Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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A diferença de idade, por si só, não determina o sucesso ou o fracasso de uma relação.
O importante, em todas as situações, é o entrosamento entre o casal, tanto fisicamente quanto no lado emocional. Pessoas com idades diferentes podem se amar, se compreender e compartilhar a vida, desde que haja respeito, confiança e paciência com as diferenças inerentes à essa situação. Na verdade, o que importa em um relacionamento, segundo a psicóloga e psicoterapeuta paulista Olga Inês Tessari, autora do livro "Dirija a sua vida sem medo", é a idade mental e emocional de cada um, ou seja, a forma como as experiências de vida são encaradas e absorvidas. "Existem pessoas que aos 40 anos comportam-se como verdadeiros adolescentes, assim como há jovens de 20 que agem e pensam como adultos. O importante é encontrar um par com ideais, valores e cultura semelhantes, independente da idade cronológica." As chances de um relacionamento como esse durar, na opinião da psicóloga, são as mesmas de qualquer outro, porque o que importa é a boa convivência, o respeito mútuo e os interesses em comum.
A atração por uma pessoa mais velha pode ser comparada à preferência por indivíduos mais dóceis ou àqueles mais combativos. "Se não houver preconceito de nenhuma das partes e se ambos souberem lidar com as pressões sociais e familiares, o relacionamento deve ser vivenciado intensamente como qualquer outro", afirma. De acordo com Olga, ainda hoje existe a "regra social" de que a mulher deva ser mais jovem do que o homem em um relacionamento afetivo. "Isso é puro machismo, pois baseia-se na suposição de que mulheres com idade inferior à dos homens são mais fáceis de serem manipuladas." A relação entre casais com idades diferentes pode se fortalecer com o decorrer do tempo, se as pessoas estiverem realmente interessadas pelo ser humano que está ao seu lado. Porém, se a base do relacionamento for apenas um jogo de projeções, estará fadado ao fracasso. Isso acontece porque muitas vezes a diferença de idade reflete uma busca obsessiva de encontrar no outro aquilo que o indivíduo julga não ter.
Uma jovem pode, por exemplo, se sentir atraída por um homem mais velho muito mais pela imagem idealizada que tem deste parceiro. "Se ela o admirar apenas por sua experiência de vida e conquistas pessoais e profissionais, o risco é de se iludir com esta imagem idealizada e não se aprofundar no conhecimento do parceiro e, com o tempo, entediar-se com a relação." No caso da pessoa mais velha, o perigo aparece quando a relação é uma tentativa de negar o processo de envelhecimento, de voltar a ser jovem através da companhia de alguém muito mais novo. "Com o passar do tempo, vê que isso é impossível e se frustra, o que, fatalmente terá uma influência negativa na relação", diz a psicóloga.
Para a sexóloga Yara Monachesi, ainda hoje, casais em que o homem é muito mais velho do que a mulher são mais aceitos socialmente do que aqueles em que ocorre o inverso. "As mulheres também estão se relacionando com homens mais jovens, mas isso parece causar estranheza, reflexo dos preconceitos sociais a que elas ainda estão expostas." Para que relacionamentos desse tipo possam ser duradouros e estáveis é importante que o casal tenha consciência que irá enfrentar preconceitos e rejeição, familiares ou sociais. "Pessoas que valorizam excessivamente o julgamento social e procuram sempre agradar a todos, pautando seu comportamento pelas regras do politicamente correto terão maiores dificuldades para proteger-se dos ataques preconceituosos", afirma Yara. A certeza de que tem direito a ser autêntico e coerente com seus desejos, fortalece o casal, facilitando sua inserção social.
Fatores que comprometem relação
A chance de um relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais novo funcionar existe, mas não é regra, segundo o psicólogo Ailton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo, autor de livros como "O Mapa do Amor" e "Para Viver um Grande Amor", ambos da editora Gente. "No mundo todo, não há uma cultura na qual a mulher mais velha seja valorizada. Mas existem exceções; eu mesmo já tive pacientes que se interessavam por mulheres mais velhas", diz. O maior problema nesse tipo de relacionamento é a atração física, segundo o psicólogo. A mulher atinge seu auge sexual aos 40 anos, mas o auge físico é aos 25, com ausência de rugas e seios firmes. "O homem está sempre em busca de mulheres provocantes, insinuantes e que exalem desejo."
As mulheres aceitam melhor a diferença de idade por causa de compensações como estabilidade psicológica e financeira.
Já os homens, não. "Em geral, os relacionamentos de mulheres mais velhas com homens mais jovens são instáveis e temporários."
Também é muito raro um casamento dar certo se a diferença do nível de escolaridade dos dois for muito grande, de acordo com Amélio. Independente da diferença de idade, casamentos que acontecem muito rapidamente têm poucas chances de funcionar. "As pessoas têm de namorar antes de casar. Não se conhece o caráter de alguém em três meses", diz. Segundo dados do IBGE, em um primeiro casamento os homens preferem mulheres três anos mais jovens do que eles. Em uma segunda união, a diferença aumenta para nove anos. Estudo da Fundação Seade mostra que apenas 14% dos homens preferem mulheres mais velhas - ainda assim, o limite é de cinco anos de diferença, na maioria dos casos.
Depoimento:
A paciência e o respeito foram fundamentais para o sucesso do meu casamento, afinal meu marido é 16 anos mais velho que eu. Quando o conheci tinha 18 anos e estava no auge. Só pensava em sair, beber com os amigos, dançar. Queria mesmo me divertir e ele já tinha passado por tudo isso, estava em uma fase mais caseira, gostava de ouvir música, sem muita agitação. Para que não houvesse atritos, ele me deixava sair sozinha. Nunca me impediu de fazer nada. É claro que para isso é preciso ter confiança mútua, porque as pessoas adoram falar da vida dos outros e tenha certeza que ele ouviu vários sermões.Penso que, por causa da minha personalidade, se fosse o contrário, não teria sido tão paciente. Ele teve facilidade de aceitar a minha imaturidade na época e foi mais aberto às diferenças, bem mais do que eu. As vantagens de estar com um homem mais experiente, é que tenho a oportunidade de aprender com exemplos de vida. Acredito que erro menos desde que estou com ele, pelas histórias que conta, situações pelas quais já passou. Outro fator importante para que a relação funcione é aceitar o ritmo dos amigos de cada um. Os amigos do meu marido, por exemplo, são bem mais velhos que eu e gostam de coisas bem diferentes. Eu respeito, porque ele tinha uma história de vida antes de me conhecer e essas pessoas fazem parte dela. A.L.C., 27 anos, relações-públicas, casada há cinco anos.
publicada no DiarioWeb por Fabíola Zanetti
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