Olga Tessari

Es-piã

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

Interesse excessivo pode sinalizar sentimento de posse ou obsessão 

Vocês namoraram por algum tempo. Mas não deu certo. Cada um foi para o seu lado e pronto, você não quer nem mais saber dele. Será? 

Para muitas mulheres, não é bem assim que a banda toca. Mesmo após o fim do relacionamento, elas continuam ligadas à vida do ex parceiro, ávidas por qualquer informação fresquinha. Seja por amigos em comum, pela internet - e nessa hora os scraps reveladores do Orkut ajudam bastante -, ou até mesmo pelo próprio, elas não poupam esforços para saber a quantas anda a vida do ex. Querem saber de tudo: se ele continua solteiro, se está namorando sério, se está sofrendo com o fim do relacionamento, ou se está na farra com os amigos. 

Estranho? Nem tanto, cara leitora. 

A curiosidade faz parte da natureza humana. "Se uma pessoa pertenceu à sua vida, é normal querer saber como ela está, nem que seja apenas para matar a curiosidade", afirma a psicóloga Olga Inês Tessari. 

E, vamos admitir, os dias de hoje são uma benção para as curiosas de plantão. Ferramentas para ficar por dentro do cotidiano alheio não faltam. É blog, fotolog, página pessoal... Difícil não dar uma espiadinha, como diz o outro. 

"Eu não tenho neura com nenhum ex. Mas, confesso: dou sempre uma geral no Orkut. Acho graça, vejo quem entrou, quem saiu, quem está comprometido. E não resisto às fotos", conta a gerente de marketing Viviane Toledo. "Eu era masoquista, sofria, mas sempre queria saber mais, queria ficar por dentro de tudo. Sabia quando ele ficava com alguém, sabia se ele ficava interessado, se estava doente, feliz, triste" 

Essa característica, além dos adventos tecnológicos, conta também com outra fraqueza humana: a fofoca. 

A designer Paula Martins recebe sempre de uma amiga em comum dados atualizados sobre os casos do ex, com os quais ela jura que até se diverte. "Só fiquei chateada quando descobri que ele havia me traído com uma fulaninha que nos rondava. Mas essas coisas me ajudaram a cortá-lo de vez da minha vida". 

Funcional para umas, prejudicial para outras. A curiosidade alimentada constantemente pode não fazer bem. 

A médica Rosane Bacellar diz que sofreu muito para conseguir esquecer um amor. A facilidade de encontrar informações e de saber os passos do ex, que trabalhava no mesmo hospital que ela, foi um problema sério. "Eu era masoquista, sofria, mas sempre queria saber mais, queria ficar por dentro de tudo. A proximidade facilitava isso. O que acontecia? Sabia quando ele ficava com alguém, sabia se ele ficava interessado, se estava doente, feliz, triste. Eu não rompia o laço. Ele continuava fazendo parte da minha vida sem saber. Tive que fazer até terapia", conta Rosana, hoje curada. 

Normal até que ponto? 

Nem sempre é a simples curiosidade que provoca essa sede por informações. O interesse excessivo em saber sobre a vida do ex-parceiro pode indicar um desejo velado de reatar o relacionamento, um sentimento de posse, ou, pior, caracterizar uma obsessão. "Aí é hora de procurar ajuda psicológica para que se aprenda a colocar um ponto final no relacionamento, que, na verdade, já acabou", afirma a psicóloga Olga Inês Tessari. 

Mas não é tão fácil reconhecer esse momento de pedir ajuda. 

A economista Érica Moura Lopes custou a perceber que gastava tempo demais vigiando o ex noivo. "A ficha caiu quando soube que ele ia casar. Eu vivia observando, rastreando, provocando encontros, monitorando Orkut. Enquanto isso, ele vivia de verdade, até se apaixonar e marcar casamento. Quando soube, fiquei mal. Mal emocionalmente e moralmente, notei que eu não ia para frente. Percebi que a forma que eu tinha de continuar com ele era furada", lamenta ela. 

Como podemos concluir, a curiosidade é natural, já a investigação, não. Se você anda fazendo muito esforço para conseguir certas informações, cuidado: pode ser um indício de que você está perdendo tempo demais com o passado. 

Matéria publicada no site Bolsa de Mulher por Fernanda Saboya em junho/2006

Outros textos disponíveis para leitura: 

Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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