Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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O abalo psicológico inevitável depois de ser demitido pode prejudicar
uma recolocação.
Ele é inevitável - mas não infinito
Andrea foi surpreendida por uma demissão. "Fiquei chateada alguns dias,
mas depois sabia que tinha que me levantar e correr atrás de novas
oportunidades"
Dizem que, para perder um emprego, basta tê-lo. Mesmo sabendo que, muitas
vezes, as demissões acontecem mais por força de circunstâncias como
crise e reposicionamento estratégico, é impossível não receber o bilhete
azul sem ter o ego arranhado.
"Demissão acontece com quase todo mundo. Não é demérito ou indício de
caráter. Ninguém deveria ter vergonha de se encontrar nesta situação",
defende a psicóloga Olga Tessari. Apesar da visão otimista, ela admite
que as pessoas, no período imediatamente seguinte à demissão, podem se
dar o direito de ter momentos de tristeza. "Todos podemos ficar tristes,
chorosos, abatidos e passar por um período de revolta. O que importa é
que isso seja passageiro", aponta.
O estudante de direito Jayme Borges, 30, passa por esta fase complicada.
"Eu me sinto um lixo quando sou dispensado. Recentemente, mudei de profissão
por achar que a advocacia era mais estável, mas acabei de ser demitido.
É um período muito complicado." Diante da sensação de rejeição e fracasso,
Jayme não costuma nem sair de casa. "Fora a questão financeira, não quero
encontrar ninguém quando isso acontece", revela.
Ele não está sozinho. Segundo Olga Tessari, muitos têm a mesma reação
e podem ser prejudicados mais do que imaginam com essa atitude. "Se você
volta a ter vida social e conta para os amigos que se desligou da empresa,
pode até encontrar emprego mais rapidamente através de uma indicação."
Emoções à flor da pele
A consultora de gestão Fádua Sleiman afirma que a melhor maneira de se
reerguer é deixar passar o momento da avalanche de emoções, que ocorre
após a dispensa, e raciocinar qual será o próximo passo. "Depois do desespero
inicial muito comum, devemos tentar nos acalmar e retomar os contatos.
É essencial que as pessoas saibam que você quer voltar para o mercado de
trabalho."
Foi exatamente o que fez a supervisora financeira Andréa Oliveira após
perder o emprego no período da crise global de 2009. "Eu fiquei bem
surpresa. Gostava muito da empresa e do trabalho que eu desenvolvia lá.
Fiquei chateada alguns dias, mas depois sabia que tinha que me levantar
e correr atrás de novas oportunidades", diz Andréa, que retomou contatos
profissionais antigos e começou a selecionar empresas para enviar seu currículo.
Conseguiu uma recolocação em alguns meses.
Ajuste financeiro
Luciana Monteiro foi demitida às vésperas de seu casamento. Permitiu-se
ficar chateada por dois dias. "O problema é que a palavra 'desempregado'
vem carregada de muito preconceito. É como se fosse uma imagem negativa
sua", admite. Andréa afirma que a situação mexe com a autoestima de qualquer
um. "É inevitável se sentir diminuído. Além de tudo, precisamos mudar o
estilo de vida. Deixar de viajar e de ter certas regalias que nos deixam
felizes em razão do ajuste financeiro que precisamos fazer." Ajuste este
que não pode ser adiado por muito tempo.
A secretaria Luciana Menegon Monteiro passou por isso. Prestes a
casar, ela foi dispensada e se viu cheia de dívidas e sem fonte de renda.
"A empresa fechou e fomos todos demitidos. Fiquei sem emprego de uma hora
para outra. Eu me permiti ficar triste por dois dias. Aí resolvi que precisava
arrumar outro emprego com urgência. Nunca tinha deixado de pagar minhas
contas e não queria que isso acontecesse", lembra Luciana. Luciana fez
algo que não indica para ninguém. "Aceitei o primeiro emprego que apareceu.
Não era minha área e eu não tinha nada a ver com a empresa. Fiquei duas
semanas. Depois disso, aprendi que temos que ser seletivos mesmo estando
desempregados."
"Isso realmente é um erro", afirma Fádua sobre aceitar a primeira
oportunidade de emprego. Segundo a consultora, o tempo médio de recolocação
no mercado atualmente é de seis meses. "Como é um tempo razoável, aconselho
todos a terem uma poupança para tempos difíceis. Se você tiver se preparado
para isso, vai enfrentar muito menos dificuldades financeiras."
A secretaria Luciana conta que, além de entrar em sites que apresentavam
oportunidades de emprego e comprar jornais, ela começou a visitar pessoalmente
as empresas para deixar seu currículo. "Claro que tomei muitas portas na
cara, mas isso nunca me desanimou. Estava focada em conseguir um bom emprego.
Durante este período, descobri uma autoconfiança que nem eu mesma sabia
que tinha. Deu super certo, no meu caso."
Estudar, sempre
Ela, que nunca teve vergonha de estar desempregada, procurou também se
manter atualizada e foi atrás de cursos que pudessem acrescentar em
seu currículo. "Estudar é uma obrigação de quem está desempregado e de
quem tem emprego também. Dados mostram que uma pessoa com alta empregabilidade
faz cerca de seis cursos por ano", revela Fádua.
Segundo o psicólogo clínico e doutor em Neurociências e Comportamento
pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Julio Peres,
estudar tem outros benefícios também. "A disponibilidade ao aprendizado
confere um estado de ânimo saudável e desarticula a autovitimização, que
só leva ao sofrimento", diz. "A maturidade se relaciona indiretamente com
o passar do tempo e diretamente com o aprendizado que as experiências trouxeram."
O que fazer?
Veja atitudes que devem ser priorizadas após uma demissão, de acordo com
os especialistas consultados pelo iG Fádua Sleiman, Olga Tessari e
Julio Peres.
•Entenda que ser demitido não é uma fraqueza e nem, necessariamente, sinal
de incompetência
•Tente entender o motivo da demissão para não cometer os mesmos erros
no futuro
•Se a culpa não for sua, entenda que a vida é assim e que ficar se
lamentando não ajuda
•Aproveite para passar mais tempo com sua família e amigos e fortalecer
sua autoestima
•Reveja seus gastos. Se for o caso, renegocie dívidas antes que elas se acumulem
•Não feche as portas em definitivo na empresa da qual foi demitido
•Procure cursos de reciclagem. Muitos são gratuitos e bons
•Atualize seu currículo e comece a enviá-los.
Para procurar oportunidades, vale ler o jornal ou assinar algum site especializado
em recolocação profissional, além do networking profissional que você já
tenha
Matéria publicada no site Ig por Danielle Nordi em 31/08/2011
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