFERENÇAS
A enfermeira Fabiana de Souza tinha 27 anos quando conheceu Rodrigo, um
rapaz cinco anos mais novo: "Ele era uma gracinha, usava uma bermuda
branca, uma camiseta regata e um bonezinho virado para trás". O namoro
começou por causa da curiosidade, a atração física foi a tônica da relação,
Estar com alguém diferente das pessoas do convívio soava como uma aventura
para ela. "O Rodrigo era forte. O corpo malhado e bem definido se destacava
nas roupas esporte que ele usava", diz Fabiana que vive com os pais e a
filha em uma confortável casa na zona norte de São Paulo. Apesar dos alertas
da mãe e dos protestos veementes do pai, ela não hesitou em levar o namoro
adiante: "No começo a gente está apaixonada, não vê os defeitos do outro".
A paixão começou a perder o brilho no dia em que o casal combinou de ir
ao cinema e jantar fora: "Eu estava de salto, saia e uma bolsa de mão quando
ele chegou em casa com uma camisa xadrez com desenho do Piu Piu no bolso,
uma calça estilo skatista e um tênis amarelo, fiquei tão nervosa que comecei
a chorar".
Uma relação baseada na atração física tem poucas chances de sobrevivência.
Essa possibilidade é ainda menor se o grau de imaturidade supera a diferença
de idades. "É comum querer buscar no outro algo que lhe complemente, mas
é preciso cuidado , porque os opostos se atraem, mas também se repelem",
alerta a psicóloga Olga Tessari, especialista em relacionamentos.
Além da troca de experiências, o desejo sexual é um fator importante na
relação, e quando a paixão dá lugar a um sentimento maternal o romance
fica fadado ao fim. Depois desse relacionamento, Fabiana se envolveu com
um homem 12 anos mais velho. O namoro durou cerca de 2 anos e os conflitos
foram igualmente impactantes. "Conheci o Moacir durante os meus plantões,
primeiro ele foi internado com um inicio de derrame cerebral, meses depois
foi a vez do pai dele parar no hospital por causa do diabetes". Ao contrário
de Rodrigo, Moacir era um homem sofisticado, exigente e seguro. A enfermeira
descreve o romance como um namoro sofrido: "Além de independente e bem-sucedido
financeiramente, Moacir ainda era lindo". A sensação de insegurança pautou
toda a relação: "Claro que eu adorava ficar em um chalé com lareira em
Campos do Jordão, comer fondue ou jantar em um restaurante chique",diz.
"Mas sentia falta de meus amigos ou de ir a um show do Chiclete com Banana.
Acabei abrindo mão disso só para ficar com ele", completa.
COMPLEXO DE ÉDIPO
O assistente financeiro Willian de Moura, 32 anos é um namorador convicto.
A mãe discorda desse tipo de comportamento e está sempre no pé do
filho mais velho. Ainda assim, Willian tem um extensa lista de ex-namoradas
e afins. O romance com Ângela(nome fictício) começou em uma casa de shows
na zona norte de São Paulo: "Fomos apresentados por um amigo em comum,
ela estava com a filha, trocamos alguns olhares, mas só começamos a namorar
três encontros depois". A disposição de Ângela impressionou Willian: "Ela
estava recém separada e tinha uma sede de vida incrível. Aceitava, prontamente,
todos os meus convites. Gostava dos lugares onde eu a levava e compartilhávamos
das mesmas idéias". A dona de casa estava com 44 anos, tinha um nível social
e financeiro mais elevado e vivia com as duas filhas adolescentes. Nada
disso incomodou Willian que não se importava com os comentários e nunca
teve problema com as meninas.
O namoro durou mais de um ano: " A relação com ela era diferente,
às vezes a mulher mais nova tem muita insegurança e usava aquela coisa
– se ele é brincalhão, é dado, então é mulherengo. Mulher mais velha tem
mais vivência e não pensa assim, ela sabia que eu estava feliz e não precisava
procurar mais ninguém". Além de todas as complicações naturais de um relacionamento,
estar com um rapaz mais novo é ter de driblar alguns preconceitos e, muitas
vezes, a sua própria forma de encarar a ordem natural das coisas. " É a
realização do complexo de Édipo" afirma Gaiarsa – referindo-se à teoria
freudiana baseada na tragédia grega, onde o menino desenvolve uma preferência
sexual pela mãe e uma aversão pelo pai. "O erótico ainda é muito reprimido
em nossa sociedade, dentro da família a mãe não tem sexo" continua o psicanalista.
Nesses casos, pode haver um bloqueio inconsciente e o que seria uma relação
moderna, pode se tornar constrangedora. Ângela mantinha o namoro escondido
dos parentes e do ex-marido. "Ela começou a demonstrar preocupação com
a idade, dizia que tinha medo de não conseguir acompanhar o meu pique e
de não dar conta do recado", diz Willian. "Aí a relação acabou azedando"
lamenta o assistente de vendas.
Gaiarsa, que estuda as dificuldades do relacionamento há cinqüenta anos,
afirma que "A maioria das pessoas é muito primitiva emocionalmente,
o mais difícil não é estabelecer uma relação, mas mantê-la".
Matéria publicada na Revista Raça nº 99 em junho/2006 por Monica
Costa
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