Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Compulsão por alimentos saudáveis pode trazer danos à saúde e problemas
de relacionamento
Todos querem levar uma vida saudável. Além de nos fazer viver mais,
hábitos como se exercitar regularmente, evitar o álcool e o tabagismo e
manter o peso sob controle nos fazem viver melhor. E para garantir mais
saúde, a alimentação é um ponto fundamental.
Uma boa dieta deve ser livre de gorduras, alimentos enlatados, transgênicos,
agrotóxicos, corantes, conservantes etc. Mas quando os cuidados com
a alimentação tornam-se uma obsessão, é preciso ficar atento. Preocupar-se
exageradamente com os alimentos que consome, perseguir calorias, verificar
a adição de corantes, estabilizantes, checar a associação de agrotóxicos
e qualquer outra substância química nos alimentos de maneira desenfreada
é o que os médicos chamam de ortorexia, a mania que o individuo tem de
ser natureba o tempo todo.
Apesar de ter sido descrita há pouco tempo e ainda não ser reconhecida
como uma enfermidade, a ortorexia é um distúrbio alimentar. De acordo com
a psicóloga Olga Tessari, o pensamento do ortoréxico gira em torno de sua
dieta aliado a uma verdadeira obsessão em analisar o conteúdo nutricional
dos alimentos. "Indivíduos que desenvolvem ortorexia avaliam calorias,
vitaminas e nutrientes, permitindo-se apenas alimentos saudáveis e, em
circunstância alguma, desviam-se do seu programa alimentar", comenta a
psicóloga.
Mas você deve estar se perguntando: o que há de errado em se preocupar
com a alimentação fazendo com que ela seja a mais saudável possível?
O problema todo não está na dieta em si, já que todos nós podemos nos beneficiar
ao adotarmos uma ingestão de alimentos saudáveis de forma mais habitual.
As dificuldades surgem quando o indivíduo vive obcecado em relação ao conteúdo
dos seus alimentos e torna-se extremamente rígido com a alimentação, a
ponto de não ingerir nada que não seja natural, mesmo com fome, o que pode
se estender tanto na escolha como no preparo das refeições e na imposição
do seu hábito alimentar para as pessoas com quem convive.
Aliás, o âmbito familiar e social dos ortoréxicos é um dos grandes afetados,
pois os portadores deste distúrbio estão sempre se comparando com pessoas
de hábitos alimentares convencionais e julgam-se, em certos casos, superiores
aos demais.
Para o psicanalista Miguel Ruivaco, esses fatores geram dificuldades
no relacionamento social, pois o ortoréxico não se permite arriscar sua
dieta ou sentir-se contrariado em sua opção alimentar. "Geralmente, o ortoréxico
não admite estar colocando sua saúde em risco e considera seu estilo alimentar
mais saudável do que o dos demais. Por isso, busca estar acompanhado por
aqueles que compartilham de seus ideais, o que pode acarretar problemas
de relacionamento", informa o psicanalista.
E os prejuízos não param por aí. Para a pessoa que sofre de ortorexia,
a alimentação é sua principal fonte de conflito e ela sente-se frustrada
quando não consegue convencer amigos e familiares de sua opção. Além disso,
quando quebra alguma de suas regras auto impostas, cede à tentação e come
algo considerado incorreto, surge a culpa, o remorso, a auto cobrança e
mais sofrimento. É aí que o indivíduo aumenta o controle sobre si mesmo
e vive prisioneiro de suas próprias exigências.
Apesar de ser um distúrbio considerado novo e que atinge na maioria das
vezes as mulheres, a ortorexia não surgiu por acaso. Estudiosos acreditam
que fatores sociais podem ter desencadeado a patologia através da propagação
pela mídia sobre a necessidade de uma alimentação saudável e correta. Prova
disso são as enormes quantidades de dietas tidas como milagrosas veiculadas
indiscriminadamente na mídia, que na maioria das vezes querem introduzir
na mente da população que essas dietas trarão um corpo perfeito, juventude,
saúde e longevidade.
A exigência da sociedade por medidas perfeitas também é uma das responsáveis
pelo aumento nos casos de ortorexia. "A cobrança por uma saúde perfeita
e um corpo na medida dos padrões exigidos pela moda são fortes pressões
sociais, sendo que não importa saber quem a pessoa é ou como se sente e
assim como ela tem que ser para conseguir ser aceita no seu grupo", conta
a psicóloga Lia Maria Brocoloti.
É importante lembrar que a procura pela alimentação correta e balanceada
de maneira saudável não faz mal a ninguém. Mas no caso dos ortoréxicos,
essa busca é feita de forma desenfreada e obsessiva, o que, em muitos casos,
os faz deixar de consumir quantidades significativas de nutriente como
a vitamina B12, cálcio, zinco e ferro.
Segundo a nutricionista Thais Navarro, nesses casos é muito importante
fazer a reposição de tais nutrientes, já que a falta deles traz inúmeros
prejuízos à saúde, como anemia, osteoporose, deficiência imunológica, ausência
de cicatrização, ressecamento da pele, perda de peso, sensibilidade óssea,
distúrbios digestivos, problemas de crescimento, impotência sexual, perda
de cabelo, depressão, apatia, lesões oculares, amnésia, hipertensão, insônia,
irritabilidade e dormência, entre outras.
Matéria publicada na Revista Sua Escolha Ano 8 – Edição 58 por Kamila
Otelinger em abril/2010
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