Olga Tessari

A vingança corre nas suas veias?

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

Querer dar o troco em um namorado infiel é normal e, comprovam os cientistas, traz prazer mesmo. 

Mas existe um jeito de extravasar a raiva sem descer do salto nem ser prejudicada depois. 

Armar o maior barraco em público ao descobrir uma traição está totalmente fora de moda. O que tem feito muitas de nós se sentirem vingadas de fato é botar a ficha do criminoso na internet, com direito a foto e detalhes do desempenho sexual, para alertar futuras "vítimas" dos riscos que correm. Pelo menos é o desejo de centenas de mulheres do mundo todo, inclusive brasileiras, quando se cadastram no polêmico site americano Don't Date Him, Girl! (Não saia com ele, garota!). Ok, a atitude é ultra-arriscada — afinal, bancar a internauta em fúria pode detonar um processo por difamação. Mas que dá vontade de imitar a Uma Thurman no filme Minha Super Ex-Namorada e arruinar a vida do ex usando mega poderes... ah, isso dá. Faz parte dos nossos instintos querer dar o troco: estudos comprovam que a vingança aciona uma região do cérebro responsável pelo prazer da recompensa. Ou seja, ver um traidor pagar pelo erro equivaleria a receber um aumento de salário! 

Foi mais ou menos essa a sensação experimentada pela arquiteta Caroline*, de 28 anos, enquanto marretava o carro do enganador e, mais tarde, curtia uma noite de luxúria com o primo dele. Tanta ira tinha motivo: três semanas antes de subir ao altar, ela descobriu que o miserável dormia em cama alheia havia seis meses! Outra que soltou os demônios foi a esteticista Melissa, de 35 anos. Depois de ficar viúva, soube que o marido recebera uma declaração de amor da melhor amiga dela. Então, foi à casa da traidora quando sabia que apenas a faxineira estava lá. Abriu os armários e queimou todos os sapatos e roupas da dissimulada em uma fogueira no quintal. 

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas. 

Você é oito ou 80? 

E depois dizem que a vingança é um prato que se come frio. Que nada. Quem foi traída quer ver sangue — mas se age por impulso quase sempre se arrepende e, pior, paga um preço alto pelo momento de fúria. Melissa está aí para provar. Ela sentiu uma alegria inenarrável enquanto a fogueira de roupas ardia no quintal. Apenas na delegacia (a outra prestou queixa pelo "incêndio", claro) viu o tamanho da encrenca em que se meteu. Além de responder ao processo, perdeu a amiga: "Sei que não foi leal escrever a carta para o meu marido, mas, hoje, entendo que deve ter sido doloroso viver um amor não correspondido", admite. Esse turbilhão de sentimentos é semelhante ao efeito das drogas, segundo a psicóloga Ana Stuart: na hora da vingança, a adrenalina corre pelas veias e o prazer é grande. "Depois, costuma dar uma depressão danada e a pessoa percebe que não adiantou — não trouxe o amado de volta", diz. 

"Vingança não tem a ver com justiça por ser cometida à luz de uma única perspectiva: a da pessoa ferida", alerta Ana. E nem sempre esses motivos são os certos. "Quem se dá o direito de punir na maioria dos casos não quer compreender a outra parte. Às vezes, nem enxerga que ele mesmo pode ter contribuído para a situação", completa Marcelo Toniette, psicólogo, psicoterapeuta e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Ana concorda: "Não existem culpados e inocentes nas relações. Mesmo que de forma inconsciente, em muitos casos somos nós quem permitimos que essas coisas nos aconteçam". Caroline chegou a essa conclusão. "Estava centrada na minha carreira e nos preparativos do casamento, e ignorei os indícios de que a relação ia mal. Preferi me enganar e acreditar que tudo se resolveria com o 'sim'", reconhece. 

Vontade de esganar 

E se a cólera persistir? A psicóloga Olga Tessari sugere recorrer à técnica do desenho animado: "No pensamento, vale tudo. Você pode imaginar que ele está explodindo, caindo de um penhasco..." Outro jeito é pensar na reparação. "Tente não desperdiçar energia para dar um corretivo no outro e foque em curar as suas feridas", ensina Ana. Há casos em que nem é preciso se abalar. Quem não sabe de histórias de infratores arrependidos mendigando para voltar? Segundo a psicóloga, a grande desforra é aquela que a sua avó já aconselhava: a indiferença. Não é fácil, mas possível. E você nem suja as mãos. 

A réplica light 

Não é que você deva encarnar a santa com coroa, mesmo porque reprimir o que sente dá até gastrite. Apenas considere que tem jeito de extravasar a raiva sem se prejudicar ainda mais. Regina Barreca, professora na Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, e autora de Doce Vingança — Os Prazeres Perversos da Desforra (Record), dá um parâmetro para quando sentir vontade de punir aquele infeliz que a machucou. "Imagine se conseguiria contar seus planos de vingança às amigas e rir da história junto com elas. Caso se envergonhe da ação, é sinal de que estava prestes a ir longe demais", ensina, sugerindo uma réplica, digamos, light. Vamos supor que flagre o namorado com sua colega de trabalho. Em vez de fazê-los perder o emprego, os amigos ou humilhá-los até implorarem perdão, que tal se inspirar na atitude da leitora Márcia? Trocada por outra da noite para o dia, ela aguardou a chance de marcar encontro com o falsário numa festa e, quando o sujeito veio cheio de bossa, tascou um beijo... no amigo dele, um antigo paquera de quem estava a fim. 

Acerto de contas 

Rejeitadas pelo homem que amavam, estas leitoras mataram a sede de vingança sem partir para atitudes extremas. 

"Um namorado vivia dizendo que, apesar de bonita, eu estava gorda. Quando terminamos, entrei na academia decidida a ficar repaginada em seis meses. Emagreci 6 quilos e até mudei o corte de cabelo. Nos reencontramos por acaso na praia e ele veio com aquela frase: "Uau, como você está linda!" Aproveitei a deixa para comentar: "Nossa, você não tinha essa barriga!" - GISLAINE, CURITIBA, PR 

"Na época da faculdade, meu namorado me deixava em casa e saía com outra. Quando descobri, reuni as duas famílias e contei tudo — o pai dele ficou uma fera e até "confiscou" o carro. Daí, entrei em depressão, mas logo conheci um homem maravilhoso, com quem estou até hoje. Meu ex terminou com a garota pouco tempo depois — porque ela só estava interessada em dinheiro — e me pediu perdão. Hoje, ele ainda sofre pelo que fez. Mas não tem jeito, a gente colhe o que planta." - KAREM, JI-PARANÁ, RO 

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas. 

Matéria publicada na Revista Nova - Edição 430 - Editora Abril 

Outros textos disponíveis para leitura: 

Adolescência -  Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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