Olga Tessari

Confrarias – Panelinha boa

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

O que pode ser melhor do que estar entre pessoas queridas fazendo aquilo que todos mais gostam? 

Essa é a razão de ser das confrarias. Inspire-se nos exemplos para criar a sua.

Reservar o sítio. Levar ao menos quatro TVs até lá. Comprar comida e bebida para todos. Criar o vídeo de abertura do evento, cheio de efeitos especiais. Desenhar o quadro, caprichado, com a sequência de confrontos entre os adversários, até a grande final. Arranjar os prêmios para os vencedores. Organizar a queima de fogos de artifício. E resolver todos os imprevistos que porventura apareçam. 

A cada seis meses, um grupo de amigos de São Paulo se dedica a esse ritual. O que eles ganham com isso? O prazer de se encontrar para disputar o que consideram ser o melhor campeonato de videogame do mundo: a Zumbi Cup. A copa dos zumbis – o nome remete às olheiras que surgem quando a jogatina avança a madrugada – foi criada em 2002, por Marcio Azevedo, de 35 anos, e mais três tradicionais colegas de joystick. Inicialmente despretensiosos, mas sempre muito animados, os encontros foram conquistando cada vez mais participantes. 

Hoje, na 17ª edição, há cerca de 60 envolvidos. Apesar de todos sempre estarem altamente comprometidos com a elevação no nível de organização da competição, a Zumbi Cup mantém o objetivo de ser algo bem simples: a diversão entre amigos. "A ideia é fazer uma festa que todo homem curte, com videogame, cerveja e futebol", diz Marcio. 

Esse é o espírito das confrarias. 

Originalmente, a palavra remete a agremiações medievais voltadas para os cultos religiosos, mas hoje em dia é usada para denominar grupos de amigos que periodicamente se reúnem em torno de uma forma de lazer comum. 

Mais do que trazer diversão, a prática faz um grande bem à saúde das emoções. "Integrar um grupo reforça a autoestima, faz com que a pessoa se sinta aceita, respeitada e valorizada", afirma a psicóloga Olga Inês Tessari. 

A confraria Reinações faz questão de não ser homogênea demais. "Temos membros de variadas profissões e faixas etárias. As diferentes visões pessoais proporcionam grande aprendizado" 

Na távola redonda 

Era desse clima de integração que Dani Oliveira, de 32 anos, de Uberlândia (MG), sentia falta quando praticava seu hobby preferido: cozinhar. Ela e o marido, Alceu, gostariam de ter companhia não só para trocar receitas, mas também para degustá-las e jogar conversa fora sentados à mesa. Descobriram, então, que um casal vizinho participava de uma turma assim, que timidamente começava a se reunir. Convidados, eles chegaram cheios de animação. Naquela noite, um cabalístico 7 de julho de 2007, os encontros foram oficializados sob o nome Confraria 777. 

A 777 é um bom exemplo de como algumas regras podem não só ajudar na dinâmica de um grupo como torná-lo ainda mais divertido. Os encontros ocorrem a cada dois meses, alternando os anfitriões – cinco casais e uma amiga solteira. Assim, cada membro só organiza um jantar por ano. O prato da noite tem de ser surpresa. Dias antes, os responsáveis pela receita enviam dicas por e-mail aos convidados para que saibam que tipo de bebida levar. "Eu falo sobre o lugar de origem do prato, dos artistas nascidos no país, por exemplo. Decoro toda a casa. Quando tivemos a noite mexicana, uma das meninas veio vestida de Frida Kahlo. Foi engraçadíssimo", conta Dani. A produção às vezes inclui até uma lembrancinha para cada participante. Mas Dani garante que a preparação toda não causa clima de competição: "Todos gostam muito de cozinhar, fazem tudo com carinho. Sempre ficamos ansiosos pra ver como será o próximo encontro", diz. 

Diversidade engrandece 

O risco de reunir amigos com os mesmos interesses é acabar se limitando a um grupo excessivamente homogêneo. A diversidade é fundamental para enriquecer a troca de experiências, tornando os encontros muito mais interessantes. Esse é o caso da confraria Reinações, de Porto Alegre (RS). "Temos escritores, bibliotecários, músicos, artistas plásticos, estudantes, professores e psicólogos. Adultos, jovens e, agora, uma menina de 11 anos", conta Caio Ritter, de 46 anos. O grupo se reúne mensalmente há dois anos e meio para debater, entre seus 14 membros, a produção literária voltada para crianças e adolescentes. A cada encontro, um novo livro, novas histórias e novas perspectivas. "Um artista plástico vê um texto de forma diferente da de um escritor ou um músico. Esses debates trazem à tona essas visões pessoais, nos proporcionando um grande aprendizado", diz Caio. 

Seja lendo em roda, jogando vídeo-game, cozinhando ou fazendo o que mais você e seus amigos gostarem, o divertido de praticar junto aquilo que traz prazer a todos é o compartilhamento das nossas singularidades. E o trabalho de organizar uma turma e encontrar tempo para esse lazer coletivo vira parte da diversão, afirma Dani. "Na verdade, é tudo apenas um pretexto para reunirmos os amigos, darmos boas gargalhadas e nos divertirmos. Em ocasiões como essas é que vemos a importância de estreitar os laços de amizade com pessoas especiais. É isso, e não os ótimos pratos que preparamos, a grande recompensa do esforço." 

Matéria publicada na Revista Sorria Ed 9 por Nina Weingrill em outubro/2009

Outros textos disponíveis para leitura: 

Adolescência -  Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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