Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Até que ponto crianças e adolescentes são capazes de controlar o tempo
em dedicação aos jogos eletrônicos para que não saiam prejudicados?
Adentrar ao mundo virtual da ficção e mexer com o imaginário das pessoas
é o papel que os games sempre tem desempenhado ao meio do entretenimento.
Não há como negar que a combinação vibrante das cores, o virtual cada vez
mais próximo do real e o áudio hipnotizador proporcionado pelos jogos atraia
a participação, em sua grande maioria, de crianças e adolescentes das mais
variadas idades.
Foi na década de 80 que ocorreu a explosão dos jogos eletrônicos produzidos
pela marca Atari, cuja empresa dominou o mercado de jogos desse gênero
vendendo mais de 15.000 máquinas em menos de um ano. Desde então, juntamente
com o sucesso e o crescente número de adeptos aos games, começaram a surgir
também, os questionamentos: os jogos viciam ou não?
Para começar qualquer discussão referente ao assunto, vale lembrar que
o vício não é um mecanismo único e básico, podendo ser explicado e
rotulado de maneira simplória. Existe uma série de componentes que interfere
e influencia o comportamento de uma pessoa, até chegar ao ponto de ser
considerado como um viciado. O ser humano é possuidor de uma natureza própria
e cada um reage de forma diferente quando disposto a certos estímulos.
Se lhe for agradável, o desejo de querer repetir a experiência será inevitável,
assim como necessitamos dessa capacidade para comer, beber e fazer sexo
assegurando nossa sobrevivência para manter a espécie.
Entendamos então, que quando o assunto está focado ao vício e dependência,
estamos falando de comportamento repetitivo e destrutivo, relacionado
ao abuso de substâncias ou atividades que desencadeiam terríveis conseqüências
físicas e até mesmo sociais.
"Uma criança ou adolescente viciado em videogames e jogos eletrônicos
apresenta irritabilidade, tensão, desatenção, costuma afastar-se do
convívio social e familiar e torna-se agressiva e até violenta algumas
vezes, quando é proibida de jogar. Além disso, apresenta um mau desempenho
escolar por conta de não fazer as lições direito, por não prestar atenção
às aulas e por viver disperso em seu "mundo particular" dos jogos. Em geral,
ele só tem vontade de jogar e de falar sobre os jogos e todos os seus momentos
livres são passados diante da tela jogando" analisa a psicóloga e psicoterapeuta
da capital paulista, Drª Olga Inês Tessari. Em casos extremados, ela sugere
a procura por um profissional, "Se a família tenta por si mesma resolver
o problema, sem buscar ajuda profissional, muitas vezes colabora para que
o problema torne-se pior. O Psicólogo vai avaliar o histórico da família
e orientá-la sobre como agir para que sua ação seja efetiva na solução
do problema".
As explicações para esse comportamento devaneiam de muitos pontos
de vista; muitos acreditam ser fraqueza de caráter de pessoas que não são
capazes de assumir responsabilidades e que são auto-destrutivas. Outros
vão dizer que é falta de autocontrole e sinal de ignorância. Para alguns
psicólogos e psiquiatras trata-se de tendências e traços de personalidades
de pessoas que são facilmente viciáveis. Já para alguns estudiosos de linha
fisiológica, acreditam ser um problema genético-hereditário, enquanto para
os de raciocínio social afirmam ser uma situação culturalmente determinada.
Nos Estados Unidos, aproximadamente 8 em cada 10 crianças e adolescentes
asseguram jogar videogame ao menos uma vez ao mês. Com dados retirados
do portal terra.com.br, 25% dos entrevistados se assumem viciados em jogos,
enquanto 44% disseram ter amigos que são.
O tempo médio em frente à irresistível telinha dos jogos apontam crianças
usuárias entre 8 e 12 anos que jogam cerca de 13 horas semanais, e
adolescentes de 13 aos 18 anos totalizando uma freqüência de 14 horas.
Com estes dados, observa-se que 10% dos adolescentes americanos estão viciados
nos games, enfrentando problemas em suas vidas escolares e pessoais, onde
muitas vezes, reproduz na vida real, igualmente a última batalha de tiroteio
vivido no game. Certamente um jogador viciado em games de tiroteio não
seria tão habilitado em acertar no alvo se fosse colocado para demonstrar
na vida real. No jogo o que lhe é possibilitado é o desenvolvimento de
atenção visual, a cena já está decorada, os ataques, é um processo automático.
