Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Resumo:
este artigo informa sobre as atividades exercidas na Oficina de Português
da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), programa de extensão da
Universidade Católica de Goiás. O programa busca entender como o processo
do envelhecimento afeta as pessoas e oferecer ao idoso a oportunidade de
viver a terceira idade com mais dignidade e melhor qualidade de vida, dando-lhe
uma nova visão de mundo que lhe proporcione a conquista de espaços na sociedade,
na qual possa continuar praticando sua cidadania e mostrar seus talentos
até então ignorados, aprendendo, enfim, a reinventar a vida inserido no
contexto sociocultural de nossa realidade.
Abstract:
this article aims to inform about the activities held in the Portuguese
workshop at Unati (University for Elderly at Catholic University of Goiás
). We try to understand how the affects people. We also try to offer to
elderly an opportunity to live this special time of their lives with more
dignity and better quality of life. Elderly people will experience a new
vision of the world that will provide achievements and positions in the
society, where they can continue practicing their citizenship and discover
hidden talents. Finally, they will learn and reinvent life, inserted in
the social-cultural context of our reality.
Key words:aging, dignity, knowledge, conquest
A natureza não dá saltos e nada acontece de repente – verdades reconhecidas pelo
senso comum –, mas em matéria de idade somos sempre apanhados de surpresa.
Um dia, olhamo-nos no espelho e descobrimos que já não somos mais tão
jovens. Aos poucos, vamos assumindo novas responsabilidades e, de
repente, muitas vezes nem podemos acreditar, e já vamos nos casar. Ser
pai ou mãe sempre nos pega sem muita segurança a respeito de ser isto mesmo
o que queremos: iniciar uma nova geração.
A vida continua, os filhos crescem e, de repente, novamente a casa
está vazia. As nossas crianças cresceram tão depressa e foram embora, muitas
vezes iniciar mais uma geração.
"E assim caminha a humanidade"
Nosso ideal agora é a aposentadoria e, de repente (outra vez), ela também
chega. Maravilha! Agora, tenho todo o tempo disponível. O que fazer
com tanto tempo livre?
Envelhecer é um processo pelo qual todos desejam passar, mesmo sem ter muita
consciência desse desejo, pois ninguém quer morrer jovem. É necessário,
portanto, descobrir uma forma de chegar a essa idade cheio de saúde e pleno
de capacidade para desfrutar de uma boa qualidade de vida. As pessoas estão
preocupadas com esses futuros problemas que chegam sempre antes do que
esperávamos. Os especialistas em Geriatria estão a cada dia com suas agendas
de consultas mais lotadas. A procura por uma saúde perfeita e um corpo
bem cuidado é, sem dúvida, um desejo legítimo.
Infelizmente, o envelhecimento é um processo lento, irreversível
e nem sempre acontece como nos contos de fada – "E foram felizes para sempre".
A mágica da eterna juventude ainda não foi descoberta, e, até lá, temos
de nos prevenir para enfrentar essa etapa da vida de uma forma inteligente.
Aliás, estamos falando de um período que, pela mídia, já é chamado de "a
melhor idade".
Para muitos, é tempo de recomeçar, pois, com o crescimento dos filhos,
as preocupações financeiras diminuíram, e, se temos boa saúde, chegou
a hora de realizar velhos sonhos, como viagens, estudos, lazer, trabalhos
voluntários, fazer novas amizades, plantar árvores, cultivar flores, fazer
doces, preocupar-se mais com o meio ambiente, curtir os netos, dedicar-se
à família – mas sem compromisso –, cuidar do espiritual. É um tempo realmente
muito prazeroso se soubermos aproveitar.
Em torno da velhice, criaram-se alguns mitos que foram indicados
pela professora Carmencita em palestra na Universidade Aberta à Terceira
Idade (Unati), quais sejam:
•o Brasil é um país de jovens;
•a memória diminui com a idade;
•a inteligência diminui com a velhice;
•velho não aprende nada de novo;
•velho é desatento, não presta atenção às coisas;
•velho não tem interesse nem capacidade sexual;
•velho só deve conviver com velho;
•uma imagem do velho é sempre negativa;
•o velho está mais perto da morte;
•velho não tem futuro;
•velho volta a ser criança;
•velho não precisa de dinheiro;
•velho é tudo igual, só muda de endereço.
