Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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A competitividade feminina sempre existiu e está relacionada à cultura
As mulheres são naturalmente competitivas. Começa lá na infância,
quando deseja ter uma boneca mais legal do que a da amiguinha. 'O que eu
acho mais interessante dessa coisa da competitividade feminina é que a
mulher faz tudo de forma velada, enquanto os homens declaram guerra abertamente',
fala a advogada Juliana Dias, 34. Ela conta que se afastou de uma colega
de trabalho, de quem era amiga, por conta disso. 'Notei que, além de ela
ter uma certa inveja do meu relacionamento. Passou a se vestir igual a
mim, mas decidi me afastar dela quando meu namoro acabou e eu a vi sorrir
disfarçadamente quando dei a notícia', recorda. '
A competitividade feminina está ligada à cultura. Ela sempre existiu,
pois das mulheres sempre é exigido o máximo: tem que ser boa como dona-de-casa,
mãe, esposa, profissional, em tudo. Então, nada mais 'natural' do que elas
competirem entre si a respeito de quem é a melhor, seja em que quesito
for', afirma a psicóloga Olga Tessari.
Já a rivalidade, quando surge, traz consigo o sofrimento, o ciúme,
a inveja, a irritação, a diminuição da autoestima - principalmente diante
de uma vitória da rival. Com isso, ocorre uma mudança de atitude. 'A depressão
leva a mulher a ter comportamentos fora do comum e exacerbados, como gastos
exagerados ou compulsivos para poder estar à altura da outra ou mesmo superá-la;
fazer jogos, alianças, acordos e estratégias; ser dissimulada. Isso geralmente
acontece com mulheres que se sentem inseguras com relação ao seu corpo
ou quanto à sua capacidade intelectual', ressalta Olga Tessari.
A psicóloga Silvana Martinsi tem uma visão parecida. Ela acredita
que competir em qualquer área é seguir regras, se preparar, desenvolver
competência, se superar. A rivalidade inviabiliza a competição, pois não
obedece a regras, desvaloriza competências e joga sujo com o adversário.
Para certas personalidades, diz ela, ser competitivo é uma característica,
mas entre as mulheres se intensifica pela educação recebida desde a infância
e pela forma como isso é levado para a vida adulta. 'O mundo em que vivemos
reflete o que existe em muitos lares. Quanto mais se valorizam as aquisições
materiais, mais se incentiva a competição desleal', opina.
Você já ouviu dizer que as mulheres se vestem para as outras mulheres?
É verdade. 'Tem dias em que cruzo com algumas mulheres na rua, elas
estão tão lindas, que fico me sentindo um lixo, mesmo se estiver arrumada',
confessa a economista Juliana Dias, 28. 'Eu vejo mulheres indo trabalhar
produzidas, cheirosas, e noto que os homens prestam atenção, mas as outras
mulheres prestam mais atenção ainda', analisa.
Disputa no trabalho
Se existe um lugar onde a competitividade e a rivalidade mais transparecem,
esse lugar é o ambiente de trabalho. Convivendo diariamente com as
mesmas pessoas, é fácil se tornar alvo de alguém cheio de más intenções.
Ao invés de se unir, muitas mulheres preferem apelar para uma porção de
artimanhas. 'Logo que entrei na empresa, tive problemas com uma colega
que, em vez de me ajudar a me integrar, fazia tudo para atrapalhar o meu
serviço. Não passava informações importantes, e tive de me virar sozinha',
conta a assistente de marketing Carolina Corrêa, 29.
De acordo com a psicóloga Olga Tessari, esse tipo de atitude acontece
porque muitas vezes as mulheres não conseguem separar a razão da emoção.
Na verdade, elas não pensam em prejudicar alguém de forma consciente. Porém,
quando a rivalidade se torna um problema crônico, é melhor avaliar a quantas
andam a maturidade e a autoestima. 'Enxergar todas as mulheres como rivais
é sinal de uma grande insegurança a respeito das suas capacidades. Mas
também pode revelar um problema de personalidade. Se a pessoa só consegue
manter uma boa autoestima quando se sente melhor do que as outras à sua
volta, precisa procurar apoio psicológico. Afinal, viver se comparando
aos demais é um belo convite ao estresse e à depressão', afirma.
Fuja antes do bote
Cientistas também comprovam a rivalidade feminina. Pesquisa de Mary Fisher, professora
do Departamento de Psicologia da Universidade York, no Canadá, publicada
em janeiro deste ano na versão online da revista britânica 'Proceedings
of The Royal Society' revelou que mulheres com alto nível de estrogênio
consideram suas rivais menos atraentes. Isso acontece durante o período
fértil - entre 12 e 21 dias após a menstruação. A psicóloga Olga Tessari
dá a dica de como driblar essa rivalidade. 'Para entender o que a leva
a se comportar assim é perceber suas táticas e agir no sentido de anulá-las,
fazendo-a repensar e alterar determinadas atitudes. É algo como ficar esperta
e fugir antes do bote. A melhor maneira de neutralizar uma rivalidade é
com educação e segurança. Qualquer outra forma, com certeza, vai intensificá-la''.
Matéria publicada no Amazônia Jornal em fevereiro/2007
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