Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Mulheres e amigas!
Fui tomar um chopinho com as amigas sábado passado.
Papo vai, papo vem. Um chope, dois chopes, seis chopes, vem a vontade
de ir ao banheiro. Me levanto e a Deca aproveita e vai comigo - estava
louca para me mostrar o silicone. Ela era uma tábua, colocou 185 ml. Aí
foi aquilo: ela mostra, eu analiso, aperto, confiro o material e falo que
realmente tá lindo! Vocês não devem estar entendendo nada, não é?
Mas vão entender agora. Voltamos para a mesa e, como boas frequentadoras
de botequim que somos, começamos a filosofar. Filosofar sobre a complexidade
da intimidade feminina. Sobre essa intimidade, diria quase gay, que existe
entre as mulheres.
Já repararam: toda mulher olha a outra da cabeça ao pés. Não escapa nada.
Peito, celulite, bunda, barriga, roupa, sapato, brinco, cabelo. Em
um minuto somos capazes de observar detalhes que nem o mais tarado dos
homens da face da Terra repararia. Quando amigas, nos agarramos, nos beijamos
e nos tocamos. E pior: ninguém estranha.
É ou não é?
O silicone da Deca foi o estopim para a nossa discussão acerca do tema.
Voltei do banheiro, achando curiosa essa característica feminina,
e levantei a bola para a Carol Bandeira (amiga minha há séeeculos) cortar.
"Aliás, somos incentivadas desde pequenininhas a termos esse tipo de relação
com outra menina. Beijar a amiguinha e andar de mãos dadas é normal, anormal
é a menina que não faz", atentou Carol. "Verdade. Eu mesma cansei de tomar
banho com amigas. Minha mãe nunca achou estranho. Já meu irmão, realmente,
nunca teve essas intimidades com os colegas", comentou a Joana Padilha,
designer.
Todas concordaram e relembraram passagens parecidas da infância e de um
tempo nem tão atrás assim – ou melhor, de 30 minutos atrás. "Ué, somos
incentivadas e nos permitimos ter esse contato. Eu não fui ao banheiro
com a Therê pra mostrar o peito? Pensando bem, isso é meio esdrúxulo. Nenhum
homem ia mostrar suas partes a outro. A menos que seja gay", avaliou a
Deca Moraes, a mais recente turbinada da praça.
"Somos assim por não termos vergonha. Os homens estão sempre preocupados
com o que vão achar. Se vão ao banheiro juntos, vão ser chamados de bichas.
É sociológico", decreta a Karina Melo Luiza Amarante, uma bem-sucedida
advogada, apresentou a sua teoria: "A mulher é mãe. Faz parte da natureza
dela o contato físico. Eu amo minhas amigas. Beijo, abraço, faço escândalo
quando encontro, aperto. Não é uma questão sexual". Eu também disse que
não tinha nenhuma conotação sexual. Longe de mim, quando apertei o peito
da Deca, pensar em algo mais. Se tem uma coisa que eu gosto é de homem!
Todas sabem.
A noite continuou regada a chope e a polêmica, pois o Luis Matias (um
jornalista gatérrimo!!!) e um amigo, o Carlinhos Maia, vieram sentar
com a gente. "Todo mundo já está acostumado com as esquisitices femininas.
Quer mais esquisito do que ir em caravana ao banheiro?", provocou Luis.
"Isso se chama cumplicidade. Vamos ao toalete comentar sobre algum lance
da mesa, retocar a maquiagem ou mesmo fazer xixi", disse a Stella Maria,
irmã da Luiza.
Como trabalho num site feminino, não deixei de trazer o assunto para
a redação e fui querer saber o que a Bárbara Link, minha mais nova amiga
de infância, pensava a respeito. "Somos diferentes em tantas coisas: mais
carinhosas, mais compreensivas, mais preocupadas... Natural que a amizade
seja vivida de forma diferente entre as mulheres. Damos constantes provas
de amor às amigas", acredita Blink.
Cumplicidade, amizade, intimidade. Os termos não faltam para definir essa
delicada relação entre as mulheres. Para fechar essa matéria, seria válido
conversar com alguém que entende de comportamento – seja ele qual for.
Liguei para a psicóloga Olga Inês Tessari, nossa querida colaboradora
de longa data, que afirmou que a mulher, de fato, tem a permissão social
de ser como é. "Os homens sofrem preconceito em relação aos sentimentos.
Não podem chorar, se abraçar, se beijar. Desde pequenos, são educados para
manter a distância de outro homem. Já reparou que dão até um passo para
trás na hora do aperto de mão? Com as meninas é diferente. Elas são próximas,
existe uma troca muito grande de afeto, de experiências. O que é muito
saudável. As mulheres acabam sendo mais bem-resolvidas", analisa Olga Inês
Tessari.
Matéria publicada no Site Bolsa de Mulher por Marcela Brum
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