A idade já não faz tanta diferença. 

Idosos e jovens têm cada vez mais interesses em comum e gerações com mais de 60 anos de diferença já não parecem distantes. 

"Já fui com ela para Pousada do Rio Quente, Rio Grande do Sul e até Argentina". Essa frase poderia muito bem ter sido tirada de uma conversa entre jovens amigas. Mas, na verdade, se refere às férias de Iara Cristina Alves Fernandez, 22 anos, com sua avó Alzira Alves, 75 anos. 

Num tempo em que os programas preferidos pelos jovens são freqüentar raves e fazer rapel em Brotas, ainda há espaço para atividades entre netos e avós. Os encontros não são apenas obrigações como o almoço de Domingo. São mais espontâneos, como um cinema no Sábado à tarde ou viagem de férias. 

Antonia Trevisan, de 72 anos, tem netos de duas gerações e tem um tipo de relacionamento específico com cada uma. "Acompanho meu neto de 7 anos nas aulas de judô e natação. Eu ajudo na lição de casa e ainda temos tempo para brincar", conta ela. "Com meus outros netos, de 18 e 21 anos, a coisa muda: vamos ao cinema, teatro e shows. É um programa entre amigos. Até vôlei jogamos juntos". 

O relacionamento entre avós e netos sempre foi mais descompromissado que a relação entre pais e filhos. A diferença é que, atualmente, o convívio se dá de forma muito menos cerimoniosa do que acontecia quando os atuais avós eram netos. "Minha avó era carinhosa e eu passava os dias na casa dela, mas o respeito se traduzia num certo distanciamento. Hoje em dia os netos falam o que querem. A gente tinha vergonha de falar certos assuntos", lembra Antonia. 

Essa aproximação entre jovens e idosos pode ser vista como uma conseqüência do maior acesso, por parte dos idosos, às informações e novas tecnologias, através de meios como a televisão, livros, revistas e até a Internet. 

EVOLUÇÃO 

Para a psicóloga Olga Tessari, isso tem possibilitado uma evolução na forma do pensamento dos idosos. "É como se fosse uma revolução. Muitas vezes eu mesma me espanto com os comportamentos avançados e idéias mais liberais dos idosos em comparação com o comportamento retrógrado de muitos jovens!". 

Mas a intimidade com o mundo dos jovens não pode ficar apenas na aparência. A base desta aproximação se constitui de respeito. "Não é a roupa ou a gíria que aproxima os avós dos netos, mas o amor e o respeito mútuo", enfatiza Maria Luiza Castro, 52 anos. 

TABUS 

Apesar das mudanças de comportamento ocorridas nas últimas décadas, os tabus de hoje em dia são semelhantes aos das gerações passadas. Discutir assuntos como sexo e drogas ainda é complicado. 

A estudante Tatiana Martins de Aquino, 21 anos, conta que sua avó não se acostuma com as roupas usadas pelos jovens, fica preocupada com a segurança e estranha as novas formas de relacionamento com os meninos (o famoso "ficar"). 

Como preocupação não significa interferência e as diferenças entre as gerações são naturais e previsíveis, esses tabus não impedem que a convivência entre avós e netos seja saudável. 

É a troca de idéias e experiências de vida que fortalece as relações e faz com que uma viagem de férias com os avós não soe mais tão excêntrica. 

Consultoria: Olga Inês Tessari ( Psicoterapeuta e Pesquisadora) 

Matéria publicada na Revista Maioridade por Keli Vasconcelos em novembro/2006

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