Para o professor Valdemar Setzer, da universidade de São Paulo, conhecido
como um dos grandes críticos e pesquisador sobre a influência da TV,
computador e os jogos eletrônicos na vida das crianças afirma "Os games
são um treinamento, jamais educação", explicando que todo treinamento precisa
ser juntamente estimulado e exercitado com outras atividades caseiras.
Completa ainda que, "Algumas pessoas acham que os jogos eletrônicos em
rede onde participam mais de um jogador promovem interação social. Isso
é falácia, pois essa interação não é real, é virtual. Isso pode obviamente
induzir uma dificuldade no relacionamento real, onde as pessoas encontram-se
frente-a-frente. A internet aumenta o isolamento social" discorre ele para
justificar o que as diversas mídias têm publicado nos últimos anos. Setzer
perpetua uma visão irredutível, o professor não deixa dúvidas: "Deixem
as crianças serem infantis, não lhes dêem acesso a tv, jogos eletrônicos
e computador".
Consta também, que os games não atraem somente crianças e adolescentes,
as faixas etárias atingem pessoas de 25 a 45 anos, como é o caso do
advogado Dr. Thiago Luís Revelles, 26, que dorme altas horas da noite para
ser o melhor no jogo, "Eu fico acordado até tarde para jogar, porque quando
você está concentrado, as horas passam sem que você perceba. Quero ser
o melhor e quanto mais eu jogo, mais quero aprender as técnicas, estratégias
e macetes para conseguir estar sempre entre os melhores". Quando questionado
sobre as conseqüências desse ato rotineiro, ele ainda confirma o possível
lado ruim desse prazer "se você não dorme bem, o seu dia será horrível.
Não apenas os fatores biológicos, mas também a maneira como você irá tratar
as pessoas" completa.
Por outro lado, pesquisas apuradas em Nova York, garantem que a aplicação
de jogos ativa a memória, principalmente para o público idoso. Curiosamente,
descobriu-se que o desempenho dos médicos cirurgiões adeptos aos jogos
é melhor que o de doutores que não jogam videogames. Outra visão positiva
é a do mexicano Guilhermo Orozco, mestre e doutor em educação pela Universidade
de Harvard e atualmente professor da Universidade de Guadalajara, que assegura
inteligência superior às crianças e adolescentes que apreciam tanto o videogame
quanto as que passam horas na internet em frente ao computador.
Para ele é possível unir tecnologia, os jogos e a internet a favor do
desenvolvimento de diferentes habilidades cognitivas, como dedução
e indução, antecipação de cenários e tomada de decisões, já que os jogos
desafiam a capacidade do jogador, onde não há todas as regras e que precisam
ser descobertas. Para isso é necessário ter hipóteses e ver se ela é correta.
Se não for, tem de fazer novamente até achar a regra para conseguir continuar
jogando. E é nesse momento que deve ser aplicado a intervenção pedagógica,
para permitir que o jogador possa aplicar o desenvolvimento dessa habilidade
em outras situações cotidianas da vida real. Orozco conclui ainda que,
os educadores associam a palavra videogame com tempo livre, desperdício
de tempo, influência negativa de violência e vício. Para que não haja dependência,
faz-se necessário a autonomia dos pais, que tem obrigação de ver e saber
o que é o videogame e perceber como seu filho se relaciona com ele, além
de supervisionar o tempo que a criança passa fazendo isso, diversificando
também a outras atividades caseiras.
A questão é que de uns tempos para cá, quase ninguém é normal, por
fim todo mundo tem uma 'sindromezinha', quer seja um distúrbio, um trauma,
quer seja stress. Todos têm um comportamento viciante e dependente, mas
a maneira de como isso é vivido por cada pessoa que difere a necessidade
de um tratamento ou não. Maus hábitos, compulsões e até fissuras agem no
mecanismo cerebral como o tal 'vício' que podem ser facilmente percebidos
na mania de comer chocolate, de navegar horas na internet, por corrida
de carros, lavar as mãos incessantemente e até mesmo o de brincar com videogames.
E se não for o vício por videogame certamente irá ser pela cachaça, cartas,
mulheres, drogas ou qualquer agente que libere a endorfina no cérebro.
Matéria publicada por Edla Okado - Comunicação Social - Jornalismo, 8º
período - Profª Selma Coelho
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