Por outro lado, temos as seguintes dicas para envelhecer bem aproveitando
melhor a vida
•procurar ter sabedoria para discernir o que pode fazer e o que é
capaz de tentar fazer e acabar conseguindo;
•conhecer sua própria força, deficiências e limitações;
•saber perdoar qualquer que seja a injustiça ou acusação. O perdão alivia
o próprio coração;
•saber amar sem querer nada em troca;
•amar a vida dos cabelos brancos, das rugas e dos sorrisos das saudades compartilhadas;
•atividade física proporciona uma vida com autonomia e independência;
•procurar sempre novos desafios, motivações e alegria de viver;
•saber dividir as dificuldades e como obter sucesso mesmo no meio
das dificuldades;
•confiar em Deus ainda que tudo pareça perdido.
Podemos afirmar que envelhecer é uma conquista cada dia mais ao alcance de
todos. E envelhecer bem é uma luta e uma vitória que vale a pena tentar.
ENVELHECIMENTO COM DIGNIDADE
Como em tudo, a vida nem sempre, ou quase sempre, nos é proporcionada
de forma diferenciada. E nós temos que lutar até para nascer. O envelhecimento
da população deveria ser motivo de alegria, mas como não estamos preparados
para esta nova situação, é também causa de preocupação.
Pela primeira vez na história da humanidade, temos um contingente tão
grande de idosos. Essa transformação requer medidas que possibilitem
ao idoso uma vida digna e tranqüila.
A população como um todo precisa exigir do Estado medidas que proporcionem
tranqüilidade não só no momento presente, mas para o futuro próximo, pois
essa tendência não tem volta. Com o atual regime de trabalho em que homens
e mulheres passam o dia fora, é difícil conservar os idosos em casa, uma
situação que seria a ideal.
O jornal O Estado de São Paulo traz uma reportagem mostrando pessoas
que, aproveitando dessa situação, estão criando casas de repouso que são
verdadeiros depósitos de idosos, misturando pessoas sadias com doentes
numa terrível promiscuidade (DEPÓSITO DE IDOSOS, 2007, p. A24).
Transcrevemos as palavras da Profa. Ângela Maria Gomes de Matos Lacerda
(2003) baseadas nos princípios ditados no documento da II Assembléia Mundial
sobre o Envelhecimento, da ONU, em 2002.
•O envelhecimento em condições de segurança significa reafirmar o
objetivo da eliminação da pobreza na velhice sobre as bases dos princípios
das Nações Unidas.
•A habilitação das pessoas idosas para que participem plena e eficazmente
da vida social, econômica e política de suas sociedades, inclusive
mediante trabalho remunerado ou voluntário.
•A oportunidade de desenvolvimento, da realização pessoal e do bem
estar do indivíduo ao longo de sua vida, inclusive numa idade avançada.
•A garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais das pessoas idosas,
assim como dos direitos civis e políticos, através da eliminação de
todas as formas de discriminação por razão de idade.
•O compromisso de reafirmar a igualdade de gênero nas pessoas idosas.
•O reconhecimento da importância decisiva que tem para o desenvolvimento
social a interdependência, a solidariedade e a reciprocidade entre as gerações.
•A atenção à saúde e o apoio às pessoas idosas, segundo as necessidades.
•A promoção de uma parceria entre o governo, a sociedade civil,
o setor privado e as pessoas idosas para transformar a estratégia internacional
em medidas práticas.
•A utilização das pesquisas e dos conhecimentos científicos para que sejam consideradas
as conseqüências do envelhecimento sob o ponto de vista das pessoas, da
sociedade e da saúde, em particular nos países em desenvolvimento.
