Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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A figura de provedor abre espaço para um homem mais presente no dia-a-dia dos filhos
Os papais vêm passando por mudanças interessantes de comportamento nas últimas décadas. Eles estão passando a dividir mais a tarefa de cuidar dos filhos com as companheiras. Em parte tal fato acontece devido à emancipação feminina, mas é interessante notar que em boa parte dos casos é o pai que busca isso. Deixa de ser somente a figura do "provedor" para dar uma mãozinha à mulher. E o que é melhor: está aceitando muito bem essa nova forma de exercer a paternidade.
A psicóloga e pesquisadora Olga Inês Tessari confirma. Segundo ela, o pai de hoje, embora em muitos aspectos continue sendo o mesmo de sempre por conta da educação machista, pasmem, reforçada pela mãe, está em fase de mudança, está mais presente, mais interessado no desenvolvimento de seus filhos e na manutenção de um bom relacionamento com eles. E a tendência não é brasileira. Uma pesquisa realizada há alguns anos, nos Estados Unidos, mostrou que 70% dos homens abdicariam facilmente de um salário mais alto em troca de mais tempo com a prole. Enquanto isso, entre as mulheres, esse percentual chegou a 63%.
A seu ver, isso se dá por conta de toda uma mudança de conceitos que passa pela família e chega até a empresa, onde se começa a pensar em qualidade de vida, para que o pai passe menos tempo em seu trabalho, que tenha mais lazer com a família. Esse fator, sabe-se, diminui o stress e evita o surgimento de muitas doenças, algo que, em última instância, é bom para todos: família, empresa, funcionários, governo e sociedade.
Essa nova, vamos dizer, configuração do pai fez com que muita gente considerasse o fim da posição dele como chefe da família. Porém, Olga Tessari não vê assim. Para ela, o pai continua sendo o chefe da família, a autoridade máxima porque a mulher ainda alimenta nele este status/poder, mesmo que ele não seja mais o provedor principal. A questão é que, com sua ida para o mercado de trabalho, com menos tempo disponível para cuidar da casa, marido e filhos, a mulher passou a delegar alguns dos seus papéis para ele.
"Não creio que isto fira o orgulho dele. Pelo contrário, torna-o menos machista - machista no sentido de considerar que os cuidados com os filhos são atribuição exclusiva da mulher, cabendo a ele apenas o sustento financeiro", explica.
O maestro Carlos Taubaté, que há dois anos se separou da mulher e cuida da filha de seis anos, não vê uma perda de "autoridade" da figura do pai, mas a mudança para uma relação mais dialética com os filhos. A questão, opina, não é tanto que há mais participação, e sim que há mais interação. Há, então, muito mais qualidade na relação.
O resultado são filhos mais sensíveis, equilibrados, acredita. Taubaté cozinha, faz tarefa junto com a filha, brinca de boneca e vê isso como algo muito interessante. "A menina vai ter uma relação com a masculinidade mais serena e equilibrada. Eu choro com minha filha, me emociono, isso ajuda a romper os paradigmas", frisa.
É o tipo de relação que, confessa, desejava ter tido com o pai. Ainda que ele fosse mais sensível, mais doce, é de uma geração intermediária que ainda tinha muito forte a questão da autoridade, explica. Acredita que tenha adquirido a visão que tem hoje de uma relação mais interativa e equilibrada porque mesclou um pouco do que herdou da postura mais sensível do pai com a personalidade própria.
A psicóloga lembra que uma parte dos papais atuais está aceitando tal situação pela necessidade mesmo, porque a mulher precisa ajudar no orçamento ou ainda por uma questão de realização pessoal. Mas, na maioria dos casos, acha que prevalece a mudança paulatina de visão de seu papel e do interesse em acompanhar o desenvolvimento da prole, passo a passo. Já Taubaté vê aí também o que chama de emancipação da masculinidade delicada. "Para ser masculino não tem que ser rude. É o homem mais feminino, sem ser afeminado", define o músico paulista de 42 anos.
Independente do estilo dele, Olga Tessari aponta como importante a figura do pai na formação dos filhos. Ao pai cabe o papel de fazer cumprir a lei, a ordem, as regras familiares, mostrar ao filho o mundo como ele é, diferentemente da mãe que tem por hábito ser mais tolerante, mais protetora, aquela que coloca "panos quentes" e que fantasia ou camufla um pouco a realidade para seus filhos, explica.
"É fundamental a participação do pai no desenvolvimento do filho e nas várias atividades para que haja um bom relacionamento entre eles, para que o filho possa aprender a lidar com limites", avisa.
E no caso da formação da personalidade, ambos são importantes, salienta. "Quando nascemos, somos como uma tela em branco que vai sendo preenchida aos poucos. A primeira referência de vida são os pais e vemos o mundo através dos olhos deles". A influência maior, no entanto, cabe àquele que convive melhor com seu filho, não necessariamente aquele que passa mais tempo com ele. O que não quer dizer que somente o que dá mais atenção ao filho seja o grande influenciador na personalidade dele. "Há uma série de variáveis que interferem, como a forma de tratamento dada ao filho, a coerência entre o que se faz e o que se fala, etc...", esclarece.
E a idade? Será que há uma que é a ideal para ser pai? O designer gráfico Eduardo Cunha, de 28 anos, acha que sim. Com um filho de seis anos, com quem convive bastante graças ao fato de trabalhar em casa, ele defende que uma menor diferença de idade entre os dois promove uma maior aproximação, uma maior identificação. É como se fossem dois moleques que se divertem igualmente com as mesmas coisas, define. "Jogamos bola, brincamos de carrinho, jogamos game. Sou como o irmão que ele não tem para brincar", diz.
Segundo a psicóloga Olga Tessari, na realidade, o que conta é a idade mental, não a cronológica. "O importante é este pai ser participativo, presente, cooperador: ele necessita de um tempo disponível para exercer este papel".
Homens mais maduros e mais estáveis economicamente podem ser melhores pais do que aqueles que ainda estudam, que lutam por um emprego melhor ou que têm outras preocupações mais importantes num primeiro momento, como a própria sobrevivência profissional, a construção da carreira ou a compra de uma casa do que ser pai, lembra. Já o pai mais maduro saberá educar melhor seu filho, irá prepará-lo melhor para o mundo lá fora, acrescenta Olga Tessari.
"Não podemos nos esquecer de que os filhos são criados para o mundo, um dia eles alçam vôo na vida e cabe aos pais ensiná-los como "voar bem" no mundo!", alerta Olga Tessari.
Consultoria: Dra. Olga Inês Tessari, Psicóloga, Psicoterapeuta e autora dos livros "Dirija sua vida sem medo - Caminhos para solucionar os seus problemas" e "Amor X Dor: As várias faces do amor e da dor - Caminhos para um relacionamento feliz!"
Matéria publicada na Gazeta Digital - Ed 5772 - 12/08/2007 por Luiz Fernando Vieira
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