Entrevista com Dra Olga Inês Tessari
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Pedofilia agride as regras da sociedade
O pedófilo não se importa com sua vítima. O que vale é consumar seus desejos
mais estranhos.
A pedofilia é um mal que assola a nossa sociedade há tempos e ocorre
em todas as classes sociais, raças e níveis educacionais. Um transtorno
sexual do ser humano, em geral dos homens que sentem atração por crianças
pré-púberes e por pré-adolescentes, abaixo de 14 anos, causando-lhes sofrimento
e humilhação sem o seu consentimento.
Clinicamente, a pessoa pode ser considerada como pedófila apenas
pela presença de fantasias ou desejos sexuais, mas com a diferença de ir
em busca de satisfazer esses desejos. Seja pelo contato físico, como forçar
relações sexuais, na qual usa de violência física ou faz ameaças verbais,
ou sem o contato físico, que consiste em ficar de longe apreciando crianças
e jovens nuas, etc.
Em geral, a pedofilia ocorre em casa com familiares ou pessoas próximas,
como tios, primos, amigos, etc. Porém, dos casos tratados em consultórios
ou clínicas médicas, quem mais abusa é o próprio pai ou o padrasto. “Sofri
desse mal quando eu tinha 6 anos. Meu pai era aposentado na época e minha
mãe trabalhava em dois empregos, por isso ficava só em casa com ele. Graças
a Deus ele não abusou sexualmente de mim. Mas me forçava a tirar a roupa,
a fazer poses sensuais para ele se masturbar. Com o tempo, começou a fazer
sexo oral em mim e me ameaçava a fazer nele também”, relata Amanda Ramos
de Oliveira (nome fictício), 25 anos.
Muitas vezes o problema está nos pais que não acreditam no que a criança
diz. Isso gera danos emocionais altíssimos, além de uma série de traumas.
“As vizinhas suspeitavam do que estava acontecendo e avisaram minha mãe,
que considerou tudo como intriga. Minhas amigas não iam mais em casa brincar
comigo. Sentia-me muito solitária. A escola, nossa, era o meu refúgio.
Resolvi contar para minha mãe que não acreditou em mim. Cresci com esse
sentimento de culpa e como qualquer adolescente normal, não me masturbava
porque vinham sempre as cenas na minha cabeça. Lembro-me que terminei o
meu primeiro namoro porque não agüentava a sensação do meu namorado passando
a mão em mim. Hoje, tem horas que ainda travo, mas o maior trauma foi deixado
pela minha mãe”, finaliza Amanda.
Casos assim são freqüentes no cotidiano e nem sempre as pessoas percebem
ou fingem não perceber. É raro encontrar mulheres que pratiquem a pedofilia,
mas elas existem, só que são mais difíceis de detectar. Foi o caso de Marcelo
dos Santos Filho (nome fictício), 32 anos. “A empregada me despia e fazia
sexo oral em mim, aos 8 anos. Não contei a ninguém porque era bom. Só mais
tarde percebi o mal que isso ocasionou. Namorei várias mulheres e pratiquei
sexo com elas, mas na hora H, não conseguia ejacular. Elas não entendiam,
me chamavam de gay ou achavam que não estava sentindo tesão. Demorei anos
para conseguir, até encontrar uma companheira que compreendeu o meu trauma
e me ajudou a superá-lo”.
Amanda e Marcelo, vítimas da pedofilia, não buscaram tratamentos
médicos por falta de orientação ou compreensão dos familiares e por medo.
Mas, tanto a criança quanto o pedófilo podem e devem ser tratados em longo
prazo. E isso só acontecerá quando seu comportamento gerar conflitos com
o parceiro sexual ou com a sociedade.
Para esclarecer mais sobre o assunto, a equipe de reportagem da revista
“Família In Foco” conversou com a psicóloga e psicoterapeuta, Olga Tessari.
Família In Foco:Como a psicologia define a pedofilia?
Dra. Olga Tessari:Para a psicologia, pedofilia é uma pessoa adulta
sentir atração por uma criança impúbere, que ainda não têm a parte
sexual desenvolvida. Anjinhos, seres sem maldade, sem pecados, vamos dizer
assim. É assim que o pedófilo vê as crianças.
Família In Foco: Existem casos de pedofilia com e sem o ato sexual em
si. Podemos afirmar que a partir do momento que ele sente a atração
e o desejo já é considerada pedofilia ou precisa ter o ato sexual?
