Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Cada vez mais anos de vida!
Nós, seres humanos, nascemos, crescemos, começamos a ficar cabeludos,
atingimos uma determinada altura e, depois, começamos a encolher...
o cabelo cai, a pele enruga, os dedos entortam, as pernas tremem, os joelhos
doem, falta equilíbrio e reflexo. Esse é um processo lento e gradativo
que podemos acompanhar nos outros ou pelo espelho. Isso se chama viver.
Na terceira idade, quando estamos descendo a curva da vida, marcada
dos 60 aos 80 anos, a aposentadoria já chegou, os filhos já se encaminharam
na vida e há a idéia de que se acabou a missão. Mas ao contrário do que
muitos idosos pensam, ainda há muito a se fazer. Chegou uma das melhores
horas de aprender coisas novas, colecionar coisas interessantes ou até
dar uma de artista. Muitas pessoas, quando chegam na terceira idade se
sentem perdidas e até inúteis porque acreditam que já cumpriram as suas
obrigações e não há mais nada a fazer. "A mulher não precisa mais cuidar
dos filhos, o homem não é mais o responsável pelo sustento da família.
As pessoas passam a vida em função de um determinado objetivo e, quando
ele é alcançado, elas passam a acreditar que não são mais produtivas",
explica Olga Inês Tessari, especialista em terceira idade, psicóloga e
psicoterapeuta.
Segundo o Plano de Ação Internacional sobre Envelhecimento das Nações
Unidas de 1982, acompanhando a orientação da Divisão de População,
quando o indivíduo alcança os 60 anos ele também conquista o patamar que
o caracteriza como participante do grupo idoso. Porém é usual, em demografia,
definir 60 ou 65 anos como o limite que define a população idosa, como
explica em seu texto sobre o Envelhecimento da população brasileira, o
professor Morvan de Mello Moreira, do Instituto de Pesquisas Sociais da
Fundação Joaquim Nabuco (PE), acrescentando que "por envelhecimento populacional
entende-se o crescimento da população considerada idosa em uma dimensão
tal que, de forma sustentada, amplia a sua participação relativa no total
da população."
A população com mais de 60 anos no Brasil é de aproximadamente 16 milhões
de pessoas, ou seja, 9,3% do universo dos 181 milhões de brasileiros,
conforme a pesquisa divulgada no início de 2006 pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). O Relatório Nacional sobre o Envelhecimento
da População Brasileira, um dos mais completos documentos já produzidos
sobre o assunto, resultante de um trabalho coordenado pelo Itamaraty e
que contou com ampla participação de órgãos do Estado e entidades da sociedade
civil, destacou que o envelhecimento da população brasileira se evidencia
por um aumento da participação do contingente de pessoas maiores de 60
anos de 4% em 1940, para 9% em 2000 e do seu crescimento gradativo a cada
ano. Além disso, a proporção da população acima de 80 anos tem aumentado,
alterando a composição etária dentro do próprio grupo, o que significa
que a população considerada idosa também está envelhecendo. Assim, a terceira
idade representa o segmento populacional que mais cresce no Brasil.
O relatório aponta que as mudanças ocorridas na estrutura populacional
acarretam uma série de conseqüências sociais, culturais, econômicas, políticas
e epidemiológicas, para as quais o país não está ainda devidamente preparado.
Esse salto representa um fator de pressão importante para a inclusão do
tema na agenda de prioridades do governo. Segundo o professor João Bakker,
faltam políticas públicas sociais para essa clientela. "Não é que não se
tem intenção de fazê-las, mas existem prioridades que são atendidas mais
rapidamente em detrimento daquilo que poderia ser oferecido ao idoso".
Ações eficazes e oportunas devem ser adotadas para que essa faixa etária
cresça não só em termos quantitativos, mas também com melhor qualidade
de vida: o viver bem não apenas o viver mais. Contudo ainda é enorme o
distanciamento entre a lei e a realidade dos idosos no Brasil.
Os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm diversas dimensões
e dificuldades: influencia o consumo, a transferência de capital e
propriedades, impostos, pensões, mercado de trabalho, saúde e assistência
médica, a composição e organização familiar. É um processo inevitável e
não uma apatia social. Portanto, não deve ser tratado apenas com soluções
médicas e emergenciais, mas também por intervenções sociais, econômicas
e ambientais permanentes.
