Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Desafio de morar sozinho requer muitas responsabilidade e organização
Morar sozinho para um jovem é a senha para a independência e liberdade.
Já para os pais pode ser uma irresponsabilidade, imaturidade, ou ainda
a afirmação de que é cedo para isso. O que ninguém discorda, porém, é que
essa mudança pode ser um passo decisivo na vida de quem busca andar com
os próprios pés.
A webdesigner e estudante Gisele Silva de Leles, de 24 anos, sempre
teve vontade de morar sozinha, também para eliminar as costumeiras "briguinhas
familiares", mas encontrou em uma necessidade profissional o trampolim
definitivo para consolidar seu projeto de vida de morar no centro de São
Paulo. "Eu só tomei coragem quando eu tinha 19 anos, morava em Suzano e
trabalhava em dois empregos, de manhã em Suzano e à tarde em Itaquaquecetuba
(cidades da grande São Paulo). Eu não conseguia conciliar o trabalho com
a possibilidade de entrar para a faculdade. Comecei, então, a procurar
um apartamento ou quitinete, me permitindo trabalhar e estudar ao mesmo
tempo. Após alugar uma quitinete larguei os dois empregos, juntei minhas
economias e mobiliei o lugar. Consegui um emprego logo e tudo deu certo,
me matriculei num cursinho e voltei a estudar", diz. Ela conta que o mais
complicado foi convencer os amigos e, principalmente, os pais, de que ela
estava fazendo a coisa certa. "Foi meio difícil para minha mãe aceitar
a minha ausência e encarar a minha nova fase de vida. Afinal os pais nunca
querem que agente cresça", afirma. Depois de ter vivido quatro anos essa
experiência, hoje ela se casou, mas garante que foi uma etapa positiva
em sua vida.
Já o webdesigner Vinicius de Oliveira Chagas, de 23 anos, que vive sozinho
a quatro anos, entrou nessa aventura meio que por acaso. De um concurso
no interior de São Paulo que o fez morar na casa da tia surgiu uma bolsa
para permanecer por lá, fazendo com que ele procurasse uma residência,
com a mãe passando o primeiro mês para "ajeitas as coisas" para ele, fato
que o deixou acomodado. "Durante esse um mês que minha mãe ficou em casa,
ela sempre queria me ensinar a fazer arroz, ou a lavar roupas, eu nunca
ligava muito, porque achava que ela não iria embora. Até que do dia pra
noite ela foi e eu me vi sem saber fazer nada. Então comecei a aprender
na marra, ia cozinhar feijão e perguntava para as meninas da minha classe
ou procurava na internet. Foi então que percebi que morar sozinho não era
tão aventureiro assim. Pelo contrário, você tem muito mais responsabilidades
do que aventuras", opina.
Para a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, são vários os motivos que
podem levar uma pessoa a querer morar sozinha, dependendo disso para o
possível sucesso dessa empreitada. "Se for uma opção pessoal, ela quer
ter a sua liberdade, a sua independência e está consciente dos problemas
e dificuldades inerentes a esta escolha", considera. "Quando é a necessidade
que leva a pessoa a morar sozinha, seja por conta de ter que estudar ou
de trabalhar longe de sua casa, nem sempre ela deseja morar só ou está
pronta para lidar com as dificuldades. Já para aquela pessoa que foge de
uma realidade ruim dentro de sua casa, qualquer situação é melhor do que
aquela em que vivia, embora ela pode vir a sofrer ainda mais por conta
de outros problemas relativos ao fato de não ter tido um planejamento para
esta mudança".
Prós e contras
Morar sozinho tem diversos benefícios, mas também muitas obrigações.
Para o jornalista Emerson Frossard Neto, de 27 anos, sendo três
vivendo sozinho em Niterói, após ter saído da cidade natal Rio Bonito (interior
do Rio de janeiro), a pior coisa (para eles e para muita gente ouvida pelo
Portal) é lavar a louça. "Também não é nada agradável pagar tantas contas.
Antes só tinha que arcar com a conta do meu celular, despesas com carro
e gastos do dia-a-dia. Agora tenho IPTU, condomínio água, gás, luz, telefone
fixo, celular, TV por assinatura. Às vezes me sinto um pouco sozinho também,
mas levo numa boa. Nada que uns telefonemas não resolvam", garante.
O ponto mais positivo para Gisele é a proximidade de sua residência
ao local de trabalho, de estudo, além facilidade de acesso a locais de
lazer e cultura e da possibilidade de manter a casa desarrumada, organizando-a
a hora que quiser. Mas faz uma ressalva importante: "Além da coragem é
preciso extrema confiança e equilíbrio para morar sozinho, pois não existe
ninguém além de você para bancar todas as contas. Na casa dos pais é tudo
mais fácil, pois são várias pessoas e cada um tem a sua responsabilidade.
Sozinho é você e Deus. Às vezes eu pensava: 'o que eu faria se ficasse
sem trabalho?'. Mas, por outro lado, é extremamente gratificante a experiência
de vida e responsabilidade que você adquire".
Refletir
Por tudo isso, a psicóloga Olga Tessari coloca a necessidade de se refletir
bem antes de tomar uma decisão dessa, vital para o andamento futuro
da própria vida. "Para que a experiência seja positiva, é preciso refletir
sobre os fatores que podem atrapalhar essa nova vida, tais como a solidão,
a desorganização, a falta de responsabilidade para com os gastos e com
os cuidados da casa, aprendendo a administrar o seu tempo para que mantenha
sua casa e suas coisas em relativa ordem", orienta.
E para quem já se decidiu por morar sozinho, aí vão algumas dicas dadas
por quem já está nessa estrada há algum tempo: "Verificar a proximidade
com utilidades públicas e domésticas, mercados, bares, padarias, pois,
eventualmente, quem mora sozinho come fora. Posto de saúde também, pois
se você ficar doente a mamãe não estará lá com o chazinho, e posto policial,
para a sua segurança. E um bom relacionamento com o porteiro, pois ele
sempre te socorre nos momentos de urgência, como indicar uma lavanderia
mais barata, trocar um chuveiro", elenca Gisele.
Neto avisa que os primeiros meses são difíceis e pede que todos tomem
cuidado com as contas, dos principais "vilões" apontados pelos entrevistados:
"Tem que ser organizado e ter grana para arcar com essas despesas todas".
Chagas sugere que se converse bastante com quem experimentou essa vivência,
assim como com amigos, pais. E finaliza de modo bem-humorado: "Leve sempre
essa frase com você: 'A toalha que você deixa em cima da cama depois do
banho, nunca mais vai voltar sozinha pro banheiro'".
Matéria publicada no site do Padre Marcelo por Rodrigo Herrero em Janeiro/2008
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