Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Criatividade
A criatividade faz parte do processo natural de desenvolvimento da criança.
Os pais devem observar caso o limite da fantasia ultrapasse o da realidade
Mentir é feio e aprendemos isso desde pequenos, quando somos repreendidos
pelos nossos familiares ou educadores. Contudo, todo mundo já foi
criança um dia e sabe que uma história bem contada pode não ser uma mentira,
mas uma fábula, fruto de uma imaginação muito criativa.
Fabulação
A fabulação é muito importante para o desenvolvimento da inteligência
das crianças nos seus primeiros anos de vida. Durante a fase pré-escolar,
até os 4 ou 5 anos de idade, elas contam histórias fantásticas, porque
não possuem ainda o entendimento conceitual sobre o que é correto moralmente
e um discernimento preciso sobre a imaginação.
"As crianças são muito criativas e não mentem por espontânea vontade.
Elas estão em uma fase de desenvolvimento da mente, confundem a realidade
e a fantasia, e inventam histórias para se destacar e serem bem aceitas",
explica a psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari. "A mentira, nessa
fase, não deve ser encarada de um ponto de vista negativo, como os adultos
a usam, geralmente, para enganar e trapacear", completa.
Os pais devem estar preparados para a fantasia do imaginário infantil.
O ideal é estimular esse desenvolvimento de forma saudável e criativa,
e procurar educar os filhos sempre com a verdade nas palavras e nas ações,
uma vez que as crianças se espelham, principalmente, na figura dos pais
e seguem os exemplos deles. Afinal, são eles que ajudam a construir a identidade
do filho.
"Quando meu caçula era bem pequeno, ele montava cabana na sala de casa,
pegava todos os seus bichinhos e viajava para a lua. Essa criação
lúdica faz parte da vida da criança. Acho super importante o estímulo dos
pais ao contar e participar das histórias assim como para impor limites
quando chegar a hora e for necessário. Temos que dar o bom exemplo e indicar
o caminho correto, sempre", afirma Andreia Nagae, mãe de dois meninos.
Mentira
Depois dos 5 anos, já na fase escolar, a mentira pode começar a surgir
apoiada em sentimentos como medo, vergonha e auto proteção. "As crianças
podem mentir por medo de alguma reação dos pais, por insegurança, baixa
auto-estima, para chamar a atenção quando não se sentem valorizadas, ou
quando querem carinho", afirma Olga Tessari.
É fácil perceber os sinais da mentira em uma criança. As primeiras
reações são ficar agitado, olhar para os lados, baixar a cabeça e desconversar.
Andreia lembra que quando seus dois filhos eram ainda muito pequenos, eles
eram muito cúmplices, não se acusavam, e acabavam se entregando nos gestos.
"Eles não inventavam mentiras, mas também não contavam a verdade.
Uma vez o forno de casa apareceu aceso e aqueles olhares cabisbaixos denunciaram
que tinha sido um deles. Mas como ninguém assumiu, coloquei os dois de
castigo, para que não se repetisse, e ensinei que aquele que conta a verdade
não sofre punição. Hoje, eles já são adolescentes e graças a Deus nunca
tive problemas com mentiras, nem em casa e nem na escola", declara.
Segundo a psicóloga Olga Tessari, ninguém gosta de ser apontado como
culpado de algo ou que apontem os seus erros. O castigo não é uma forma
só de repreensão, também pode ser usado como um artifício de educação.
Ele pode ser um acordo entre pai e filho sobre o que está errado e deve
ser explicado. Assim, geralmente, a situação se resolve com o diálogo.
Os hábitos em relação à mentira mudam normalmente como tempo. Por
isso, a observação constante dos atos da criança é muito importante. Se
persistir na adolescência, os pais devem procurar por um atendimento psicológico,
para identificar e sanar possíveis questões emocionais, problemas familiares
e de relacionamento social. A mentira só se torna um problema a partir
do momento em que a criança passa a viver em função dela, e o limite da
fantasia ultrapassa o da realidade.
Matéria publicada no site Arca Universal por Michele Roza em 15/10/2010
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