Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Abrir mão da carreira para cuidar dos filhos e do marido pode parecer
um retrocesso na vida da mulher. Mas acredite: dá para ser muito feliz
assim!
Quando alguém pergunta à pernambucana Elaine Silva Marinho, de 31 anos,
qual é a sua ocupação, ela fala com convicção: "Sou dona-de-casa".
Uma resposta assim, se fosse dada no passado, não faria muito sentido nem
provocaria nenhuma surpresa.
Atualmente, no entanto, algumas mulheres da idade dela têm vergonha de
dizer isso, pois percebem um certo tom de reprovação nos outros ao
revelar que optaram por cuidar da casa, dos filhos e do marido. "Já escutei
muita crítica e também já sofri muito por causa disso", conta Elaine. "Hoje,
estou segura de que, diante das circunstâncias da vida, fiz a melhor escolha".
A história de Elaine é semelhante à de muitas donas-de-casa que cresceram
depois da revolução feminista. Ela casou, teve um filho, se separou e precisou
contar com a ajuda da mãe para cuidar da criança em seus primeiros anos.
"Eu trabalhava de dia e estudava à noite", conta. "Muitas vezes, nem via
meu filho". Ao casar de novo e engravidar de seu segundo filho, resolveu
não repetir a mesma experiência. Dois meses depois de voltar da licença-maternidade,
pediu demissão do emprego como recepcionista de hotel. "Pagar para que
outras pessoas cuidassem dos meus filhos estava consumindo quase todo o
meu salário", ela lembra. " Preferi cuidar deles eu mesma".
Segundo a psicóloga Olga Inês Tessari, mulheres que tomam essa decisão
sofrem hoje um tipo de pressão semelhante ao que ocorria no passado com
as que decidiam trabalhar fora. "Nadar contra a corrente sempre traz algum
custo para a pessoa", explica. "Hoje em dia, quem faz essa opção sofre
muito preconceito". Mas a psicóloga chama a atenção para o fato de que,
às vezes, quando a crítica vem de outras mulheres, ela pode ser fruto de
inveja. "Isso é muito comum", afirma. "No fundo, elas também gostariam
de ter um marido que as sustentasse para poderem ficar cuidando da casa
e da família". De acordo com a especialista, não existe uma escolha certa
para todas as mulheres. "Depende das suas condições, das circunstâncias
da vida e das suas prioridades", ela explica.
A advogada paulista Maria Paula Machado, de 31 anos, tornou-se dona-de-casa
por uma combinação de fatores. "Ao me formar, não consegui um emprego
bem remunerado. Além disso tinha um filho pequeno e mudei de cidade duas
vezes por causa do trabalho do meu marido", explica. Paula também sofreu
por causa da decisão e conta que, para se defender psicologicamente das
críticas feitas pelos outros, recorreu a uma postura arrogante. "Quando
me perguntavam por que eu não trabalhava fora, minha resposta típica era:
'Eu não preciso disso, tenho um marido que me sustenta' ", conta. "Era
meu coice de auto defesa".
Segundo a psicóloga Olga Inês Tessari, para aproveitar o que a opção de
ser dona-de-casa tem de bom e evitar sofrimento, são necessários alguns
cuidados. O mais importante de todos, no entanto, é proteger e cultivar
a auto-estima. "Se você está feliz consigo mesma, enfrenta todos os obstáculos
da cabeça erguida". Essa é a chave da felicidade.
PARA SER FELIZ !
CONFIRA AS DICAS DA PSICÓLOGA OLGA INÊS TESSARI PARA QUEM DECIDE SER DONA-DE-CASA:
PREPARE-SE PARA AS CRÍTICAS
O segredo é conseguir não se abalar ao ouvi-las, mas também não reagir
com agressividade a elas. E lembre-se: quem critica nem sempre tem a maturidade
necessária para fazer esse tipo de julgamento.
ENCONTRE OUTRAS PESSOAS
Manter-se isolada do mundo, pensando apenas na casa, é prejudicial a você
e ao seu casamento. Procure conviver com outras pessoas, fazer amigos,
conversar sobre temas alheios à família.
NÃO SEJA SÓ MÃE
Um erro grave é se dedicar apenas aos filhos, sem cuidar de si própria
em termos físicos e intelectuais. Faça cursos, desenvolva novas habilidades,
mantenha-se informada sobre o mundo, invista em cultura, faça academia.
Se você se sentir feliz como mulher, tudo vai bem.
CONFIE EM VOCÊ MESMA
Procure combater o medo de perder o marido e não ter como se sustentar.
Na imensa maioria dos casos, quando isso acontece, a mulher consegue
dar a volta por cima e percebe que o sofrimento foi em vão. Mas é bom,
claro, investir em cursos e outras formas de desenvolver suas aptidões.
Matéria publicada na Revista Ana Maria - Edição Nº 458 - seção "Família"
por Demetrius Paparounis em 22/07/2005
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