*Entrevista com Olga Tessari
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Ele é seu confidente, sabe de sua vida, dos seus sentimentos e seus desejos
mais íntimos Inspiração de poetas, compositores, cineastas, a amizade é
uma das mais belas manifestações de amor humano.
A socialização é uma necessidade das pessoas e praticamente todo
mundo tem um grande amigo, ou mais de um.
Quando você tem um problema, ou recebe uma boa notícia logo pensa
em contar para essa pessoa querida que apareceu em sua vida.
Algumas vezes esse amigo vem lá de sua infância, outras vezes conheceu
no trabalho ou num passeio, mas só você sabe o quanto gosta dele e
o quanto poderia se doar para vê-lo feliz, não é verdade. A isso chamamos
de amor de amigo.
A psicóloga paulista Olga Tessari em entrevista ao caderno Zine explicou
um pouco sobre essa forma de amor e como ela costuma acontecer na vida
das pessoas. A aproximação delas tem um motivo.
Segundo a psicóloga, todo contato e interação pressupõem algum tipo
de interesse. Na amizade isso não é diferente, seja pela companhia, pela
cumplicidade ou mesmo pelo carinho e atenção do outro. "O que aproxima
as pessoas para uma amizade são as afinidades em comum e o que mantém
a amizade é a confiança e a lealdade, é saber que você pode contar com
a pessoa quando dela precisar."
Mas nem todos os que estão ao seu redor são seus amigos íntimos. Tessari
diz que existem graus de amizade proporcionados pelo ambiente em comum
que as pessoas frequentam como os colegas de escola, de trabalho, os vizinhos.
"O amigo do peito é seu confidente, sabe de sua vida, dos seus sentimentos
e desejos mais íntimos e está presente em boa parte de sua vida, do seu
dia a dia."
Na sociedade, ainda que de forma reduzida se comparada a outros tempos,
a amizade entre homem e mulher é colocada em xeque. Não é raro encontrar
garotos afirmando que "amigo de mulher é cabeleireiro". A psicóloga diz
que pode sim haver essa amizade e os dois se veem de forma assexuada. Ela
analisa que, quando um homem diz não haver amizade entre homem e mulher,
é porque teme que ela se envolva ou o troque pelo amigo. Ou ainda, há homens
que veem as mulheres como possíveis conquistas e acreditam que os outros
homens pensem da mesma forma, nesse caso, eles não conseguem imaginar uma
amizade entre ambos os sexos.
Homens inseguros também não acreditam na pureza desse tipo de amizade.
No entanto, isso não significa também que nunca possa existir algo mais
entre amigos que venha a se apaixonar. "Vai depender da maturidade de ambos
em entender se a amizade é mais importante do que um possível envolvimento
afetivo."
Pode-se observar então que uma amizade está presente nos mais variados
momentos de sua vida. Mas ela pode interferir na formação moral ou social
de alguém?
De acordo com Olga Tessari nenhuma pessoa é capaz de mudar as nossas convicções
morais ou sociais, somos nós que as mudamos se nos convier essa mudança.
Ela diz ainda que no caso dos adolescentes, eles podem imitar, experimentar
o diferente, o que não quer dizer que eles alterem a sua formação moral
e social. "Mas é possível que, na construção de sua identidade adulta,
os amigos colaborem para que ele reveja seus conceitos e valores determinados
pelos seus pais, os seus referenciais de vida até então".
Quero conhecer meu amigo virtual!
As mídias sociais permitiram que as amizades sofressem mudanças significativas.
Desde a comunicação entre os colegas de escola, os amigos do
peito até aqueles que surgem nos ambientes virtuais e que acabam fazendo
parte da vida da pessoa distribuindo carinho tanto quanto aos amigos presentes.
A adolescente Nina Menezes Ricci, de 15 anos, viveu uma situação
assim. Depois que uma de suas amigas foi estudar em Botucatu, São Paulo,
os contatos foram mantidos durante todo o tempo, até que a amiga voltou
pra Cuiabá contando as novidades e sobre as amizades que fez na cidade,
Nina ficou muito curiosa para conhecer as meninas e as adicionou no MSN
e no Orkut. "Na primeira conversa, falamos sobre muita coisa. Vimos que
tínhamos muita coisa em comum, gostávamos de música, teatro, artes". A
amizade cresceu e foi ficando tão cúmplice que, depois de um ano elas resolveram
que era hora de se conhecer. Euforia para as meninas, preocupação para
os pais, claro.
