Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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"Você consegue!", "Pense positivo!", "Aponta pra fé e rema!".
É, frases otimistas não faltam em uma sociedade que supervaloriza a vitória. Entretanto, quem falou que o pessimismo não pode te levar a lugares que o pensamento positivo nem sonharia?
Já dizia o filósofo Arthur Schopenhauer, no ciclo de desejo e frustração: sonhamos, conseguimos, nos entediamos, percebemos que a vida continua e partimos pra outra.
E depois? Ora, depois tudo isso se repete. Até percebermos que o que Schopenhauer explica sobre a vida tem lá seu fundo de verdade. Sua teoria ensina que desejos são uma forma de escondermos o sofrimento e falta de sentido da vida.
Não é a toa que ele é chamado de "filósofo do pessimismo" e citamos sua teoria nesta matéria. Ele aconselha que deixemos de dar tanto valor aos desejos cotidianos e aceitemos que o sofrimento dá sentido à vida, portanto, nosso grande desafio não é estabelecer metas e cumprir, uma seguida da outra, mas sim aprender a lidar com a dor. Até porque, é muito mais fácil se frustrar quando planos pré-estabelecidos não são cumpridos.
Além disso, foi com muito otimismo que os regimes totalitários do século 20 foram instalados. Ou você acha que a Revolução Russa não foi bem otimista, pensando em derrubar as instituições e construir um governo para o povo?
Para a psicóloga e escritora Olga Tessari, o problema está no extremismo. "Otimismo demais gera frustrações, o que pode contribuir para o surgimento da baixa autoestima e suas consequências, como o estresse elevado, ansiedade, problemas de relacionamento (afetivo, social ou profissional) e até a depressão, em última instância", explica.
"A pessoa pessimista, por sua vez, paralisa a sua vida porque acredita que nada vai dar certo, o que também pode gerar os mesmos sintomas que citei acima para os otimistas exagerados. Podem surgir doenças psicossomáticas em ambos os casos: obesidade, problemas digestivos, alergias, baixa da imunidade, etc".
Ela conta que a frustração não é fruto do otimismo, mas sim da falta de ação. "A frustração surge quando a pessoa acredita que somente a repetição dos pensamentos vai levá-la a conseguir o que deseja, sem se preocupar com o passo a passo para chegar lá e, principalmente, quando não se dá ao trabalho de agir. Então, se elas passam o tempo somente nos pensamentos sem agir, é óbvio que não atingirão os seus desejos/objetivos e se frustrarão!"
Já Daniela Levy, psicóloga e presidente da Associação de Psicologia Positiva da América Latina (APPAL), afirma que os aspectos negativos devem ser levados em consideração, mas sem se esquecer do lado positivo. "Otimismo exagerado, sem levar em conta a realidade, pode gerar problemas, frustrações.
A Psicologia Positiva ressalta o lado bom, mas levando em conta a realidade".
Por isso, Olga Tessari alerta que o equilíbrio não é só desejável, mas essencial. Os extremos nunca são bons, o importante é o meio termo, o equilíbrio. "Viver dá trabalho e realizar os sonhos também. É bom sermos otimistas, mas devemos saber perceber se nossos sonhos são viáveis ou não, se seremos capazes ou não de conseguirmos o que queremos", conclui Olga Tessari.
Quem sabe, nós não somos otimistas e ansiosos pelas vitórias demais, nos esquecendo de viver a realidade. Por esta ótica, uma dose de pessimismo não parece tão ruim.
Matéria publicada no site Vila Mulher - Terra - 10/01/2011
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