Dra. Olga Tessari: Sentir atração é algo da natureza humana. A pessoa
pode sentir atração por qualquer coisa: há pessoas, por exemplo, que fazem
sexo com animais, têm atração por esse tipo de sexo. Mas sentir atração
é bem diferente de não ter controle sobre o seu desejo, são coisas completamente
distintas. Então, o pedófilo é aquela pessoa adulta que sente a atração
por crianças ou adolescentes, e que não consegue controlar o seu desejo
de jeito nenhum. O fato dele não conseguir consumar os seus atos, não quer
dizer que ele tenha controle sobre o seu desejo porque, mais cedo ou mais
tarde ele dará um jeito de satisfazê-lo, seja indo atrás da criança para
olhar através da fechadura ou criar situações para que ela fique nua na
frente dele, para que tenha o prazer de se masturbar na frente dela ou
manter um ato sexual. Enfim, a pedofilia está relacionada ao fato de sentir
desejo e de tentar consumá-lo diante de crianças ou adolescentes, sem o
consentimento deles. É uma violência!
Família In Foco: Alguns profissionais dizem que a pedofilia é o simples
fato de sentir atração e se relacionar com pessoas que sejam no mínimo
cinco anos mais novas, mesmo sendo adultas. É verdade?
Dra. Olga Tessari: Não necessariamente. Adultos que se relacionam
de livre e espontânea vontade, onde nenhum dos dois forçou a barra ou não
criou uma série de mecanismos pra seduzir o outro contra a vontade dele,
quando os dois têm interesse efetivo em manter uma relação sexual não é
pedofilia. Não é porque há uma diferença de idade que é pedofilia, pelo
contrário, são pessoas adultas que tem toda a parte sexual desenvolvida
e o livre arbítrio para decidir o que quer fazer com o seu corpo.
Família In Foco: A partir de qual idade é considerada pedofilia?
Dra. Olga Tessari: Depende muito de como a criança é criada. Temos
meninas de 18 anos que se comportam como crianças de 10, 12 anos. Assim
como há mulheres de 18 anos que já são adultas. Então, depende muito da
educação a que ela foi submetida, da própria preparação dos pais para a
sua vida adulta. Por isso, não é possível determinar uma idade específica,
mas é imprescindível analisar caso a caso.
Família In Foco: A pedofilia acontece geralmente em casa?
Dra. Olga Tessari: Muitas vezes sim. Em geral são padrastos que se sentem
atraídos pela criança ou pela pré-adolescente. Eles mantêm uma relação
sexual forçada com a menina ou, em muitos casos, ela não chega à penetração
propriamente dita.
Família In Foco: Então acontece mais com padrasto do que com o próprio
pai?
Dra. Olga Tessari: Sim, porque uma família comum, onde existe amor
entre pai e mãe, certamente existe o amor pelos seus filhos. Dessa forma,
o pai não consegue enxergar a filha como uma mulher, é uma relação assexuada,
em harmonia. Porém, muitas vezes há casais que se unem por outros interesses,
como status social, por exemplo ou mulheres que geram filhos só pra manterem
o casamento: daí não existe a harmonia, não há diálogo com os filhos, nem
orientação. Alguns pedófilos dizem assim: “a situação estava lá, a menina
estava seminua, numa posição sensual, me deu tesão”. É uma pessoa que não
sabe controlar os seus desejos. Em geral, uma pessoa com cultura e com
um conhecimento maior sobre as regras sociais, controla melhor o seu desejo,
sabe o que é certo e o que é errado, além de respeitar o outro.
Família In Foco: Como a criança é seduzida ou forçada a realizar
os desejos dos pedófilos? Quais artimanhas eles usam?
Dra. Olga Tessari: O pedófilo, por ser um adulto, sabe manipular
bem uma criança para atingir seus objetivos e age com uma criança que não
tem toda essa malícia e conhecimento. A criança se deixa envolver, se deixa
seduzir e às vezes até por conta da promessa de dinheiro, de um presente,
de uma série de coisas que a interessem. Em muitos casos, o pedófilo faz
ameaças para que a criança não relate o que está acontecendo para ninguém,
colocando medos nela e ameaçando-a caso ela conte algo para alguém.
Família In Foco: Existem vários perfis de pedófilos? A pessoa nasce com
esse instinto ou desenvolve com o tempo?
