Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página
Comer de forma excessiva motivado pelos sentimentos faz mal à saúde
Quando os sentimentos afetam nosso estômago na hora de comer, fazendo
com que a ansiedade, a raiva, a tristeza, aumentem nosso apetite, é preciso
tomar cuidado. Isso porque, comer levado pelos sentimentos pode trazer
sérios riscos para a saúde.
E para falar do assunto, o Portal de Comunicação Católica conversou por
e-mail com a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari. Leia os principais
trechos da entrevista:
Portal de Comunicação Católica– O que explica o fato de uma pessoa
comer demais após uma briga, discussão, ou antes de alguma apresentação
importante, ou mesmo por passar algum momento conturbado em sua vida?
Olga Tessari- Momentos conturbados são momentos de muita tensão,
o que gera a elevação dos níveis da ansiedade muito acima daqueles considerados
normais e aceitáveis, sem que causem algum prejuízo para o organismo. Quando
uma pessoa fica ansiosa, automaticamente, ela procura alguma forma de aliviar
esta tensão, pois ela traz consigo a manifestação de sintomas físicos ruins
que provocam mal estar (taquicardia, suor, tremores, etc.). Além de provocar
problemas de saúde se for mantida elevada em longo prazo: hipertensão,
gastrites, alergias, etc.
Portal de Comunicação Católica – Então a alimentação ajuda a acalmar
a pessoa?
Olga Tessari- Há pessoas que, quando se sentem ansiosas, ingerem
bebidas alcoólicas, outras tomam calmantes e outras tantas comem, justamente
buscando o alívio desta ansiedade, nem que ele seja temporário. Ao ingerirmos
um alimento, nosso organismo secreta substâncias que têm a função de nos
deixar mais tranquilos, mais relaxados, para que possamos fazer uma boa
digestão. Já pensou se você, logo depois de comer, mantivesse o ritmo acelerado
em que estava antes de alimentar-se? Certamente morreria de indigestão!
Portanto, se em algum momento da vida uma pessoa esteve muito ansiosa e
comeu naquele exato momento, ela acabou fazendo uma associação da ingestão
de comida com o estado de relaxamento que o ato de alimentar-se provoca
e passa a buscar a comida todas as vezes em que se sentir ansiosa justamente
para aplacar esta ansiedade.
Portal de Comunicação Católica– Quais são as principais motivações
que levam a pessoa a comer mais?
Olga Tessari- Temos que diferenciar o comer demais por causa
de determinados hábitos familiares ou culturais daquele comer em demasia
gerado por questões emocionais. Famílias judias e italianas, por exemplo,
tem o hábito de celebrar todos os acontecimentos com comida farta. As "mamas",
por sua vez, só ficam felizes se os familiares comerem uma grande quantidade
de alimentos, em geral, altamente calóricos praticamente em todas as refeições.
Na nossa cultura, temos o hábito de comemorar qualquer evento com uma mesa
farta de alimentos, o que pode levar as pessoas a comerem em demasia também.
Comer também é um dos prazeres na vida e, se sua vida carece de outros
prazeres, claro que você vai compensar a falta destes outros prazeres comendo
de forma exagerada. Como eu já disse, a ansiedade elevada também é um fator
que leva uma pessoa a comer em demasia, assim como estar entediada, irritada
ou com raiva sem saber como ou não ter condições de poder extravasá-la
da forma adequada (é como se ela usasse o alimento para "engolir" a sua
raiva); solidão, carências, perdas, planos que não dão certo, excesso de
obrigações, falta de lazer, privações ou outros conflitos emocionais também
podem levar a pessoa a comer mais do que o normal.
Portal de Comunicação Católica– Esse problema, pelo que li, é conhecido
como Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica. O que esse descontrole
alimentar pode causar à pessoa?
Olga Tessari- O excesso de peso é a consequência mais comum do
ato de comer compulsivamente, sem contar os problemas de saúde que a obesidade
pode acarretar. E, na medida em que a pessoa engorda, como ela não consegue
diminuir a sua "gula", sua autoestima diminui porque ela tem consciência
de que come em exagero, mas se considera incapaz de seguir uma dieta ou
de ingerir menos alimentos por mais do que alguns dias. Ela se sente fora
do padrão social (atualmente o padrão é ser magro, quase esquelético) e
começa a fugir de situações onde tenha que expor o seu corpo (praia e piscina
nem pensar!), sem contar que passa a ser discriminada no seu meio, além
de ter que conviver com comentários maldosos e ser motivo de piadas de
mau gosto.
Portal de Comunicação Católica- Acaba até se tornando um problema
social, de convívio interpessoal. O que mais pode acarretar?
Olga Tessari- Na medida em que ela se priva do prazer do convívio
com outras pessoas e de se locomover livremente por todos os lugares,
ela passa a comer mais ainda (lembre-se da substituição de outros prazeres
por comida). Todos estes fatores somados acabam por elevar ainda mais os
níveis de sua ansiedade, mais um fator que a leva a comer mais e mais,
o que faz com que a pessoa sinta sua autoestima cada vez menor, o que também
pode levar à depressão, justamente porque ela não vê saída para o seu problema.
Pessoas com excesso de peso são alvo fácil de pessoas inescrupulosas que
vendem "fórmulas milagrosas" para acabar com o excesso de peso, justamente
porque elas querem um resultado rápido por se sentirem incapazes de um
tratamento a longo prazo. Vale dizer que estas fórmulas mágicas muitas
vezes trazem mais problemas a sua saúde e nem sempre resolvem a questão
do excesso de peso.
Portal de Comunicação Católica– O que fazer para que esse hábito
prazeroso não afete a saúde das pessoas, sendo desculpa a ingestão de comida
para qualquer acontecimento?
Olga Tessari- Em primeiro lugar, descobrir os fatores que elevam os níveis
de ansiedade e aprender a lidar com eles de forma que não seja preciso
comer para aplacar a ansiedade. Além disso, procurar diversificar os seus
prazeres ao máximo, pois quando estamos envolvidos em uma atividade muito
prazerosa, dificilmente nos lembramos de comer. É importante aprender a
se alimentar de forma equilibrada, substituindo alimentos muito calóricos
por outros mais saudáveis e menos engordativos e, principalmente, ter equilíbrio
emocional.
Matéria publicada no site Portal Católico por Rodrigo Herrero em 22/07/2008
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