Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Assunto polêmico!
Numa roda de amigos, basta tocar na questão sobre ser fiel ou não que o caldeirão ferve. O assunto é polêmico dos pés à cabeça. Talvez porque a fidelidade, ao mesmo tempo em que é um valor bastante estimado pela sociedade, também é encarada como uma caretice, coisa de gente quadrada demais. Se a educação, cultura e religião nos ensinam que trair é errado, a prática parece querer nos mostrar que a tal da fidelidade só existe mesmo para ser violada. Todo mundo tem um amigo ou amiga que não consegue ser fiel de jeito nenhum - isso quando não é você mesmo que tem dificuldade de permanecer do lado de cá da cerca. Afinal, a traição surge quando a relação não está boa suficiente ou é um problema daquele que trai? Quem trai ama menos?
Tem gente que é infiel por escolha: faz porque gosta e não liga a mínima. Outros sofrem por não resistirem às tentações. Sem dúvida, a culpa é um detalhe que distingue duas categorias diferentes de colocadores de chifre. A estudante Renata P., de 22 anos, já deixou a culpa de lado faz tempo. Trair o namorado acabou virando costume. "Pra mim isso é normal. É claro que o meu namorado não sabe, né? Uma vez ele soube, foi quando a gente terminou. Eu tinha uma agenda, onde eu escrevia tudo. Lá eu contava todas as histórias, tinha o nome de todos os meninos que eu tinha ficado! Meu namorado achou e leu. Foi horrível, ele terminou comigo", conta ela. Parece que o sofrimento após o término não foi grande o suficiente para que Renata aprendesse a lição. "Depois de um ano e sete meses, a gente acabou voltando", diz ela, confessando que a fidelidade continua não sendo o seu forte.
Existem também o estilo de pessoa infiel que não chega ao ponto de fazer da traição uma praxe, mas passa o namoro inteiro considerando a possibilidade de provar de uma outra carne. Daniel Rabelo, de 23, anos é assim. "Não sou infiel por qualquer beijo na boca. Não saio pras nights e beijo meninas, achando que isso é o máximo. Minha namorada é especial. Mas em quatro anos de namoro, conheci outras garotas também especiais, que vez ou outra me cativaram de uma forma diferente. Eu não ando pelas ruas procurando amantes, mas sempre há a possibilidade, sim. Quando acho que vale a pena, aproveito pequenos detalhes, compartilho momentos com as pessoas que gosto", explica.
O arrependimento, apesar de não inocentar ninguém, é, no mínimo, um bom sinal. Pode representar o primeiro passo do parceiro em direção a uma postura mais leal. O publicitário José Carlos Fontes, de 29 anos, conta que um grande amigo seu, no fundo, no fundo, não se sente bem quando é seduzido por um rabo de saia. "Ele tenta não demonstrar, só que eu sei que se sente culpado. Isso é sintoma de que os sentimentos dele pela namorada são muito fortes. Mas não a ponto de não precisar trair", diz ele. Com certeza, quando se discute infidelidade, é inevitável analisar qual a profundidade do amor que existe entre o casal. Já dizia o ditado, quem ama cuida... "Tem muita gente que entra num namoro por carência, insegurança de ficar sozinho e não por amor, vontade de dividir. Eu não entro num relacionamento à toa, mas se estou namorando, sou fiel. Já namorei em momentos que não devia. Hoje em dia, se estou com alguém, é porque gosto tanto de ficar ao lado dela, que as outras não despertam um desejo tão forte a ponto de trair", afirma José Carlos.
Amor não é uma coisa palpável que você pega, tira do peito, estica e mede para conferir sua grandeza. Como se diz, o ser humano é um bicho complicado. Sentir vontade de pular a cerca ou mesmo fazê-lo não significa que o sentimento pelo marido ou companheiro não é verdadeiro ou pouco profundo. Entretanto, manter-se fiel, leal e cúmplice talvez seja a maior prova de amor de todas. "Existe uma diferença entre desejar ser infiel e concretizar este desejo. Desejos todos nós temos, mas, muitas vezes, pensando nas possíveis conseqüências, evitamos transformá-lo em realidade", explica a psicóloga Olga Inês Tessari.
Quem preza um parceiro fiel e honra esta atitude, pagando com a mesma moeda, parece antiquado numa época em que a infidelidade, praticamente, virou moda. Essa tendência, porém, muitas vezes é uma forma de esconder grandes fraquezas. "Existem indivíduos que sentem uma necessidade doentia de se relacionar com o maior número de pessoas possível. Isso revela alguns problemas emocionais, tais como o medo da solidão; o medo de envolver-se mais profundamente com alguém, pois quanto mais gente, menor a aproximação; a necessidade de conquistar para testar a sua própria capacidade e de exibir estas conquistas aos outros, para se sentir admirado e importante diante dos colegas", frisa Olga Inês.
Para o sexólogo Arnaldo Risman, não vivemos uma época de liberdade sexual, como se costuma pensar. "Ainda existe uma força muito grande que contraria a idéia de que a liberdade sexual está presente. A sexualidade está, na verdade, vulgarizada, pois ela é uma energia que poderia ser usada de uma forma bonita e tem se resumido a um gozo de segundos. O ser humano anda de acordo com a maré, perde constantemente seus valores. Os animais são mais fiéis que nós. A cadela, por exemplo, escolhe com quem vai transar; os machos brigam entre si para ver quem será o escolhido. Já nós não possuímos mais esses ritos. É tudo muito passageiro, como se o mundo fosse acabar amanhã. A verdadeira liberdade é ter a escolha de poder dizer sim ou não. O sim para tudo, na minha opinião, não é uma liberdade na sexualidade", conclui o sexólogo.
Matéria publicada no site Bolsa de Mulher Por Laura Jeunon em julho/2004
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