Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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"Eu me mordo de ciúme"*
* A frase Eu me mordo de ciúmes, do título, vem da música Ciúme, gravada pela banda Ultraje a Rigor, que fez sucesso nos anos 80.
Dizem que o ciúme é o tempero do amor.
Até pode ser, desde que nenhuma das partes derrame uma colher bem cheia dele no relacionamento. Medidas a mais resultam em brigas, términos de namoro e, em alguns casos, em violência. Aproximadamente 20% dos homicídios cometidos são causados pelo ciúme, apontam algumas pesquisas.
Uma garota que não quis ser identificada acabou recentemente com o namorado que não deixava que ela falasse com os amigos.
Sem permissão, ele apagou da agenda do celular dela todos os nomes de homem. Ele exigia ser avisado todas as vezes que a menina fosse na padaria ao lado de casa. Se ela esquecesse de comunicar, rolava o maior estresse.
Por causa do descontrole do ex-namorado, ela perdeu um amigo e disse que estava ficando tão paranóica quanto o cara. "Só brigávamos. E eu não dava motivos", disse.
Para a psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari, do site ajudaemocional.com, o ciúme deixa de ser normal quando passa a dominar o relacionamento. Quando a pessoa se deixa dominar pelo ciúme, ela coloca de lado tudo o que lhe dá prazer, tudo o que é bom no seu relacionamento, e passa a espionar, espreitar, buscando fatos e coisas que provem a infidelidade do outro.
Ela identifica vários exemplos de exagero presentes no dia-a-dia de muita gente. Você quer saber quem ligou para ele, de quem é aquele número registrado no celular, de quem é aquele bilhetinho, por que ele demorou tanto tempo na padaria e ainda não trouxe tudo o que você pediu.
Edna Zarino Jorge Alves, psicóloga, supervisora de estágio em Psicoterapia Psicanalítica e coordenadora da clínica psicológica da UniSantos, traduz o ciumento exagerado como uma pessoa com dificuldade de enxergar o outro.
Ele acha que o namorado/a deve satisfazer apenas as suas vontades. Não admite que ele se relacione com os outros, com o trabalho, o esporte. Ele quer sempre o outro por perto. Por isso, controla.
O ciumento vê motivos para desconfiar do parceiro, sem que realmente haja indício. É como se fosse um delírio. Para ele, aquilo é coerente. Ele sente que seu afeto está sempre em risco.
Para quem sofre de ciúme, Edna alerta que o risco de perder estende-se para ambas as partes. Ninguém tem certeza absoluta de que terá o outro para sempre. Se a relação é boa, os dois vão se afastar para viver, trabalhar e estudar, e vão retornar. A distância deixa os dois mais ricos para trocar entre si.
Outra falha cometida pelos ciumentos é o esquecimento de que eles tiveram capacidade de despertar o interesse do outro por suas qualidades. O ciumento costuma ser muito inseguro e tem baixa autoestima.
Edna lembra para casais que vivem o problema que amor é construir com a pessoa, dividir planos e afinidades e ter admiração pelo outro. Não tem nada a ver com amor destrutivo, inveja e agressividade verbal ou física.
Para quem convive com o ciumento, ela diz para não entrar em uma fria e não se culpar. O problema é dele.
Para o ciumento, o conselho é se cuidar e, se for preciso, buscar ajuda profissional.
Infelizmente, poucas pessoas se acham predispostas a aceitar que o ciúme excessivo é um problema pessoal e subjetivo. Poucas consideram a possibilidade de que ele não corresponda à realidade. A maioria delas não percebe que seu ciúme exagerado pode destruir um relacionamento, mesmo que exista o mais forte, puro e verdadeiro amor. Afinal, você quer perder de vez a pessoa amada?, pergunta Olga Tessari.
Ciúme do bem
Situação: Você está em um barzinho com o namorado/a, e passa outra pessoa desviando a atenção dele.
O que acontece? Segundo a psicóloga Edna Zarino Jorge Alves, nesta situação é comum sentir ciúme porque todo mundo quer atenção e respeito, seja do namorado, do amigo, da mãe. O ciúme é um sentimento universal que envolve receio de perder o amor, a pessoa por quem se tem admiração. Ciúme independe de idade ou sexo.
Ciúme do mal
Situação: Imagine que seu parceiro resolveu dar um presente para você, um relógio novo, por exemplo. Ele esconde o presente para dar a você no final de semana, quando vocês forem viajar. Mas você, bisbilhotando o armário dele, acaba descobrindo o relógio. Você começa a imaginar mil coisas. Seu parceiro explica porque escondeu o relógio, que seria uma surpresa. Você não acredita e não pára de torturá-lo perguntando de quem ele ganhou aquele presente. Ele pode explicar mil vezes a mesma coisa. Você não vai acreditar em nada do que ele disser porque você já tirou as suas próprias conclusões. Foi a outra que lhe deu o presente e seu parceiro vai ter que confessar, custe o que custar.
O que acontece? A psicóloga Olga Inês Tessari, que criou a situação acima, explica que a pessoa ciumenta tem a capacidade de fantasiar, imaginar e criar a sua história, tirar as suas próprias conclusões e achar que está certíssima. Ela alimenta esta fantasia real com pensamentos e imagens distorcidos que, por sua vez, levam a novos pensamentos distorcidos, um ciclo vicioso.
Olga Tessari aponta sinais que indicam ciúme exagerado:
•Não aceitar que o parceiro faça um programa (com amigos, por exemplo) sem a sua companhia;
•Mexer nas coisas pessoais do seu parceiro (gavetas, armários, pastas, bolsos, carteira, celular etc...);
•Sentir a necessidade de saber sempre onde o outro está. Ligar para casa dos amigos para confirmar a sua presença ou aparecer no local;
•Preparar armadilhas. Pedir a alguém que se insinue ao seu parceiro para ver qual a reação dele;
•Desconfiar de tudo e de todos.
Matéria publicada no Jornal A Tribuna - Caderno Tribu por Fernanda Mello
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