DIFICULDADES A ULTRAPASSAR
Como resquício de uma cultura na qual atingir os setenta anos era um grande
feito, o idoso ainda é olhado com muito preconceito ligando-se velhice
à doença. A partir dessa idade, as pessoas deveriam recolher-se à inatividade.
Criou-se até o termo inativo para os aposentados, de tão arraigada que
estava essa idéia de o idoso ser improdutivo. Cabe ao próprio idoso desfazer-se
dessa mentalidade e dar continuidade a seus afazeres no limite de suas
possibilidades. Em todo o mundo, está havendo essa mudança de comportamento,
e o todo-poderoso mercado, nos mais diversos segmentos, particularmente
no turismo, já está de olho nesse novo nicho de prováveis clientes.
É obrigação também da família continuar a prestigiar os membros mais
velhos, mesmo aqueles que já perderam um pouco de sua agilidade nos movimentos.
É só uma questão de paciência. Muitos idosos, ao perceberam que estão sendo
deixados para trás, sentem-se frustrados, e esse sentimento pode levar
a um processo de depressão e, muitas vezes, até ao alcoolismo.
Segundo a psicóloga e pesquisadora Olga Inês Tessari (2006), especialista
em terceira idade, "o lazer, o bem estar são fundamentais para todos,
principalmente no caso do idoso, pois, ajuda a elevar sua alta estima e
fazer com que se sinta integrado". Embora o envelhecimento seja um processo
que atinge todos os seres, ele é individual. É uma experiência ímpar e
dessa forma deve ser tratado e sentido por cada indivíduo.
Envelhecer deve ser uma experiência de crescimento, especialmente
em sabedoria e em conhecimentos acumulados, em qualquer cultura. Além de
tudo, o idoso é um depositário da história, pois vivenciou fatos importantes
acontecidos durante todo o seu período de vida. As novas gerações precisam
procurar no idoso os fatos, os 'casos' que muitas vezes só ele tem conhecimento
e que o tornam depositário de uma riqueza imensa e inexplorada.
CONCLUSÃO
Por muitos anos, o Brasil foi considerado um país jovem. Nos dias atuais,
essa situação está mudando e vemos, com alegria, que estamos nos aproximando
das taxas dos países mais desenvolvidos com uma parcela já representativa
de uma população acima dos sessenta anos. Ao examinarmos as causas dessa
mudança, vemos, entre os fatores preponderantes, o progresso da Medicina
no diagnóstico precoce de muitas doenças e o avanço da indústria farmacêutica,
fabricando mais e melhores medicamentos. A chamada terceira idade está
descobrindo, com a ajuda de instituições como a Universidade Católica de
Goiás (UCG), uma melhor qualidade de vida e, com força total, agindo e
interagindo em vários setores da sociedade, participando de inúmeros programas
que buscam dar uma nova visão de mundo àqueles que alcançaram essa fase
da existência.
Nessa nova forma de pensar, é uma felicidade participar da Oficina de
Português da Unati. Nossas aulas são alegres e prazerosas, todos assistem
com muita atenção e participação, em busca de um novo conhecimento. É até
surpreendente como os alunos estão redescobrindo o prazer da leitura e
da escrita e, em alguns casos, vendo o despertar de novas habilidades criativas,
como produzir poemas. Estamos seguindo os passos da nossa querida Cora
Coralina, que, apesar de ter começado a escrever cedo, só publicou seu
primeiro livro depois dos setenta anos, ela que, sendo especial, soube
ensinar como reinventar a vida.
Iniciamos nossas atividades na Unati no dia 17 de março de 2003, com a
Oficina de Português, no período de Convivência, com um total de 13
aulas e uma média de 18 alunos. Foi um número pequeno, mas assíduo e interessado,
muito participativo. Não tivemos problemas de conversas paralelas. Havia
sempre a oportunidade para todos expressarem suas opiniões e tudo transcorreu
segundo o previsto no programa.
