Olga Tessari

Desenvolvimento dos filhos

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

Filhos de mães que trabalham fora se desenvolvem tão bem quanto os das mães em tempo integral 

É o que comprova uma análise de 50 anos de pesquisas sobre maternidade e carreira profissional realizada nos EUA. 

Deixar o filho em casa para ir trabalhar não é mesmo uma tarefa fácil, bate aquele sentimento de culpa. Ninguém vai cuidá-lo tão bem quanto eu, a gente costuma pensar… Mas os cientistas afirmam que você não precisa se sentir assim. 

Em recente estudo publicado no Psychological Bulletin, da Associação Americana de Psicologia, os cientistas analisaram 69 pesquisas, produzidas entre 1960 e 2010, e avaliaram o resultado em conjunto de todas elas. O objetivo era tentar esclarecer, de uma vez por todas, as controvérsias e os mitos que alimentam o conflito entre a maternidade e a vida profissional. 

Com a análise das pesquisas, constatou-se que as crianças de até 3 anos de idade, cujas mães trabalhavam fora, não apresentaram mais ou piores problemas acadêmicos e comportamentais, do que aquelas de mães que ficavam em casa. Em alguns casos, o rendimento dos pequenos foi até melhor. Quando jovens, essas crianças apresentaram poucos problemas de depressão e ansiedade, além de serem avaliadas positivamente por seus professores. 

Para a psicóloga Olga Tessari, isso se explica pelo fato de nem sempre a quantidade maior de tempo que a mãe passa com o filho garante que esses momentos sejam de mais estímulo ou carinho. "Meia hora de brincadeira, de olho no olho e de conversa já aprofunda e mantém os vínculos e isso as mães que trabalham fora também têm possibilidade de fazer", explica a especialista. 

O começo é mais dificil 

De acordo com a pesquisa, a única ressalva é para os casos em que a mãe trabalha no primeiro ano de vida do bebê. Neles, as crianças tiveram uma pontuação um pouco menor que do as outras que tinham as mães em casa. No entanto, as crianças com mães empregadas quando estavam entre 1 e 2 anos, se saíram melhor nas avaliações acadêmicas do que as com mães em tempo integral. Os cientistas consideram então, que os resultados se equilibram com o passar do tempo e ter uma mãe que trabalha fora mais ajuda do que atrapalha a criança. 

Muitas vezes parece impossível conciliar trabalho e maternidade. "É preciso fazer escolhas", diz a psicóloga. "A mãe que trabalha deve delegar funções para ter mais tempo para a criança. Isso significa entender que o dia tem 24 horas e criar prioridades", ensina. 

A paulistana Alexandra Wasaki, mãe de um casal de gêmeos, parece ter entendido bem essa lição. Por dois anos e nove meses ela ficou afastada do trabalho para cuidar dos filhos, mas a necessidade de aumentar a renda da família e elevar a própria autoestima a fez retornar ao mercado de trabalho. Para isso, Alexandra aprendeu a compartilhar as tarefas da casa com o marido, que cuida das crianças enquanto ela não está presente. "Deixo uma lista com as coisas que precisam ser feitas para ele", explica. 

Apesar das dificuldades encontradas no início, Alexandra acredita que hoje seu trabalho não prejudica o desenvolvimento dos filhos, embora a distância ainda os comova. "Minha maior recompensa é chegar cansada em casa, mas dar um abraço e beijos bem dados nos meus filhos e ver nos olhos deles a alegria por eu ter voltado. Tem dias que eles até falam obrigado mamãe", relata. 

O caso de Alexandra e de centenas de milhares de outras mães reforça as constatações do estudo norte-americano. Em resumo, seu filho não será menos feliz ou terá menores notas pelo fato de você trabalhar. Ao contrário, tanto esforço pode, ainda, servir como modelo positivo sobre o valor do trabalho para a vida dele. 

Dicas para acabar com a culpa 

E se for preciso levar trabalho para casa para poder ficar mais tempo com seu filho, não se culpe e veja aqui algumas dicas para amenizar esse sentimento: 

1. Jogue limpo com seu filho: explique a ele que você saiu no horário para buscá-lo na escola, mas vai ter que fazer algumas ligações e responder e-mails em casa. Contextualizar a situação com a criança é importante para que ela entenda que você também tem compromissos e aprenda a respeitar. 

2. Programe-se: construa a rotina de sua casa de forma que possa resolver as questões do trabalho após seu filho dormir. 

3. Mantenha a qualidade: quando você estiver com o seu filho, dedique 100% desse tempo para realmente ficar com ele (e não com a cabeça só no trabalho). Faça um esforço para que seja divertido, um momento gostoso entre vocês. Lembre-se sempre que muitas mães têm mais tempo com os filhos, mas nem sempre aproveitam. 

4. Proponha uma atividade para ele também: se for possível, combine com seu filho para fazer a tarefa de casa enquanto você responde alguns e-mails. Assim, vocês ficam entretidos juntos e você pode ajudá-lo na lição entre um trabalho e outro. 

Matéria publicada na Revista Crescer em 26/1/2012

Outros textos disponíveis para leitura: 

Adolescência -  Mulher -  Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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