Deixar ou não deixar a garota sair de Cuiabá para conhecer as amigas
virtuais, uma questão e tanto para resolver. O fato é que depois de muita
conversa entre as famílias, veio a resposta, o esperado sim. Nina pegou
o avião sozinha, desembarcou em São Paulo, onde pegou uma vã no aeroporto
e seguiu para a estância Demétria, onde a família da amiga a esperava.
"Fiquei na casa de uma delas, a Malú. Mas antes de ir nossas mães entrarem
em contato, minha mãe conversou com a mãe dela, que nem acreditava que
eu existia. Foi uma experiência maravilhosa, única. Conheci muita gente
legal, fiz mais amizades interessantes, assisti aula em outra escola, conheci
outro jeito de viver".
As redes sociais contribuíram bastante para o fortalecimento das amizades
de Nina. Mesmo hoje não conversando mais com tanta frequência, elas sempre
mandam depoimentos contando tudo o que aconteceu no mês.
A psicóloga paulista Olga Tessari afirma que para os mais jovens,
o contato virtual é tão importante quanto o real. "Amigos de escola, que
moram longe, podem continuar o seu contato fora da escola através da internet
ou celular, com mensagens, troca de fotos, entre outros, o que propicia
o fortalecimento da amizade".
A experiência vivida pela adolescente é cada vez mais freqüente hoje
em dia. Muitas amizades são construídas e desconstruídas pelo MSN e pelo
Orkut. Mas a psicóloga alerta para os cuidados a serem tomados a fim de
confiar em quem está do outro lado do PC. "Conversar com a pessoa através
de vídeo é uma forma de conhecê-la melhor. Mas, nada melhor do que o tempo
para mostrar quem ela é de verdade. É preciso entender que, num primeiro
momento, todos nós só mostramos o nosso lado bom e só revelaremos nosso
lado ruim na medida em que conhecemos a pessoa".
Sentimento Obsessivo
Levando-se em conta que fazer coisas boas para si mesmo produzem substâncias
no organismo, como a serotonina e a endorfina, que dão uma sensação
de bem estar. Então, se o sentimento de amizade é positivo, ele deve liberar
tais substâncias também. Essa foi a conclusão de Tessari sobre a química
produzida no organismo devido ao sentimento de amizade.
No entanto, a amizade deixa de manifestar todas essas coisas boas
"quando o jovem deixa outras pessoas de lado, quando altera sua rotina
para somente estar com o amigo, quando ele procura afastar seu amigo de
outros colegas, quando ele passa a viver a rotina do amigo ou quando ele
apresenta problemas e alterações de comportamento na escola e em casa por
conta do surgimento da insegurança e do medo de perder o amigo." Esse é
um momento para os pais começarem a se preocupar com o filho, pois ele
pode estar tendo um sentimento obsessivo.
"É preciso levar esse jovem para fazer um tratamento psicológico porque
ele está vivendo em função apenas do amigo, deixando-se de lado, o que
vai colaborar para que sua auto-estima diminua, para que ele se torne inseguro,
ansioso e cheio de medos, ciumento e até agressivo."
Olga Tessari lembra os pais que nessa fase os filhos sempre irão contra
eles, portanto, se os pais se opõem a uma determinada amizade, o jovem
vai insistir em mantê-la cada vez mais, pois faz parte da rebeldia adolescente
ser contra a opinião dos pais.
O que é amizade verdadeira para você?
FALA GAROTO
- Amigo é aquele que ajuda, está sempre do lado, mesmo quando está em
perigo. Apoia o outro no que faz. Isso é amigo. Daniel Souza, 15,
estudante
- Amizade verdadeira é aquela que dá para contar. Mas agora está difícil,
os cara tão mentindo. Mas amigo apoia, o que você fala, ele entende.
Mas está difícil hoje em dia. Chrysttian Kevin Fontes, 15, estudante
FALA GAROTA
- É aquele que está sempre ajudando, é confidente, você confia. Sempre
que precisa está perto para ajudar. Está com a gente para o que der
e vier, que aconselha, conta segredos. Sâmera Cristina Gomes Pescada, 16,
estudante
- Uma pessoa que você confia, que não traia. Seja amiga de verdade,
que sai junto, uma companheira. Tenho uma prima que considero uma amiga
verdadeira. Jéssica Pâmela da Silva, 19, estudante.
Matéria publicada na Gazeta Digital, Caderno Zine, por Valérya Próspero
em outubro/2010
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