Creio que nossos objetivos foram alcançados – colocar os alunos em
contato com algumas formas de criação literária, procurando despertar o
prazer pela leitura e atualizar alguns conhecimentos de gramática. Os alunos,
em sua maioria, reclamaram do número pequeno de aulas e sugeriram que no
próximo período pudéssemos ampliar o programa. Durante todo esse período,
o interesse pela língua só tem crescido e, atualmente, nossas aulas ocorrem
no segundo período. A seguir, transcreveremos alguns depoimentos de alunos
acerca do ensino da Língua Portuguesa na terceira idade.
Na terceira idade o hábito de ler é mais importante do que em qualquer
época. Através da leitura enriquecemos nosso vocabulário, exercitamos nosso
raciocínio, além do prazer que nos dá. A leitura mantém a nossa cabeça
pensante e vai prevenir muitas doenças. Lendo, viajamos pelo mundo, conhecemos
outras culturas, povos interessantes e histórias pitorescas, românticas,
ficção, assuntos didáticos e poesias. É um vasto campo de cultura. Escolha
o tema que você mais gosta e comece a ler. O Português na 3ª idade é importante
para não esquecer o que já sabe e aprender mais. O estudo de Português
na 3ª idade é importante para desenvolver a memória, aumentar o vocabulário.
Atualizar as formas de comunicação na internet. Em primeiro lugar para
ativar a memória e manter-nos ativos e atualizar-nos. Para mim, é muito
interessante porque reativa a memória e é mais um aprendizado e nunca é
tarde para aprender. Eu acho muito bom, me sinto importante e feliz. É
um grande incentivo ao saber e a ter mais informações.
Trazemos, a seguir transcritos, alguns trabalhos feitos em sala de
aula.
Verônica
(Leolina Vieira da Silva)
Você surgiu na minha vida
Como um raio de sol
Iluminou-me
Minha
querida.
Estava tão carente
Como se tivesse
Esperando
Uma filha ausente.
E você chegou
Linda, maravilhosa
Como o perfume
De uma rosa.
Agora vai
embora,
Vai me deixar
Espero que um dia
Você há de voltar.
Você vai em
busca
Da felicidade
E eu vou viver
Sempre com saudade.
Mas o meu desejo
É vê-la feliz
Deus que a acompanhe
E abençoe
Minha linda flor-de-lis.
Cismando
(Maria Amélia de Moraes Barros)
Me remete a uma saudade amorfa
Infância, juventude,
ou o quê?
Confusão de datas, de lugares
Me vejo cogitando
Se foi comigo
Ou nas páginas de um livro.
Lembranças imprecisas
Aqui e ali, me pego num
vazio
É o branco!
Que nos cabelos também se faz presente.
É o ensaio para
o outono
Desfolhando as ilusões
A verdade mais temida
A hora que ninguém
adia
Nem deseja.
O abraço que acolhe e acalma
A flor que se dobra e fenece
Palco sem luzes – sem aplausos
Cerram-se as cortinas...
História de uma Vida
(Aldenora Soares)
Minha história vem de longe
E por quê
disse de longe?
Distante das coisas não alcançadas
Passos andados e tropeçados.
E, pela ilusão da mocidade,
Fez-me palmilhar
Nas escadas tortuosas
Da vida.
E tocada pelo mau vento sombrio
Subia e descia
E de encontro com as pedras
Eu sofria.
E eu perguntava,
Que caminho é esse?
Que não tem fim?
Que não
tem rosa,
Só espinho?
Onde encontro Deus?
Se não vejo, não ouço, não sinto?
Estes são os dissabores da vida.
E em meio a esse redemoinho
Eu encontrei
a luz – a Unati
Que nos acolhe Com grande carinho
Referências
LACERDA, Â. M. G. de M. Envelhecimento: desafios e perspectivas para o
século XXI. Informativo Nova Geração, Goiânia, jul. 2003.
DEPÓSITOS DE IDOSOS. O Estado de São Paulo, São Paulo, 22 abr. de 2007.
Cad. A, p. 24.
TESSARI, O. I. Vivendo a vida na maturidade. Jornal UATI, São Paulo,
2. sem. 2006.
Matéria publicada em FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 17, n. 3/4,
p. 464 . 455-464, mar./abr. 2007 por Edna de Carvalho Coutinho
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