Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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O sexo frágil
A psicóloga Olga Tessari fala sobre o tema mulheres solteiras, abordando
as fissuras no relacionamento homem-mulher, provocados pelas transformações
na sociedade, em virtude do avanço do "sexo frágil".
Confira os principais trechos da conversa feita por correio eletrônico.
Luciano Duarte – A que se deve o aumento de mulheres solteiras?
Olga Tessari – Até há pouco tempo atrás, o casamento era, digamos
assim, uma exigência, uma imposição social: nenhuma mulher queria ficar
para "titia", ser chamada de solteirona, sentir-se "marginalizada" no seu
meio. Além da pressão social, um dos motivos fortes para o casamento era
a necessidade de sobrevivência da mulher: ela buscava alguém que a pudesse
sustentar e, em troca, cuidava da casa, do marido e dos filhos, era a "rainha
do lar", o trabalho para ela só podia ser um hobby, um passatempo, o salário
baixo não permitia o seu próprio sustento. Atualmente, é possível o sustento
próprio com o salário recebido, embora pesquisas mostrem que, em muitas
empresas, o salário da mulher ainda costuma ser mais baixo do que o do
homem na mesma função.
Luciano Duarte – Então, hoje essa pressão diminuiu?
Olga Tessari – Se até há pouco tempo atrás as mulheres sentiam-se pressionadas
a casar, hoje em dia elas tem a opção de permanecerem solteiras se assim
o desejarem, embora no seu íntimo ainda sonhem com o casamento e com o
"príncipe encantado" (no comércio, o segmento voltado para noivas continua
com um alto faturamento). A mulher solteira de hoje está, aos poucos, aprendendo
a valorizar-se como pessoa e, como tem condições de prover o seu próprio
sustento, pode optar por ficar solteira. O casamento para ela, hoje em
dia, tem que ser com uma pessoa que ela ame acima de tudo, que a respeite
como pessoa e que queira dividir responsabilidades e obrigações, tornando-se
seu cúmplice.
Luciano Duarte – Essa independência pode assustar os homens e afastá-los
das mulheres? Isso pode dificultar numa tentativa de relacionamento?
Olga Tessari – Os homens estão assustados justamente por não saberem como
lidar com esta nova mulher, eles ainda mantém o ranço machista, cujo
modelo de mulher é a subserviente, certamente o modelo que sua mãe lhes
passou: infelizmente as mães continuam a educar os seus filhos homens de
forma diferenciada das filhas mulheres. É claro que eles se assustam com
esta mulher independente, segura de si, que não busca proteção, mas cumplicidade,
pois não sabem como agir diante desta nova mulher. Homens tímidos têm mais
dificuldade de se aproximar delas, assim como o machista vê nela uma mulher
"fácil", com a qual não deve ter compromisso (mais uma vez o ranço machista
de que a mulher para casar deve ser subserviente, pura e casta).
Luciano Duarte – Muitas são chefes de família, sustentando a casa e os
filhos, substituindo o que antes era papel do homem. O que representa
isso e qual a conseqüência para os filhos dessa mudança?
Olga Tessari – As mulheres, hoje em dia, não se sujeitam mais à "ditadura
masculina" do marido, embora continuem educando seus filhos homens da mesma
forma. Quem mais sofre com a falta do pai é o menino, porque ele necessita
de um modelo masculino para seguir, embora todos os filhos (meninos ou
meninas) sintam a falta da figura masculina do pai. A quantidade de obrigações
da mulher, mantendo os dois papéis, a sobrecarrega em demasia, não há muito
tempo disponível para conviver com os filhos, trocar idéias, saber do dia
a dia deles. Além disso, por não poder estar mais ao lado dos filhos, a
mãe acaba por satisfazer as vontades deles, numa tentativa de compensar
a falta de tempo, para diminuir sua culpa, o que pode propiciar a formação
de jovens sem limites ou com limites pouco definidos, jovens rebeldes.
Luciano Duarte – Ainda há muita resistência machista? Como superar
isso?
Olga Tessari – A resistência machista ainda existe por causa da educação
dada aos homens. E é esta educação que faz com que eles ainda continuem
"machistas", dependentes das mulheres nos cuidados da casa, de suas roupas
e até de sua alimentação. Este é um dos motivos porque os homens não conseguem
ainda ficar sozinhos: quando o casamento acaba, eles logo procuram um novo
casamento ou contratam uma espécie de governanta, uma "faz tudo" para substituir
a esposa.
Luciano Duarte – Para a doutora, qual barreira ainda falta ser transposta
para a mulher conquistar sua independência plena?
Olga Tessari – A mulher ainda continua dependente emocionalmente do homem,
ela ainda deseja sentir-se protegida por ele, deixa sua vida de lado
por um homem que ama. Ao se apaixonar, ela deve evitar o impulso inicial
de largar tudo por causa dele, para ficar somente com ele, vivendo em função
dele. O seu parceiro deve aceitá-la como ela é, ela deve manter a sua vida
pessoal, seus amigos, seu trabalho e aproximar seu parceiro dos seus amigos,
assim como fazer parte do grupo de amigos dele. Essa é a fórmula para a
manutenção de um casamento até que a morte os separe. E, se por acaso o
casamento não der certo, ela pode sair dele de cabeça erguida, pois é capaz
de cuidar de si mesma, sustentar-se, vai continuar o convívio com seus
amigos e trabalhando/crescendo em sua carreira. O fato de deixar sua vida
de lado e viver em função do homem amado é um dos fortes motivos que levam
as mulheres a permanecerem sozinhas depois de um relacionamento falido.
Elas aprendem, muitas vezes a duras penas, a importância de ter sua vida
própria e de que um relacionamento deve vir para somar, compartilhar, não
para anular-se!
Matéria publicada no site Circuito Regional por Luciano Duarte em 12/03/2007
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