Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página
Perdoar é possível?
A psicóloga e pesquisadora Olga Tessari é autora do livro "Dirija sua
vida sem medos". Nesta entrevista ela fala sobre traição, casamento, sobre
as dificuldades dos relacionamentos modernos e principalmente sobre perdão.
"Há uma grande diferença entre relevar e perdoar."
Veja entrevista na íntegra no final dessa página.
Nem estrelas de Hollywood lindas e vencedoras do Oscar, como Sandra Bullock,
estão livres da traição conjugal. Após o constrangimento, as desculpas.
Mas você perdoaria?
Logo após ganhar o Oscar de melhor atriz pela interpretação no drama "Um
Sonho Possível", a norte-americana Sandra Bullock virou assunto da mídia
por outro motivo. Ou outros motivos. As revelações das várias traições
do marido, o empresário Jesse James, colocaram a atriz nos holofotes de
uma forma constrangedora, em um momento que deveria ser festivo. Ao invés
de comemorar a primeira vitória no prêmio máximo do cinema norte-americano,
Sandra evitou a imprensa, saiu de casa, desmarcou compromissos de divulgação
do filme e contatou seus advogados para colocar um fim na relação de 5
anos. James veio a público se desculpar "pela dor e constrangimento que
causou à mulher e aos filhos", mas não chegou a assumir os casos que teria
vivido com a fotógrafa Brigitte Daguerre, a stripper Melissa Smith e a
modelo Michelle McGee.
Porém, Brigitte e Melissa deram entrevistas contando detalhes dos casos.
O site de celebridades norte-americano "TMZ" já havia noticiado que
James e uma ex-funcionária de sua empresa, a West Coast Choppers, chegaram
a um acordo extrajudicial em 2007 após uma denúncia por assédio sexual
no trabalho. No dia 15 de março, 1 dia antes da publicação da entrevista
de Michelle, Sandra Bullock deixou a residência em que morava com o empresário
em Los Angeles (EUA), e cancelou sua visita a Londres (Inglaterra) para
promover seu filme.
Há quem diga que a "namoradinha da América", como Sandra é conhecida nos Estados
Unidos, esteja vivendo a "maldição do Oscar", já que há uma longa sequência
de atrizes que viram o relacionamento desmoronar pouco depois de ganharem
o tão cobiçado prêmio. A lista inclui Hilary Swank, Halle Berry, Reese
Witherspoon e Julia Roberts. "É por causa dos meus erros de julgamento
que mereço tudo de ruim que está vindo em minha direção", disse James à
revista "People".
Escândalos envolvendo traições e separações são comuns no mundo das
celebridades e alguns têm finais felizes.
É o caso do jogador de golfe Tiger Woods, que recentemente assumiu
ter tido casos extraconjugais, se internou em uma clínica de reabilitação
(mesmo caminho do marido de Sanda Bullock), perdeu diversos patrocínios,
mas, após um pedido público de perdão, reconquistou a esposa, a ex-modelo
sueca Elin Nordegren e deve voltar ao esporte nos próximos dias.
E quem não se lembra do episódio Monica Lewinsky? Em 1998, o mundo
todo ficou sabendo, com riqueza de detalhes, do romance extraconjugal que
o então presidente norte-americano Bill Clinton mantinha com ela, na época
uma estagiária da Casa Branca. Embora ninguém se esqueça do caso Lewinsky,
a esposa de Clinton, Hillary, conseguiu reverter a situação positivamente
e apagar sua imagem de mulher resignada e digna de pena, se tornando a
atual secretária de Estado dos Estados Unidos. "Nunca duvidei do amor de
Bill, nunca duvidei de minha confiança e responsabilidade para com nossa
filha e nossa família", afirmou Hillary no período em que foi pré-candidata
à presidência dos Estados Unidos.Se a traição na maioria dos casos destrói
lares felizes, carreiras políticas e romances perfeitos, em algumas situações
também pode revolucionar de forma positiva a vida das pessoas.
O escritor e filósofo russo Vassili Vassilievitch Rozanov (1856-1919)
escreveu: "Das grandes traições iniciam-se as grandes renovações."
E o perdão também é uma renovação, se for dado de forma legítima. É o que
dizem especialistas como a psicóloga Olga Tessari (veja entrevista no final
dessa página).
Há até quem defenda que o perdão pode ser aprendido.
Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriram
ser possível aprender a perdoar por meio de treinamento que dura 6 semanas,
com sessões de 90 minutos de palestras. O estudo foi realizado com 259
pessoas, com idade média de 40 anos, das quais 70% tiveram redução nos
sentimentos de dor, 13% no ódio que sentiam e 27% nos sintomas físicos,
caso de dores nas costas. Entre os entrevistados, 34% relataram aumento
da vontade de perdoar as pessoas que os magoaram.
A atriz brasileira Paula Burlamaqui não teve tanta sorte. Ao ser flagrada
aos beijos no carnaval com o modelo Rodrigo Peirão, perdeu o namorado
Daniel Alvim, com quem mantinha um namoro havia mais de 2 anos. "Foi uma
bobagem, uma burrada, um vacilo. Sou apaixonada pelo Daniel." afirmou a
atriz na época. Parece que o ator não se convenceu.
O ator inglês Hugh Grant também não convenceu facilmente sua esposa
na época, a belíssima atriz Elizabeth Hurley, de suas boas intenções. Em
1995 Grant foi preso em Los Angeles por fazer sexo dentro de um carro com
a prostituta Divine Brown. Após um período separados, os dois tentaram
uma reaproximação, mas em 2000 se separaram definitivamente.
Apesar das grandes proporções que os deslizes dos famosos tomam,
a mágoa, a dor e o estresse causados por uma traição são iguais para qualquer
casal. É o que diz Oswaldo Martins Rodrigues Júnior, diretor do Instituto
Paulista de Sexualidade: "É importante que os dois juntos estabeleçam os
limites do relacionamento e acertem o que consideram traição. Porque muitas
vezes o que um acredita ser traição não é nada demais para o outro e isso
pode causar um desgaste difícil de restaurar."
Entrevista com a psicóloga Olga Tessari:
É fácil perdoar uma traição?
Olga Tessari: Não é fácil. Mas dependendo do tipo de relação, da história
do casal, de como essa traição foi explicada e principalmente da dedicação
de ambas as partes em reconstruir o que foi perdido é possível sim. Mas
é importante ressaltar que perdoar não é o mesmo que relevar. A maioria
das pessoas acaba relevando por causa dos filhos, por medo de ficar sozinha
ou para não perder o status social, mas cultiva a mágoa. E perdoar é muito
mais complexo.
O que determina o perdão verdadeiro?
Olga Tessari: O perdão pede alguns passos que devem partir das duas partes.
Quem traiu deve reconquistar e ter paciência com o que foi traído,
que passará por um período de vigilância severa. Vai vasculhar telefone,
e-mail, carteira, vai tocar no assunto o tempo todo. Aí geralmente quem
traiu se irrita com esse comportamento, mas precisa entender que a confiança
foi quebrada e precisa ser restabelecida. Outro passo muito difícil, porém
necessário, é que a pessoa que foi traída ouça a outra parte e tente entender
também sua parcela de culpa. Não adianta apenas se vitimizar. No caso da
mulher, será que ela não passou a ser mais mãe do que esposa? Será que
não se esqueceu do marido para cuidar apenas da rotina familiar? Não é
fácil pensar assim na hora, mas é necessário se o casal realmente quiser
ficar bem.
Há formas de evitar que essa traição aconteça? O que o casal pode
fazer para cuidar melhor da relação?
Olga Tessari: Dedicar um tempo para namorar é essencial. O casal
deve reservar uma hora que seja na semana para tomar um café, ir ao cinema,
se divertir longe dos problemas, da rotina da casa, estar a sós. Mas um
conselho importante, principalmente à mulher, é que não aproveite justamente
este dia para discutir a relação. Escolha outro momento. E quando for discutir,
não fique apenas no papel da acusadora. Fale o que incomoda, mas deixe
que ele tome as atitudes. Não dê ordens. E deixe-o falar também. Saber
ouvir faz toda a diferença. Eu me lembro de um caso em que a mulher dizia
"mas foi ele que me traiu, por que eu preciso mudar meu comportamento?"
E o comportamento dela era fazer com que ele ficasse totalmente anulado
na relação. Ela não dava a mínima atenção para ele. Depois de muito trabalho
para que ela entendesse isso, o casal se reconciliou e hoje eles estão
felizes.
Matéria publicada na Folha Universal em abril/2010
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