Olga Tessari

O que dizer das novas avós?

Entrevista com © Dra Olga Inês Tessari

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Elas mudaram... 

O telefone tocou no final da tarde de quinta-feira. Era a Duda, minha neta mais nova, de 4 anos. Toda animada, contou a novidade: "Vovó, vou dançar na festa junina da escola no dia 7. Vou usar uma saia rodada colorida. Você vem pra me ver?". Fiquei com o coração apertado. Não podia ir. Moro a uns 300 km de distância, o dia da festa caía num sábado e tinha uma montanha de trabalho para entregar na segunda. Expliquei e acho que aceitou numa boa. Carol, a mais velha, de 6 anos, faz tempo que entendeu que, se a vovó não aparece num aniversário ou na apresentação de fim de ano, é porque está trabalhando. Mas, nessas horas, tudo que eu queria era ser uma avó à antiga, sempre disponível. 

Tenho certeza, porém, de que a gente não se curtiria tanto se as coisas fossem diferentes. O barato da nossa relação está nesse jogo aberto: sabem que tenho outros compromissos e nem sempre dá para nos vermos. Em compensação, quando dá, é para valer, com paparicação e conversa. É uma das maiores vantagens que as avós do terceiro milênio levam: como temos vida própria e fazemos mais o gênero figurinha difícil do que móveis e utensílios, a qualidade do relacionamento está acima de qualquer obrigação. Temos também mais a oferecer do que nossa simples presença. Nada disso acontece por acaso, se bem que a sorte tenha a ver – a sorte que nos fez nascer na época certa. Porque, lembra a psicoterapeuta Lidia Aratangy, co-autora de O Livro dos Avós, pertencemos à primeira geração de mulheres liberadas que foram à luta por uma carreira e tiveram filhos a partir dos anos 70. 

Não chego a ser uma mistura de Vovó Donalda com Dercy Gonçalves, como minha contemporânea Rita Lee se descreve, mas tenho lá meus momentos. Considerei um elogio daqueles de lavar a alma o que Carol me disse, há dois anos. Estávamos deitadas contando histórias. Eu contava um pedaço, ela continuava, e assim por diante. De repente, falei alguma coisa bem absurda sobre uma família de pica-paus que tínhamos inventado e minha princesinha caiu na risada: "Vovó, você é muito maluca!" Adorei. Poucas coisas são mais gratificantes do que ter o que a dra. Lidia chama de "um mundo de experiências diferentes" para estimular a imaginação de uma criança e conseguir esse tipo de retorno. O que, com raríssimas exceções, avós de outras gerações não conheceram porque elas e os netos falavam línguas diferentes. 

Dona Benta não mora mais aqui 

Significa também que temos pela frente um desafio sem precedentes. Antigamente, esperava-se que uma avó fosse parecida com a Dona Benta: doce como as receitas que preparava, sessentona, possuidora de fascinante sabedoria, mas que não ultrapassava a porteira do Sítio do Pica-Pau Amarelo. No início do clássico Reinações de Narizinho, da década de 20, Dona Benta aparece assim: "Numa casinha branca (...) mora uma velha de mais de sessenta anos eu não me sinto velha e tenho certeza de que muitas avós de hoje também não. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando: – Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto..." 

Engana-se quem pensa isso. Segundo Monteiro Lobato, Dona Benta é a mais feliz das vovós, pois tem a netinha para preencher os seus dias... Era mais do que suficiente. Hoje, se você não for o que se convencionou chamar de "uma avó moderna", vai levar um baile. Crianças de 4 anos sabem ligar e desligar todos os aparelhos eletrônicos da casa, pilotam controles remotos como se tivessem nascido com eles nas mãos, ficam antenadas no noticiário da tevê, são capazes (como a Carol fez várias vezes) de ensinar ao motorista do táxi o caminho até o consultório da médica, pedem (do jeitinho que a Duda me pediu) para você tirar uma foto e mandar pelo computador. 

Mais cumplicidade 

Não é necessariamente que a meninada de agora seja mais esperta (embora eu, como toda avó, ache as minhas uns gênios). Da mesma forma que no nosso tempo de criança, para os nossos netos tudo também é novo, digno de atenção. O problema está no fato de que este "tudo" tornou-se infinitamente maior. Suas chances de ter um bom diálogo dependem do quanto domina o mundo que se abre para eles. Por isso, para a maioria das mulheres que foram mães que trabalhavam (e agora são avós que trabalham ou recém-aposentadas), criar cumplicidade com os netos é até fácil. Sem contar que o tipo de vida que levamos nos tornou mais cheias de energia. Um estudo feito por geriatras ingleses descobriu que, em média, nos sentimos 20 anos mais moças, independentemente de idade. No que me diz respeito, acho que estão cobertos de razão. 

E sabe o melhor? Ter netos faz bem à saúde e prolonga a vida, segundo o dr. Renato Maia Guimarães, da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria. Porque a sensação de sermos importantes para eles é um estímulo como poucos. Também concordo. E foi Carol quem me fez ver isso muito claramente. Sentada no meu colo, assistia a um desenho na TV. Não me lembro qual, mas me lembro como seu corpinho se contraiu na cena mais triste da história, quando a heroína (uma menina de 4 anos, sua idade na época) perde a avó. "Ela morreu, não foi, vovó?", perguntou baixinho. Tentei tratar o assunto com a maior naturalidade possível: "Foi sim, querida. Mas já era beeeeemmm velhinha". Depois de alguns segundos, ela voltou para mim aqueles grandes e brilhantes olhos castanhos: "Vovó, você já é beeeemmm velhinha?". Foi a mais linda e sincera declaração de amor que ouvi na vida. Garanti que não– porque era verdade e porque naquele momento me sentia ao mesmo tempo quase uma adolescente e mais avó do que nunca. 

A pergunta também me fez pensar na minha avó, que, como minha neta, se chamava Carolina e comigo nada tinha em comum além do DNA. Não chegou à minha idade; mas, ao morrer, com quase 60 anos, já era bem velhinha. Casou-se com o primeiro namorado, teve cinco filhos e, depois disso, nenhuma vida própria. Cozinhava divinamente e a máquina mais sofisticada que usou era a de costura. Fotos antigas mostram uma senhora gordinha, de óculos, cabeça quase branca, expressão severa – não porque fosse assim, mas porque detestava tirar retrato. 

Só depois de adulta, ouvindo histórias sobre ela, me dei conta de que tinha sido mulher de grande senso de humor. Alguém, enfim, que não cheguei a conhecer porque o fato de ser sua neta punha entre nós uma barreira de "respeito" que aumentava o abismo das gerações. Imagino que teria uma síncope se imaginasse que, um dia, eu me comportaria tão "mal" – por exemplo, tomando banho com as minhas netas. 

Por outro lado, aposto que se deliciaria se soubesse que os filhos não tinham razão quando faziam a eterna reclamação: "Mãe, você vai estragar esses meninos". Especialistas dizem que não é bem assim. Desde que não passe por cima dos pais, é até bom a vovó de vez em quando liberar geral. Para a educadora Tânia Zagury, os mimos fortalecem a auto-estima das crianças. 

A psicoterapeuta Olga Tessari concorda: é importante que elas tenham alguém para lhes conceder alguns caprichos. É importante, também, para as avós, que já tiveram de ser rígidas ao educar os filhos. 

Matéria publicada no site Artigos Brasil por Simone Gonçalves em 1/8/2008

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