Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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As tribos têm crescido assustadoramente nos últimos anos nos centros urbanos, por motivações das mais variadas.
A maioria dos jovens se une por um gosto musical, que acaba por refletir no estilo que a tribo adota, tanto na roupa como até mesmo na atitude deles em relação à sociedade. É o caso dos punks que usam sua forma de expressão para contestar o modo de vida consumista que caracteriza ao mundo contemporâneo.
Muitas dessas tribos surgiram da necessidade causada pelo crescimento do individualismo nos últimos tempos. Isso fez com que quem não estivesse satisfeito com esse isolamento procurasse em outras pessoas descontentes a afinidade necessária para poder desenvolver-se socialmente. Esse fato é mais marcante nos adolescentes, que carregam esse sentimento de vazio diante do mundo e sentem a necessidade de integrar-se com outros para ascender individualmente.
É o caso de Marcelo Ferrasin, 21 anos, participante de uma tribo há nove, sem conseguir definir, porém, o nome da mesma: "Não sei rotular direito, talvez do rock, heavy, progressivo, hard-rock". Para ele é bom, pois há a convivência com outras pessoas que ouvem as mesmas músicas e gostam mais ou menos das mesmas coisas. "Na maioria da vezes vamos ver bandas, tocar, beber juntos, sair a barzinhos. Mas mesmo que seja algo não relacionado a música acaba entrando no assunto", conta.
No entanto, um dos problemas apresentados está no aspecto consumista que muitas dessas tribos possuem em suas características. Muitas vezes para contestar o atual modo de vida capitalista estes encarnam o estilo consumista para questionar as benesses disso. Só que acaba por ser de uma forma contraditória com os "princípios" escolhidos dentro do grupo. O estilo das roupas, bem como as imposições colocadas como regras, se mostram incompatíveis com o objetivo inicial.
Acontece que essa busca por um objetivo se configura na aceitação do modo de vida atual.
Acontece que nessa busca os grupos se fecham em si, não aprendendo com o que vem de fora. Essa completa segregação de grupos distintos e fechados se torna improdutiva a partir do momento que não há uma troca de valores culturais. Há sim uma rivalidade que, em muitos casos, como na cidade de São Paulo durante a década de 80, as brigas eram comuns e constantes entre os diversos grupos.
Se hoje essa rivalidade ferrenha aparentar ter diminuído, isso fica no âmbito das pancadarias nas metrópoles, pois o preconceito e a completa indiferença delas em relação às outras é latente e as separa ainda mais. Outro fato importante está no preconceito por parte de cidadãos não pertencentes a nenhuma turma desse tipo. É o caso da estudante Mariana Elias, ouvinte eclética que demonstra sua insatisfação com essa forma de expressão de maneira até certo ponto raivosa: "Odeio isso de tribo, não tem nada a ver, sem objetivo. Parece que eu tenho que estar numa", reclama. Já Micael Nagai, um fã de todos os estilos, aponta algo polêmico: "Eu acho que se uma pessoa ou grupo fizer algo diferente da sociedade elas sempre irão sofrer preconceito por alguém ou por uma outra segmentação da sociedade", afirma.
O interessante é o que diz o tradutor Guilhermo Gumucio, um "sem tribo": "Não costumo me juntar a um grupo por causa de uma característica específica apenas. Tenho amigos que têm um gosto cultural absolutamente diferente do meu. Mas no final o que resta é a essência, a pessoa mesmo", acredita. O que fica claro que a motivação inicial por se unir a uma "tribo" recebeu outros ingredientes, como estilo, sentimento de proteção, amizade, submissão, ou mesmo união em torno de determinado ideal.
Tribo é conseqüência
O fato dos jovens buscarem cada vez mais grupos que tenham gostos semelhantes com os seus revela a formação de uma identidade que pretende ser diferenciada aquilo que foi aprendido com os pais durante a infância. Mesmo assim, é preciso cuidado e orientação dos familiares para que esses grupos não interfiram de forma negativa na vida desses adolescentes que tem um mundo de novidades pela frente e estão aprendendo a discernir.
E para explicar um pouco melhor sobre o assunto conversamos por correio eletrônico com a psicóloga e psicoterapeuta, Olga Inês Tessari, que nos fala sobre as causas dos jovens buscarem grupos externos à sua família para se relacionarem.
Confira a entrevista na íntegra.
Site Padre Marcelo Rossi – Por que os jovens têm a necessidade de se juntar em grupos?
