Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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O que as leva a trair?
O que antigamente era algo quase que imponderável, restrito às páginas
dos romances mais escabrosos, como o adultério retratado em "O Primo Basílio"
de Eça de Queirós, em nossos dias configura-se como um fato mais ou menos
normal, pelo menos em alguns segmentos sociais.
O que no passado era visto como traição, hoje recebe o rótulo de aventura,
escape ou desajuste.
Antes, a moral religiosa remetia, sem apelação, ao inferno todos
os que adulterassem, fosse por pensamentos, palavras ou obras. Hoje, com
a liberalização dos costumes, tais atitudes mudaram seu eixo.
A traição, filha da dissimulação e da mentira, é um mal que acompanha
o ser humano desde os primórdios. A passagem bíblica da serpente que seduz
Eva, nos primórdios da história, retrata o epílogo de uma traição multidimensional.
Há quem diga que a mulher, quem sabe pelo desenho de seu tipo psíquico,
é muito mais afeita à traição, que hoje atinge 75% dos relacionamentos
entre casais.
Definitivamente, não são somente as mulheres os principais alvos. Os homens
também têm ficado preocupados, afinal, estão crescendo as taxas de
traição feminina.
Em 2003, as pesquisas indicavam que 25% das mulheres traíam seus parceiros, enquanto
que 53% dos homens confessavam suas proezas. Mas houve um crescimento.
Em proporções, as mulheres evoluíram muito mais do que eles no ranking
dos traidores. Estão, hoje, com uma taxa de 46%, contra os quase estagnados
60% masculinos. Por enquanto, os homens estão na frente ou, então,
as mulheres estão sabendo fazer melhor, sem deixar pistas.
Hoje, se o homem trai, a mulher também pode. O mais interessante
são os motivos. O homem usa expressões como "pintou", "é o instinto", "é
a natureza", como se fosse uma predisposição genética.
As mulheres traem por vingança, por não se sentirem mais desejadas.
Por sua educação mais romântica, pode trair por se apaixonarem por homens
com fala mansa, palavras doces, poemas e flores, coisas que alimentariam
suas fantasias de "príncipe encantado" e que não têm em casa ( que aliás
não existe, príncipe encantado é uma lenda).
Outro motivo que leva as mulheres a uma traição são os desejos sexuais,
que por alguma razão ou outra não conseguem que seu parceiro as satisfaça
(de novo a falta de diálogo) e ou falta de interesse e incompetência do
parceiro. O que evidencia que todo ser humano tem o instinto natural de
buscar novos prazeres (em miúdos significa que todos sentem vontade de
pular a cerca).
Para Thaís Guedes, as mulheres precisam de grandes motivos para trair.
"Acho que nós sentimos total liberdade em fazer isso, quando não estamos
sendo agradadas por nossos parceiros, infelizes. E neste momento pode aparecer
alguém e fazer o papel contrário nessa história.Engrandece nossa autoestima,
nos deixa leve, linda, desejada,como se fôssemos as únicas mulheres da
face da Terra. Então, com certeza, se não gerar um sentimento maior vai
acontecer uma traição, pois foram aqueles que nos trouxeram a felicidade
quando mais precisávamos, nos deixaram momentaneamente felizes."
A verdade é que as mulheres logo vão se igualar aos homens. Elas
estão mais expostas a situações de "risco": dias sem fim no escritório,
viagens a negócio, suas viagens deixando ela sozinha, o personal trainer,
e por aí vai.
Ainda existem mulheres apaixonadas, loucas pelo parceiro, mas ao
surgir uma oportunidade a possibilidade de elas traírem é muito grande.
Porém, possuem um peso na consciência maior que os homens. Mas dependendo
de como está o relacionamento, passando por algum momento difícil, sem
culpa, sentem e acham muito justo repensar e saber o real significado dos
seus sentimentos.
Portanto rapazes, não pensem que se sua mulher o ama demais, você não
corre o risco. A base de tudo é a confiança, e o respeito. Em relacionamentos
baseados no respeito, sinceridade e afinidade é bem mais difícil acontecer
uma pulada de cerca.
A psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari lembra, contudo, que nossa
sociedade é patriarcal e machista. "Os homens são educados para não
desperdiçarem nenhuma oportunidade de demonstrar sua masculinidade e sexualidade,
e a traição masculina é melhor aceita do que a feminina." Mas, ao contrário
da repressão que vigorava no século XI, quando a mulher infiel a seu marido,
com consentimento da Igreja, era apedrejada em praça pública, hoje, ela
trai mais porque está se dando o direito de reconhecer a insatisfação no
relacionamento.
Matéria publicada no site Brasil em Dia em 16 de junho de 2007
Mulher - Adolescência - Amigos/Grupos - Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão
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