Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari
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Projeto de lei prevê até afastamento de pai que bate no filho
Cascudo, tapa, beliscão. Se você é adepto desses "recursos" na educação
das crianças, é melhor começar a se preocupar com os limites entre repreensão
e violência.
O projeto de lei que prevê punição para "castigo corporal ou tratamento
cruel ou degradante" passou ontem (22) pela última audiência pública
na Câmara, em Brasília, antes de seguir para votação. Isso deve acontecer
no próximo mês, mas ainda gera dúvidas nos pais e especialistas.
Está no Código Civil: "perderá por ato judicial o poder familiar o pai
ou a mãe que castigar imoderadamente o filho".
Mas afinal, o que é castigo moderado? "São dez chibatadas? É o cinto
do lado do couro ou do lado da fivela?", questiona a deputada e relatora
do projeto, Teresa Surita (PMDB-RR). "Hoje o pai dá uma palmada e vê que
deu certo. Amanhã ele não conversa mais com o filho, vai direto para a
palmada", completa. Entendimento diferente tem a psicóloga Olga Tessari.
"O limite é tênue, mas é o último recurso que você tem quando todos os
outros que utilizou falharam." "É preciso ter em mente que uma palmadinha
é uma coisa leve, não é violência" diz a psicóloga.
Para o juiz Reinaldo Cintra, que atua na área de infância e adolescência,
a indefinição do que é ou não agressão ainda vai gerar discussão, além
de efeitos não esperados. "Imagine o pai brigando com a mãe pela guarda
dos filhos. Você vai ter mais um elemento para um acusar o outro", afirma
o juiz.
ECA
Para reforçar o controle da Justiça, o projeto tem o objetivo de reformar
o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, futuramente, propor
mudanças no artigo do Código Civil que fala sobre os "castigos imoderados".
Mas esse não é o único ponto que gera dúvida. "As pessoas se perguntam:
a polícia vai entrar na minha casa? A resposta é não", diz a coordenadora
da campanha Não Bata, Eduque, Márcia Oliveira. Ela diz que o objetivo é
uma mudança de cultura, não punir os pais.
Cintra contesta. "É claro que vai ter uma consequência para os pais, uma
sanção. Senão, não era lei." Para o juiz, o estatuto e o código não
precisam de mudanças. "Eles já têm comandos suficientes para coibir esse
tipo de conduta", afirma.
O relatório final da Comissão Especial da Câmara que trata do assunto
está previsto para o dia 29 deste mês. Em seguida, o texto do projeto de
lei segue para o Senado. A reunião de ontem foi marcada pelo depoimento
de Renato Mello Martins, 31, que sofreu agressões dos oito meses de vida
aos 12 anos. "A criança cria um mundo doentio: se minha mãe me trata assim,
imagina outras pessoas."
Matéria publicada na Folha de São Paulo on line por Natália Cancian em
23/11/2011
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