Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Quando a vaidade se torna mais que um pecado capital e passa a prejudicar
a saúde da mulher
Em 2008, mais de 600 mil cirurgias plásticas foram realizadas no
Brasil. A célebre frase de Vinícius de Morais: "As muito feias que me perdoem,
mas beleza é fundamental" é uma das ideias que causam suas influências
na mentalidade feminina no que se diz respeito à vaidade. Se a aparência
não estiver perfeita sobre os padrões estabelecidos pela maioria, então
há algo de muito errado que precisa ser corrigido.
Partindo desta premissa ilusória, milhares de mulheres buscam todos os
anos os consultórios de cirurgiões plásticos. Em 2008, foram 629 mil
cirurgias, dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, sendo a
maior parte de cirurgias estéticas.
Não há nada demais quando se quer diminuir um "pneuzinho" ou quando o
desejo é fazer uma blefaroplastia (cirurgia plástica nas pálpebras).
O preocupante é quando essa necessidade intensa de modificar o próprio
corpo se torna uma obsessão, ou seja, quando se torna um distúrbio psíquico
denominado Transtorno da Imagem Corporal.
Além das cirurgias plásticas, alisamento progressivo dos cabelos,
bronzeamento artificial e horas em academia são procedimentos mais aclamados
pelo público das mais vaidosas. As consequências para o excesso dessas
ações podem ser desastrosas.
A paulista Ariane Rodrigues, 23 anos, sonhava em ter cabelos lisos e se
livrar para sempre da chapinha e do secador. Submeteu-se num salão
de beleza a uma escova progressiva com formol, um produto perigoso, apostando
que voltaria para casa com fios brilhantes e resistentes. Resultado: gânglios
inflamados durante quatro dias. Dores fortes de cabeça, náuseas e feridas
no couro cabeludo. Ariane teve de ser internada e ficou em observação durante
seis horas. Precisou tomar remédios durante 20 dias e as madeixas lisas
só duraram duas semanas. A estudante ainda perdeu 50% do volume do cabelo.
Os fios partiram-se e ficaram desbotados."
A psicóloga Olga Tessari, que atua em São Paulo, debate em seu site oficial www.ajuademocional.com
sobre o excesso da vaidade e cita casos que assombram. Há o caso de uma
nutricionista que, ao atenuar a linha de expressão ao redor dos lábios,
sofreu problemas com o Meta Crill, produto usado para o preenchimento.
"Ele se deslocou do local aplicado e formou dois nódulos nos lados direito
e esquerdo dos lábios. Anos depois, surgiu uma inflamação terrível. Há
mais de um ano, ela toma anti-inflamatórios e já passou por uma cirurgia
para a retirada de um abscesso", explica Olga Tessari.
A necessidade constante de se ver melhor diante do espelho faz com
que adolescentes de São Paulo gastem uma fortuna com roupas de grifes.
"O que estimula é a aparência", afirma a psicóloga. "O adolescente é muito
influenciável. Submete-se a cada situação por achar que nada vai lhe acontecer.
Não mede consequências." Olga Tessari lembra ainda que a maioria das mulheres
passa pelo processo da depilação com cera mesmo sabendo as dores que vai
enfrentar.
Ser vaidoso não é um erro. O excesso de vaidade é que pode prejudicar
a qualidade de vida de quem entra erroneamente na paranóia de estar sempre
"perfeito". Como o caso da socialite norte-americana Jocelyn Wildenstein,
que teria gasto 2 milhões de libras, o equivalente a R$ 6 milhões, com
cirurgias plásticas. Jocelyn deformou o próprio rosto e tornou-se uma aberração.
Para piorar a situação dos aficcionados por plásticas, levantamento do
Conselho Regional de Medicina de São Paulo mostra que, dos médicos
que cometeram erros nas cirurgias e que foram processados, apenas 6% eram
especialistas.
"É um mito social. Por exemplo, a jovem pensa: para eu ser bem aceita,
preciso de roupas caras, 'estilosas', corpo igual aos das atrizes de televisão.
Ela precisa entender que não há necessidade de seguir os ditames da moda
para ser feliz. Cada uma precisa se aceitar como é e não se deve seguir
um padrão", diz Olga Tessari. "Quantas meninas não se depreciam ao se vestir
com roupas decotadas e quantas não possuem dinheiro para manter toda essa
vaidade. É preciso se aceitar. Ter autoestima. Aprender a lidar consigo
mesma."
Matéria publicada na Folha da Bahia em 17/10/2009
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