Entrevista com Dra Olga Inês Tessari
*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página
Orientação online para distúrbios emocionais divide psicólogos e terapeutas;
alguns defendem atendimento olho no olho
Duas horas da manhã. Angustiada, a advogada Patrícia(nome fictício),
28 anos, liga o computador e entra na internet. Na página do
Google, digita a palavra depressão para pesquisar o assunto. Depois
de ler diversos artigos e textos, começa a desconfiar que está com
a doença. Na época, Patrícia estava desempregada e fazia dois
anos consecutivos que estudava para passar em um concurso público. Sempre
era reprovada nos exames e se culpava por isso. Em um dos sites que
visitou, a jovem enviou uma mensagem a uma psicóloga, relatando
o que sentia. Como resposta, recebeu o conselho de procurar um especialista.
Foi o que ela fez.
De fato, Patrícia estava com sintomas depressivos. Ainda sob tratamento,
inclusive medicamentoso, ela acredita que a internet é um importante
instrumento de auxílio àqueles que possuem algum problema. “No meu caso,
foi a salvação”, crê.
Assim como a advogada, muita gente sai à procura de sites que ajudem,
de forma ou de outra, a solucionar problemas pessoais ou esclarecer um
assunto específico.
Autoajuda
Os sites de auto-ajuda, por exemplo, têm sido os favoritos de pessoas
ávidas por uma melhora de sua condição de vida, assim como de seu
aprimoramento intelectual, emocional ou até mesmo espiritual.
Mas será que se orientar ou até mesmo se consultar com especialistas
pela internet é um procedimento adequado?
Eis uma questão que vem dividindo a opinião de psicólogos e terapeutas
de todo o país. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), a psicóloga
e pesquisadora Olga Inês Tessari diz que a internet é um dos meios mais
fáceis de a pessoa procurar ajuda no momento em que está vivenciando o
problema. “Só que dificilmente ela encontrará as respostas que procura,
mas os caminhos e meios para que possa refletir e encontrar a sua própria
solução”, salienta.
A psicóloga Olga Tessari recebe entre 100 e 150 e-mails por dia, a maioria
dos quais de pessoas que acessam o seu site
www.ajudaemocional.com. “Grande parte dos e-mails é sobre dificuldades nos relacionamentos afetivos
(ciúmes, traição, insegurança, medos), problemas familiares e ansiedade”,
diz Olga Tessari que, além de prestar orientações, em alguns casos indica
a necessidade de tratamento psicológico.
Na avaliação dela, embora o atendimento via internet esbarre no preconceito de
profissionais não acostumados a fazer uso da internet e de suas ferramentas
(e-mail, chats, microfone e video-conferência), o atendimento olho no olho
não é o único que funciona: “Quando uma pessoa está disposta a resolver
o problema, o atendimento online funciona muito bem. Até Freud se comunicou
com uma de suas pacientes por meio de cartas”, destaca, pontuando que isto
não contribuirá, por exemplo, para o fechamento dos consultórios, pois
existem pessoas que ainda necessitam do tratamento presencial.
Cuidados
Ao contrário de Olga Tessari, o psicólogo Ruy Miranda, de Belo Horizonte,
avalia que a internet é muito útil como fonte de informação e não
como solução de um problema. No site dele, inclusive, o internauta é orientado
sobre o que dizer a um profissional durante uma consulta. Ele adverte as
pessoas que costumam acessar a internet em busca de auto-ajuda. “há mais
picaretas do que gente séria, se utilizando do anseio por informação para
ganhar dinheiro em programas como AdSense, do Google. É preciso ter cuidado”,
frisa salientando que o internauta deve adquirir o hábito de checar, do
ponto de vista profissional, a maior quantidade de informações sobre o
autor do site.
Autor de um dos primeiros sites a disponibilizar o serviço de atendimento
pela internet (atualmente desativado), o engenheiro da computação Américo
Okubo critica a ajuda psicológica online. “Ela não é eficiente. O profissional
que faz a avaliação de seu paciente tem seus recursos bastante limitados.
Não é possível, por exemplo, verificar a postura, os gestos, o olhar, a
insegurança e tantas outras variáveis que fazem parte do processo de avaliação
e aconselhamento psicológico”, argumenta.
Solidão
Apesar dos prós e contras, fato é que a internet é uma grande aliada daqueles
que a utilizam para fazer novas amizades e driblar a solidão.
É o caso do estudante de administração de Universidade Federal da Bahia
(Ufba), Gabriel (nome fictício), 26 anos, que desde 2004 mora longe
da família. "Costumo bater papo com internautas. Em ocasiões como o natal,
por exemplo, é uma maneira de esquecer que estou sozinho, longe dos meus
parentes”, revela. Conforme a psicóloga Cristima Fogliene, sentimentos
sufocados no decorrer do ano se acentuam com a proximidade das festas de
final de ano. “Nesses casos, torna-se necessário também buscar ajuda, seja
através de qualquer meio. Nem sempre o atendimento em consultório é produtivo,
pois há paciente que trava diante do psicólogo mas se solta nas mensagens
que trocamos. Um primeiro contato online desmistifica o psicólogo, tornando-o
tão humano como qualquer um”.
Olga Tessari afirma que a eficácia do atendimento online depende da experiência
que o profissional tem de saber interpretar adequadamente a linguagem utilizada
na internet. Com o avanço do uso de vídeo conferência, o atendimento via
internet é praticamente o mesmo que atender pessoalmente.
Matéria publicada no Jornal A Tarde (Salvador-BA), Caderno Digital, por Rodrigo
Vilas Bôas em dezembro/2007
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