Dra. Olga Tessari: Em geral são homens solteiros, sem relacionamento
sério com uma mulher e que tiveram uma educação que promoveu uma baixa
estima. Eles não se vêem conquistando uma mulher adulta. Querem ter a sensação
de poder. Com isso, buscam mulheres de menor idade, meninas que sejam mais
fáceis de seren manipuladas, diferentemente de uma mulher que (na imaginação
dele) vai rejeitá-lo, dizendo não quero, não estou afim. Também existem
os homens casados, pessoas que não tem controle sobre os seus desejos,
que tem a necessidade de aliviar o seu desejo, custe o que custar. São
pessoas focadas em sexo, que praticamente só vêem prazer nisso e que agem
como animais, deixando-se levar pelo seu desejo instintivo animal, não
medindo as conseqüências, pouco se importando com a vítima de seu assédio.
Família In Foco: Podemos afirmar que a maioria dos casos de pedofilia
parte dos homens?
Dra. Olga Tessari: É difícil fazer esta afirmação, porque não há
dados precisos a respeito disso, não tenho conhecimento de uma pesquisa
fidedigna que comprove o número de mulheres pedófilas. O que se tem é o
conhecimento da ação de homens. Nós não sabemos a quantidade de mulheres
pedófilas que existem, porque provavelmente, elas agem de forma a ocultar
melhor esse comportamento. Talvez, por manipularem melhor esses meninos
ou atuarem de uma maneira que não haja provas que as incriminem. A mulher
oculta mais a sua sexualidade, ela toma mais cuidado, devido à repressão
da sociedade. No caso dos homens a pedofilia é muito mais comum, até porque
a sua sexualidade é mais "aceitável" socialmente. É comum ouvirmos homens
relatarem que não conseguiram conter o seu desejo sexual com outra mulher
de sua idade. Imagine então com uma criança que é mais facilmente manipulável!
Família In Foco: Qual a diferença de uma pessoa normal para a pedófila?
Dra. Olga Tessari: A pessoa considerada normal pode até sentir uma
atração e ter o desejo sexual por uma criança, mas ela vai agir de todas
as formas para conter o seu desejo sexual e jamais o demonstrará. O pedófilo
é aquele que não consegue conter o seu desejo, que vai dar um jeito de
pegar essa criança e fazer sexo com ela ou satisfazer as suas fantasias
sexuais. Na verdade as pessoas pedófilas não são consideradas normais de
acordo com as regras e normas da nossa sociedade atual. O que é normal
é você manter uma relação sexual com uma pessoa que tenha a parte sexual
plenamente desenvolvida, que seja tão adulta quanto você. Sentir atração
por crianças não é uma coisa considerada normal e nem natural em nossa
sociedade e é até considerada uma doença.
Família In Foco: Como é possível identificar um pedófilo?
Dra. Olga Tessari: É difícil detectar. O pedófilo pode ser seu melhor amigo,
uma pessoa maravilhosa, de boa convivência. Ele vai manifestar a pedofilia
num ambiente onde ninguém tenha conhecimento disso, justamente por saber
que não é legal, porque é proibido, por ser um ato ilícito. O que pode
acontecer com o passar do tempo, é ele relaxar e baixar a guarda, por ele
se sentir seguro de que consegue fazer aquilo sem ninguém perceber. Sem
querer, alguém pode descobri-lo com algumas fotos da internet ou criando
situações para ficar sozinho com a criança, por exemplo. Enfim, em algum
momento, ele vai deixar alguma pista, só que depois de muito tempo em que
ele já pratica o ato de pedofilia. Mas também é possível identificar um
pedófilo através da mudança do comportamento da criança envolvida: ela
evita ficar sozinha com ele, chora, fica agressiva ou se revolta quando
é forçada a ficar na presença dele ou evita qualquer tipo de contato com
ele na frente de outras pessoas.
Família In Foco: Hoje vemos meninas maquiadas, vestidas como mulheres.
Isso pode ser um atrativo para os pedófilos? Existe influência da
mídia?
Dra. Olga Tessari: As crianças seguem o modismo porque é da natureza infantil
imitar, é legal fazer o que a moça da televisão faz. Quando a criança
rebola, ela não o faz por maldade e não tem a malícia da mulher adulta
que está na televisão rebolando numa pose sensual para estimular a sexualidade
do homem. A criança não percebe toda essa sensualidade até porque ela ainda
nem sabe o que é isso. Ela considera que faz uma coisa engraçada, diferente,
e a encara como uma brincadeira. O problema está no adulto que vê a criança
rebolando! Ele vê a dança dela como algo sensual e sedutor. Daí ele imagina:
a criança está me seduzindo, me estimulando, ou seja, fazendo com que eu
sinta um desejo por ela. A malícia está no adulto, não na criança! Volto
a repetir que a criança imita o adulto e isso faz parte do seu desenvolvimento.
