Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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A satisfação de poder mudar a realidade de uma criança abandonada
Segundo o dicionário, adoção significa aceitação voluntária e legal
de uma criança como filho. Mas a definição, de fato, vai além disso. É
um ato de amor e coragem assumir, sem preconceito ou ressalvas, uma criança
e tomar para si todas as responsabilidades da vida daquele ser que passou
a fazer parte da sua história.
Engana-se quem pensa que essa é a última tacada de quem não pode,
por algum motivo, gerar um filho. Muitos casais encaram a adoção como uma
maneira de mudar a realidade de uma criança abandonada. "Sempre sonhei
em adotar uma filho e meu marido amou a ideia. Fizemos a escolha por pura
opção, e foi a coisa mais incrível que já me aconteceu", diz Sandra Betinassi,
36 anos, especializada na concepção de bolos diferenciados.
A mãe de Mariana, hoje com 7 anos, lembra com emoção quando conheceu
a menina em um orfanato em São Paulo, com apenas 40 dias de vida. Foi paixão
à primeira vista. Sabia que ela era para ser minha. Voltei dias depois
para buscá-la, diz. "Minha gravidez durou quatro dias", brinca.
A decisão de adotar ou não uma criança não pode ser encarada de forma
simplista. "É uma escolha que precisa ser muito bem pensada e resolvida
entre o casal. Caso contrário, está fadada ao fracasso", afirma a psicoterapeuta
e escritora Olga Tessari. Se há dúvidas, o ideal é esperar até adquirir
a segurança necessária para assumir a responsabilidade. Conversar com pais
adotivos e assistentes sociais pode ajudar a chegar a uma decisão. "Precisa
querer muito. Essa é a maternidade mais consciente que existe", afirma
Olga.
Uma dúvida que sempre surge é: quando e como contar à criança que ela
é adotada? "Essa questão deve ser encarada com naturalidade", defende
Olga. Para ela, a criança tem o direito de saber sobre a adoção e isso
deve ser contado em um momento oportuno, sem dar à conversa um tom muito
sério. "Não pode ter hora nem lugar marcado para falar sobre o assunto.
É preciso esperar o momento certo e falar com serenidade. Deixar claro
que o amor independe dos laços sanguíneos."
Sandra e o marido, Gilson, sempre fizeram questão de contar a verdade
à filha e não se sentiram ofendidos quando a menina quis conhecer
suas origens. "Esse nunca foi um assunto tabu dentro da minha casa. Desde
bem pequena, Mariana sabe que foi adotada e adorou conhecer e brincar com
as crianças do orfanato de onde veio", conta Sandra. "Ela lida tão bem
com a situação que até já falou sobre sua história para todos os amiguinhos
da escola", orgulha-se.
Matéria publicada na Revista Veja - São Paulo em 10/05/2006
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