A política pública de atenção ao idoso, adotada pelo Brasil, se relaciona
com o desenvolvimento socioeconômico e cultural, bem como com a ação reivindicatória
dos movimentos sociais e da sociedade civil, através das organizações não
governamentais e associações. A Política Nacional do Idoso, estabelecida
em 1994 pela Lei 8.842, criou normas para os direitos sociais dos idosos,
garantindo autonomia, integração e participação efetiva como instrumento
de cidadania (livre escolha do voto, trabalhos alternativos, atividades
lúdicas gratuitas, sindicatos de aposentados etc.). Essa lei foi requerida
pela sociedade, a partir do período de redemocratização do Brasil em 1988,
sendo resultado de inúmeras discussões e consultas ocorridas nos estados
e municípios, das quais participaram idosos ativos, aposentados, professores
universitários, profissionais da área de gerontologia e geriatria e várias
entidades representativas desse segmento. Esse grupo elaborou um documento
que se transformou no texto base da lei.
Entretanto, essa legislação não tem sido eficientemente aplicada e não vem
colhendo frutos positivos para com a clientela que deveria atender. Isto
se deve a vários fatores que vão desde contradições dos próprios textos
legais até o desconhecimento de seu conteúdo pela sociedade, pelo mercado
e pelo Estado. De acordo com membros do Ministério Público, algumas deficiências
da Política Nacional do Idoso são a falta de especificação da lei que venha
a contribuir para criminalizar a discriminação, o preconceito, o desprezo
e a injúria em relação ao idoso, assim como para publicidades preconceituosas
e outras condutas ofensivas; dificuldades em tipificar o abandono do idoso
em hospitais, clínicas, asilos e outras entidades assistenciais para que
haja punição aos seus parentes; falta de regulamentação criteriosa sobre
o funcionamento de asilos, sendo preciso que a lei especifique o que devem
essas entidades disponibilizar para a clientela, quem deverá fiscalizá-las
e qual a punição para os infratores.
A Política Nacional que objetiva criar condições para promover a longevidade
com qualidade de vida, colocando em prática ações voltadas para os que
já envelheceram e para aqueles que ainda farão parte dessa faixa etária,
lista as competências das várias áreas e seus respectivos órgãos. A implantação
dessa lei estimulou a articulação dos ministérios setoriais para o lançamento,
em 1997, de um Plano de Ação Governamental para Integração da Política
Nacional do Idoso. São nove os órgãos que compõem esse Plano: Ministérios
da Previdência e Assistência Social, da Educação, da Justiça, da Cultura,
do Trabalho e Emprego, da Saúde, do Esporte e Turismo, do Transporte, Planejamento
e Orçamento e Gestão.
Hoje, na relação do que compete às entidades públicas, encontram-se
importantes obrigações como estimular a criação de locais de atendimento
aos idosos, centros de convivência, casas-lares, oficinas de trabalho,
atendimentos domiciliares e outros, além de apoiar a criação de universidades
abertas para a terceira idade e impedir a discriminação do idoso e sua
participação no mercado de trabalho. Segundo alguns especialistas, para
que a situação atual se modifique, é preciso que ela continue a ser debatida
e reivindicada em todos os espaços possíveis, pois somente a mobilização
permanente da sociedade é capaz de configurar um novo olhar sobre o processo
de envelhecimento dos cidadãos brasileiros.
Todos os indivíduos, sejam eles formadores de opinião ou não, pertencem,
de alguma forma, à sociedade civil. A Uninter.com convida seus leitores
para que nestas férias de julho conheçam um pouco mais, ou a fundo, a Política
Nacional do Idoso e do Estatuto do Idoso. Certamente deve haver um idoso
na família e algum dia, cedo ou tarde, você será um deles. Conhecer direitos
e deveres também é sua responsabilidade como cidadão. Esse tema, aqui abordado,
é só um pequeno recorte do universo imenso da cidadania, de liberdades
e limites em que vivemos. Aproveite também para ir criando uma opinião
sólida e embasada para as eleições deste ano.
Matéria publicada no site do Grupo Uninter nº 11 - 1ª quinzena julho/2006
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