Olga Tessari

Conflito de gerações

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

*Veja indicação de outros textos para leitura ou vídeos no final da página

Psicoterapeuta lista dez dicas sobre como conviver bem com adolescentes em casa 

Saber ao certo qual é o seu papel na educação dos filhos e netos pode ser um desafio na vida de muitas famílias. As diferenças de interesses e culturas, especialmente com os adolescentes, podem gerar conflitos, deixando os mais velhos numa saia justa, sem saber como contornar a situação. Consultamos uma especialista para entender melhor como se comporta o jovem, o papel dos avôs e dos pais no seu processo de desenvolvimento e como evitar batalhas em casa. 

A adolescência é, geralmente, uma fase complicada na vida de todos, do próprio jovem e das pessoas que o rodeiam. Segundo a psicoterapeuta Olga Tessari, para conviver bem com um adolescente, é importante que o bom relacionamento venha desde cedo. "Ele está em fase de construção da sua própria identidade e, para isso, precisa quebrar os paradigmas, se despir dos valores que adquiriu até então. Valores esses que os pais passaram a ele. Para pais e avôs terem uma boa relação com um adolescente, precisam criar esse contato positivo desde cedo. Uma relação gostosa na infância continua ao longo das outras fases da vida", explica ela. 

E qual é o papel dos avôs nesse momento? 

A chamada segunda geração é aquela que faz jus ao famoso ditado "os pais educam, os avôs deseducam". Eles, que já passaram da fase de educar os filhos, agora têm a missão de curtir os netos. "Muitos filhos não entendem porque seus pais insistem tanto para que tenham filhos também. É justamente por isso: a função dos avôs é paparicar, mimar os netos. Eles já passaram da fase de educar. Com os netos, podem viver tudo aquilo que quiseram e não puderam viver com os filhos", diz Tessari. Mas, e quando os adolescentes são os filhos? 

Conflitos entre as gerações ocorrem. Afinal, os tempos mudaram, os costumes e a forma de educar também. "Os pais e avôs têm que entender que a realidade é diferente hoje. Eles têm todo o direito de dizer o que pensam a respeito, o que gostam e o que não gostam, mas em hipótese alguma devem afastar-se deles por comportarem-se de forma que desaprovam. O adolescente é um reflexo de toda educação que teve até então. Esses adolescentes contestam, mas aceitam. Caso contrário, ele não se sentirá amado e, consequentemente, será ainda mais revoltado com os pais", diz Olga Tessari. 

Na hora de educar ainda existe uma palavrinha que os jovens demonstram certa dificuldade para compreender: limite. Olga Tessari explica que as regras não devem apenas ser impostas, mas explicadas. "A relação bem construída com o jovem coloca a necessidade de imposição de barreiras na adolescência de lado. Ele vai entender o que deve ou não fazer, o que seus responsáveis aprovam e desaprovam", esclarece a psicóloga. 

Mas e quando acontece de os avôs acabarem sendo deixados, pelos pais, com a obrigação de cuidar da criação dos netos? "O avô é naturalmente mais condescendente que o pai. Ele se vê na função de educar, mas, ao mesmo tempo, quer continuar exercendo seu papel de avô e deseducar o neto. Assim, o adolescente deixa de enxergar o extremo daquilo que é permitido. Crianças criadas com os avôs têm muito menos regras do que aquelas que foram criadas pelos pais", completa Olga Tessari. 

A questão dos limites, no entanto, não esbarra somente no quesito comportamento. Para muitos pais, o descontrole financeiro do filho adolescente pode se tornar uma dor de cabeça. "O problema com os gastos na adolescência vem da criação do jovem. Quando criança, ele pode fazer tudo, comprar o que quisesse e, de repente, quando cresce um pouco, encontra um monte de barreiras. É claro que ele não vai concordar. A educação financeira deve começar desde cedo, com os pais dando à criança e ao jovem responsabilidade sobre o que gasta. Se os pais satisfazem sempre todos os desejos do filho, isso é ruim. O mundo não funciona desse jeito, ouve-se muito não", alerta Tessari. 

A diferença de idades pode ser um problema no convívio entre os mais jovens e mais velhos, mas pode também ser a solução. "A maturidade dá mais paciência, compreensão, entendimento. O pai jovem muitas vezes se projeta no filho e isso gera uma série de conflitos. Há exceções mas, geralmente, quando o pai já é mais maduro, consegue entender melhor os experimentos da adolescência", finaliza a psicóloga Olga Tessari. 

Criar filhos e manter um bom relacionamento com os netos não é a missão mais simples de todas. 

Para isso, Olga Tessari listou 10 dicas sobre como manter uma relação saudável com o jovem. 

Seguem abaixo: 

•Não sucumbir aos desejos dos filhos e às pressões que eles exercem 

•Saber colocar limites claros 

•Sempre explicar o motivo do limite porque, mesmo que ele não concorde, vai entender o motivo da privação 

•Ser um pouco flexível, entender que você foi educado de uma forma lá atrás e que, hoje, as coisas mudaram. 

•Conhecer as amizades do filho ou neto 

•Permitir que eles se divirtam e conhecer os lugares para onde eles saem 

•Permitir que eles façam suas próprias escolhas. A função dos pais é criar os filhos pro mundo; ensiná-los e, não, superprotegê-los 

•Evitar comportamentos repressivos em situações em que ele se mostra honesto 

•Saber ouvir o adolescente, entender os motivos dele 

•Explicar os motivos de serem contra um determinado comportamento e deixar para ele a responsabilidade de assumir as consequências quando tiver maturidade para tanto. 

Matéria publicada no Site Mais de 50 por Ilana Ramos em 04/04/2011

Outros textos disponíveis para leitura: 

Idosos -  Adolescência -  Amigos/Grupos -  Ansiedade - Problemas de Relacionamento - Medos - Pais e Filhos - Autoestima - Depressão

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