Mas é o adulto que deve saber conter o seu desejo e satisfazê-lo com outra
pessoa tão adulta quanto ele. Enfim, a culpa não é da mídia, mas dos pedófilos
que não sabem conter o seu desejo!
Família In Foco: As mães devem evitar o uso de roupas consideradas impróprias
para a idade? Devem reprimir quando tem uma atitude sensual, como
a dança falada anteriormente?
Dra. Olga Tessari: Não pode proibir, porque tudo que é proibido é mais
gostoso. O ideal é não estimular. A criança quer dançar? Deixe-a dançar,
mas não reforce esse comportamento dela com palmas e elogios. Quanto mais
você reforçar esse comportamento, mais ela vai repeti-lo! Agora quando
você demonstra não se importar muito, chega um momento em que a criança
se cansa e vai procurar outra atividade para fazer.
Família In Foco: Como a mãe pode ter a percepção de que a criança está
sendo abusada?
Dra. Olga Tessari: A criança normal sente prazer em ficar sozinha
com o pai, com a mãe, pois gosta de ter atenção exclusiva. Mas, a criança
que foi violentada ou que teve que se submeter a um adulto que passou a
mão na perna dela ou que a olha com um ar sensual, evita ficar sozinha
com essa pessoa. Vamos imaginar a seguinte situação: a mãe, a filha e o
padrasto (ou o pai) estão em casa. A mãe diz que vai ao supermercado e
a menina fica tensa, percebe que vai ficar sozinha com o homem na casa.
Então, ela diz para a mãe que quer ir junto com ela ao mercado. Se a mãe
perceber que a menina está evitando a situação de ficar sozinha com ele
em casa, então ela pode considerar que existe alguma coisa errada na relação
dela com o pai ou padrasto. Não necessariamente pode ser só por causa da
questão sexual, mas porque o homem pode ficar mais agressivo com ela quando
estão a sós, enfim, pode ser por outros motivos também. Então, a mãe deve
ficar mais atenta e observar melhor como a menina se comporta com o pai
ou padrasto no dia a dia.
Família In Foco: Qual a importância da orientação sexual para a formação
de uma criança e adolescente. As escolas podem auxiliar?
Dra. Olga Tessari: Seria ótimo se as escolas tivessem aulas de orientação
sexual. O maior problema são os pais, porque muitos deles têm preconceito
em relação a isso, e não sabem lidar muito bem com a própria sexualidade.
Eles conversam sobre tudo com os filhos, mas falham em relação à questão
sexualm. Contam às crianças aquelas historinhas de que o papai colocou
uma sementinha na mamãe, sendo que a criança já ouviu, ou pesquisou na
internet ou viu na televisão que não é bem assim que acontece. Dessa forma,
a criança terá informações deturpadas lá fora de casa, quando ela deveria
ser educada dentro de casa, com as informações corretas. Então, já que
a família não faz isso, seria muito bom que a escola assumisse esse papel
com a anuência dos pais.
Família In Foco: A partir de qual idade deve começar a orientação sexual?
Dra. Olga Tessari: O ideal é que se faça essa orientação antes das
crianças atingirem a puberdade, o que permitirá que ela saiba lidar melhor
com a sua sexualidade. Muitos pais consideram que falar sobre sexo numa
idade anterior à puberdade pode despertar o interesse da criança em fazer
sexo. Mas, pelo contrário, as pesquisas mostram que, quanto mais cedo os
pais orientarem o seu filho, melhor. E isso não é um fator que leva essas
crianças a praticarem sexo mais cedo. A criança não orientada cresce sem
malícia e ingênua. Qualquer coisa que falarem para ela lá fora, ela vai
acreditar porque a mãe não falou nada. Dessa forma ela acredita naquilo
que ouve fora de casa.
Família In Foco: O que leva a criança a não compartilhar a situação
com a família? E quando a faz, porque não acreditam?
Dra. Olga Tessari: A criança sente medo de revelar porque a pessoa
adulta de alguma forma a ameaça. E a criança, em algum momento da sua vida,
já deve ter passado por outras situações simples em que ela contou algo
para os seus pais e eles não acreditaram nela. Então, por tudo isso, ela
se cala. Eu conheço casos onde o padrasto molestou a menina e ela contou
pra mãe, que não acreditou na filha. E tudo por conta do receio de perder
o marido, por medo de perder a situação econômica que tinha com ele, porque
ela vinha de uma família muito pobre. Muitas vezes a mãe suporta aquela
situação por uma questão de conforto pessoal. Ela não leva em consideração
a própria filha!