Olga Tessari: Quando somos crianças temos por hábito acreditar piamente em tudo o que os pais nos dizem e afirmam e o nosso modelo de mundo é aquele que os pais nos apresentam, seria algo como enxergar o mundo através dos olhos de nossos pais, sob a ótica deles. A fase da adolescência é o momento em que o jovem constrói a sua própria identidade e sai em busca de seus próprios valores e modelo de mundo e, para isso, ele precisa deixar de lado ou negar os valores/conceitos/modo de vida de seus pais, que tinha até então. Seria algo como negar todos os valores que aprendeu até este momento, os valores que são de seus pais ou das pessoas com quem ele tem convivência: quem nunca viu um jovem dizendo que seu pai é "careta" e não sabe de nada ou mesmo aquele jovem calmo e tranquilo, que acatava todas as ordens e que agora passa a contestar e discutir cada palavra e ordem de seus pais? Faz parte da fase da adolescência estar em grupo: é nessa fase da vida que os jovens formam os seus próprios valores e decidem o que "querem ser quando crescerem". Nesta fase da vida vale a pena experimentar de tudo até para poder decidir o que é o melhor para si mesmo. Como ele ainda não tem a sua identidade totalmente formada, ele procura andar em grupos de iguais para sentir-se integrado, para experimentar novos valores, conceitos, ideias, modos de ser, etc.
Site Pe. Marcelo – O que significa para esses adolescentes a identificação com um determinado tipo de tribo, como dos metaleiros, punks, clubbers, pagodeiros, etc.?
Olga Tessari: Não é porque o jovem se integra a um determinado grupo que ele vai ser como estes membros do grupo a que está integrado. Como disse, muitas vezes ele precisa experimentar e fazer parte destes grupos, o que lhe permite aprender novos valores, questionar seus conceitos até concluir se estes valores são importantes ou não para ele. Todos podemos observar jovens fazendo parte de grupos que nada tem a ver com eles, mas faz parte desta fase de vida a experimentação. Vale dizer que, se o jovem é de uma família repressora, certamente, ele fará parte de um grupo X até para contestar seus pais: por exemplo, se ele vem de uma família que abomina pagode ou rock, é bem capaz que ele passe um período de tempo sendo pagodeiro ou roqueiro, apenas para contestar seus pais.
Site Pe. Marcelo – Como os pais devem encarar esse tipo de situação?
Olga Tessari: Quanto mais os pais proibirem o jovem de estar em determinado grupo, mais ele terá vontade de transgredir a ordem de seus pais. Nesse momento, é importante que os pais dialoguem com os filhos, mostrando o quanto é bom ou ruim para ele estar em determinado grupo, mas é importante que eles deixem para o jovem a opção de manter-se no grupo ou sair dele. Vale dizer que a adolescência reflete um pouco toda a convivência anterior que os pais tiveram com seus filhos. Se, durante a infância onde houve um bom diálogo familiar, certamente o jovem continuará dialogando com os pais e colocando suas ideias e interesses em participar de determinado grupo, estando aberto a ouvir a opinião dos pais e questionando com eles o seu interesse em participar de determinado grupo, sendo respeitado em sua decisão, apesar dos pais não concordarem.
Site Pe. Marcelo – É preciso observar o comportamento dos filhos para ver se esse tipo de situação não extrapola para outros aspectos, como drogas e violência, muito comuns em certos grupos?
Olga Tessari: Sim, os pais devem estar atentos ao comportamento dos filhos e conhecer de perto os amigos deles. Uma idéia é fazer festas em casa, levar os amigos para viajar junto com a família, procurar conhecer os pais dos amigos, saber onde e com quem os filhos estão. É claro que os filhos detestam esta vigilância toda, mas cabe aos pais mostrarem que confiam em seu filho, mas que precisam saber com quem eles estão. Vale ressaltar a importância do diálogo ao longo de toda a vida em família, fator fundamental para que os pais possam perceber quando o filho está se envolvendo com pessoas ligadas às drogas ou violência e poder orientá-los sem criticá-los, algo que não surte efeito positivo, pelo contrário, leva-os cada vez mais a contestarem seus pais e agirem não por vontade própria, mas apenas para transgredir as ordens familiares. Atualmente os jovens já estão muito bem informados acerca dos malefícios das drogas, mas como eles nunca acreditam que o pior possa acontecer com eles, muitas vezes eles experimentam mesmo. É comum que jovens transgridam barreiras e ordens, mas se eles têm bem a noção dos limites, eles não se tornarão drogados ou viciados, até porque existe uma grande diferença entre experimentar e ser usuário regular de drogas. Aquele que se torna um viciado, assim o faz por uma série de fatores tais como: carência ou excesso de afeto, ou então, por não saber lidar com os limites impostos pela sociedade justamente por não ter aprendido isso em casa. O viciado busca um refúgio na droga, algo que o deixe 'fora da realidade', justamente porque a sua realidade é ruim, sofrida, porque ele não sabe como lidar com ela, algo bem diferente daquele jovem que apenas experimenta a droga e depois a deixa de lado porque apenas quis saber que gosto tem e não para fazer uso dela por outros motivos. Ele até pode se sentir pressionado pelo seu grupo para continuar com o uso frequente, mas acabará por se afastar deste grupo e buscar outros que respeitem suas opiniões, se sua autoestima estiver em alta, algo que se consegue com o amor, carinho, compreensão, limites e muito diálogo entre ele e seus pais.
Matéria publicada no site do Padre Marcelo por Rodrigo Herrero em 23/07/2005 12:07:00
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