Olga Tessari

Por que traímos?

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

A resposta mais corriqueira para essa pergunta é "o meu relacionamento não estava bom". 

Porém, ninguém nunca ouviu dizer que uma traição resolveu o problema da relação. E mais: recente pesquisa revela que o brasileiro é o campeão da América Latina na "arte" da infidelidade. 

Para cada "pulada de cerca" existe um argumento ou, pelo menos, tenta-se explicar. Já para quem ganhou a "coroa" de traído o único sentimento é o da rejeição. Mas antes de discorrer sobre o tema, pense em uma resposta para esta pergunta: o que é traição? O tema abre espaço para várias vertentes e está presente nas letras das canções mais apaixonadas, nas histórias de amor e cada uma sentencia a causa: sexo casual, sem sentimento, é traição? 

"A traição acontece quando um acordo é quebrado e a confiança é perdida", opina a psicóloga e escritora Olga Tessari, autora do livro "Dirija sua vida sem medo". Em nossa sociedade o casal precisa manter a fidelidade, mas os conceitos podem variar em cada país como na Árabia Saudita e no Afeganistão onde o homem pode ter mais de uma esposa. Já para o público feminino o privilégio é muito raro (em nossa equipe, pelo menos, não houve sucesso na identificação de algum país). 

Somos campeões! 

Segundo o Instituto Tendências Digitales trair no Brasil é "fácil" se comparado a outros países da América Latina. A Instituição realizou uma pesquisa em 11 países e o resultado foi que os brasileiros possuem os maiores índices de infidelidade. O resultado pode deixar muita gente sem dormir e, mais uma vez, os homens são maioria. O curioso dessa pesquisa é que as brasileiras estão apenas há um pouco menos de 15% atrás deles. 

Entre os homens, 70% revelaram que já traíram alguma vez na vida. Já entre as mulheres, 56,4% disseram sim, eu traí! É a maior porcentagem da região. Somente 36,3% dos brasileiros disseram que nunca traíram e apenas a Colômbia tem um número menor de fiéis convictos: 33,6%. Para o sexólogo Celso Marzano "essa é uma questão difícil e não existe um cálculo perfeito que revele quem faz mais", disse. Será que dá para avaliar em pesquisas nossos verdadeiros atos? 

Homens versus mulheres 

A pulada de cerca entre eles e elas pode ter razões diferentes e a ciência comportamental tem as explicações. "Posso afirmar que os homens traem por razões ligadas a sexualidade e as mulheres por motivos que envolvem casamento e vingança", explicou Marzano. A espiadinha para o lado e o desejo pelo outro possui várias vertentes, mas isso não quer dizer que o "chifre" tem uma explicação. 

No caso dos homens ainda há o pensamento machista e persiste a teoria do ser animal. Porém, hoje temos a racionalidade como guia e podemos assumir compromissos e, o mais importante, cumpri-los. Quando não há argumentos a mulher, por vezes, perdoa o erro do parceiro. "Ela 'aceita' a traição sexual do seu companheiro, mas não a admite quando percebe que ele está envolvido afetivamente com a outra", argumentou Olga Tessari. 

No caso delas, os dois especialistas são unânimes ao dizer que a traição feminina (os 56,4% indicados pela pesquisa) está ligada ao sentimento de carência. "É de cunho afetivo e acontece quando ela não se sente correspondida no amor pelo seu companheiro e não existe atenção nem carinho ou para revidar a traição do parceiro", explica Olga Tessari. Marzano completa que "as mulheres traem por curiosidade, pela afirmação da feminilidade ou decepção, desamor e raiva do parceiro".

Traição moderna 

Com a internet e a proliferação das páginas e redes sociais, parece que trair ficou mais fácil. Hoje, com apenas alguns minutos, é possível encontrar sexo nas salas de bate-papo ou pelo virtual, via webcam. Nasce um novo conceito em chifre. "Traição virtual ou real, tanto faz, depende apenas do ponto de vista de quem se sente traído. Já tive pacientes que terminaram o relacionamento porque o parceiro estava conversando com estranhos na Internet", relatou Olga Tessari. Há mais casos dentro do mundo virtual, como ter contato com pessoas estranhas ou ficar por horas em páginas pornográficas. "A tolerância ou intolerância com a traição depende de muitos fatores e cada pessoa tem o seu nível. O que pode ser traição para um para o outro não é", disse ela. 

Então, porque casamos? 

Eis a questão final para o nosso problema: o desejo de encontrar nossa cara metade. O problema é que o fantasma da traição ronda a vida de qualquer casal. Helena* viveu um trauma e saiu do conto de fadas para seu próprio roteiro de filme de terror. Ela passou de um relacionamento estável e vida sexual ativa para o pesadelo de ser traída. "Aguentei três anos e pedi a separação. Ele foi embora com a amante, com quem vive até hoje", contou. 

Se não é possível ir contra os fatos o jeito é encontrar soluções. Tem gente que descobriu na tolerância a fórmula para a união duradoura. É o caso da vendedora autônoma Roberta* que acredita que a traição só existe quando há o envolvimento emocional. "Se existe apenas o sexo sem o sentimento não considero traição", define. Mesmo com todos os conceitos da modernidade, a ideia de fidelidade ainda prevalece e, num modo geral, as pessoas acreditam no relacionamento. "O sonho da mulher ainda é encontrar o príncipe que vem no cavalo branco, que a leve para o castelo e lá vivam felizes para sempre. A nossa cultura ainda valoriza muito o casamento e a traição sempre existiu, porém hoje ela é menos aceita, tanto pelas mulheres como também pelos homens", finalizou Olga Tessari. 

Seja o detetive 

Segundo especialistas, algumas pistas indicam a traição do homem e da mulher. A pulga que te atormenta atrás da orelha, pode mandar vários sinais. Conheça-os: 

•Expressão corporal. Quando a gente mente ou engana, geralmente o corpo tende a nos denunciar. Encolhemos os ombros, piscamos muito e enrugamos a testa. 

•Evidências: Marcas no corpo, na roupa e cheiros estranhos. 

•Telefonemas estranhos, sem explicação ou lógica, e quando atendidos geram nervosismo, tremores, mudança de tom de voz, ansiedade evidente e saída do ambiente. 

•Mudança de comportamento e de atitudes no dia a dia.  

•Mudança no ritmo de horário, de chegar ou sair de casa. 

•Disfunções sexuais: podem ter como causa a culpa, dor na consciência, etc. 

•Sugestão, que não médica, do início de uso do preservativo. 

Matéria publicada na Revista Interativa por João Rennato 28/11/2011

Outros textos disponíveis para leitura: 

Adolescência -  Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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