Família In Foco: Qual o tratamento ideal para a vítima?
Dra. Olga Tessari: Quem passa por esse tipo de situação precisa de tratamento
psicológico para superar esse trauma e ter uma vida normal. A criança é
forçada a fazer o que ela não quer, é pressionada e chantageada. Ela percebe
até no próprio olhar do adulto que está fazendo alguma coisa errada, sente-se
impotente diante daquela situação. Isso gera baixa autoestima ou um comportamento
que, a longo prazo, pode desenvolver a depressão, timidez, isolamento,
a síndrome do pânico, porque ela começa a ter um comportamento de esquivar-se
de tudo que possa estar relacionado a sexo. Associa em sua mente que não
só aquele adulto, mas que outros também podem fazer a mesma coisa com ela.
Então ela evita ficar em ambientes que haja adultos, perde a confiança
neles. E, por fim, ela associa o sexo a uma coisa muito ruim, que deve
ser evitada a todo custo.
Família In Foco: Pedofilia é um transtorno?
Dra. Olga Tessari: Sim porque, como vivemos em sociedade, nós temos algumas regras
a cumprir. Na sociedade ocidental e cristã como a nossa, a regra é fazer
sexo entre adultos. Crianças são anjinhos, você não pode tocar. A partir
do momento que uma pessoa transgride essa regra, isso significa que ela
não consegue se adaptar as regras sociais. Ela é uma pessoa com transtorno,
pois não contém seus impulsos. Digamos, guardadas as proporções, é como
se fosse um psicopata, que faz o que quiser sem levar em consideração o
que é o certo ou o errado, que mata, rouba, enfim, faz aquilo que vem na
sua cabeça, não tem controle algum sobre si. Para viver em sociedade, você
precisa ter controle dos seus impulsos.
Família In Foco: O pedófilo tem cura?
Dra. Olga Tessari: Tem. É um tratamento rigoroso, de longo prazo, com
psicólogo e psiquiatra. Se essa pessoa está disposta a se submeter
ao tratamento, o resultado é positivo.
Família In Foco: Com a Internet aumentou o número de pornografia infantil?
Dra. Olga Tessari: Não. A pornografia infantil sempre existiu. O
que nós temos hoje é um acesso mais fácil por conta dessa nova ferramenta,
o que também torna mais fácil de identificar os pedófilos. Antes eles eram
mais ocultos, ou seja, pessoas solitárias que davam vazão ao seu desejo,
aprontavam e ficava por aquilo mesmo, sem consequências porque não havia
denúncia. Com o advento da Internet, os pedófilos podem trocar informações
entre si, há pessoas que vivem às custas do pedófilo, que fazem uma séries
de vídeos, vendem e ganham muito com isso, pelo próprio interesse do pedófilo.
Ou seja: há mais exposição, levando à impressão de que há mais pedófilos
do que antes. O que temos, hoje em dia, são mais denúncias que levam a
encontrar os pedófilos!
Família In Foco: Você aconselha os pais a instalarem programas que proíbam
o acesso a conteúdos inadequados?
Dra. Olga Tessari: É bom que os pais instalem esses programas, quando
têm crianças em casa. A internet expõe o sexo de maneira equivocada. Possui
vídeos sadomasoquistas, de mulheres que se comportam como objetos sexuais.
Ter acesso a estes conteúdos é ensinar de forma errada ao seu filho sobre
o que é a sexualidade, além de permitir que a criança seja assediada por
pedófilos! É fundamental que os pais ensinem seis filhos a não conversarem
com estranhos na internet.
Família In Foco: Qual a mensagem que você gostaria de deixar para
os nossos leitores, os pais?
Dra. Olga Tessari: O mais importante é orientar seus filhos desde
pequenos. Os pais devem educar seus filhos de forma que eles não caiam
nas conversas dos adultos, que não conversem com estranhos e que sempre
mantenham um bom diálogo com os pais sobre tudo, inclusive sexo. Deve-se
falar da sexualidade como algo normal, natural e saudável. De preferência
antes da puberdade, não banalizando o sexo, como é feito ultimamente. Quanto
mais cedo os pais satisfizerem as curiosidades sexuais de seus filhos,
muito melhor é, porque ao evitar de sanar as dúvidas das crianças, certamente
elas buscarão as respostas em outros locais, bem longe dos olhos dos pais.
Lembrar que sempre é mera curiosidade, pois as crianças estão aprendendo
a conhecer o mundo e cabe aos pais mostrar a elas como é esse mundo.
Matéria publicada na Revista Família In Foco por Elisa Limbeck
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